Animais

Renas usam visão ultravioleta para encontrar comida no inverno

Santiago Ferreira

Na extensão gelada do inverno ártico, onde a paisagem está envolta em neve e escuridão, as renas possuem uma adaptação notável que ajuda na sua sobrevivência: a capacidade de ver a luz ultravioleta.

Esta característica única permite que as renas localizem a sua principal fonte de alimento, o líquen, nos rigorosos meses de inverno.

Sobrevivência no Ártico

Pesquisadores de Dartmouth e da Universidade de St. Andrews, na Escócia, lançaram luz sobre o antigo mistério de por que as renas, incluindo o lendário Rudolph, podem perceber a luz ultravioleta (UV). O estudo, liderado pelo professor Nathaniel Dominy, revela um aspecto fascinante da biologia das renas.

“As renas são tão legais, mas muitas pessoas só pensam nelas no Natal”, disse Dominy. “Agora é um bom momento para alertar as pessoas sobre seu extraordinário sistema visual.”

A conexão do líquen

Musgo de rena, ou Cladonia rangiferina, não é musgo, mas um tipo de fusão algas-fungos conhecida como líquen. Este líquen forma extensos tapetes nas latitudes setentrionais e é fundamental para a sobrevivência das renas, tanto que o seu nome deriva do termo científico para renas, Rangifer.

Nas montanhas Cairngorms, nas Terras Altas da Escócia, onde vive o único rebanho de renas da Grã-Bretanha, os investigadores observaram a dependência das renas em C. rangiferina, especialmente durante o inverno. Esta preferência por uma fonte alimentar única é incomum entre grandes mamíferos.

Luz ultravioleta

Os pesquisadores descobriram que C. rangiferina e algumas outras espécies de líquenes absorvem a luz ultravioleta.

Embora invisíveis ao olho humano contra o pano de fundo nevado, esses líquenes aparecem como manchas escuras distintas na visão das renas, tornando-os mais identificáveis ​​na vasta paisagem branca.

Como as renas veem o mundo

“Obter uma aproximação visual de como as renas podem ver o mundo é algo que outros estudos não tinham feito antes”, disse Dominy, que publicou um artigo em 2015 sobre como o nariz vermelho de Rudolph teria funcionado como um farol de nevoeiro eficaz na neblina do inverno.

“Se você conseguir se colocar no lugar deles olhando para esta paisagem branca, você iria querer um caminho direto para a sua comida.”

“As renas não querem desperdiçar energia vagando em busca de comida em um ambiente frio e árido. Se conseguirem ver os líquenes à distância, isso lhes dá uma grande vantagem, permitindo-lhes conservar calorias preciosas numa altura em que a comida é escassa.”

Adaptações visuais

As renas não só têm capacidades visuais únicas, mas também sofrem mudanças sazonais nos seus olhos. Durante o inverno, seu tapete (uma camada refletora de luz) muda de um tom dourado para um azul vivo. Acredita-se que esta transição melhore a visibilidade com pouca luz nos invernos polares.

“Se a cor da luz no ambiente é principalmente azul, então faz sentido que o olho realce a cor azul para garantir que os fotorreceptores das renas estejam maximizando esses comprimentos de onda”, explicou Dominy.

O tapete azul também permite que cerca de 60% da luz UV alcance a retina, pintando o mundo de inverno em tons de roxo, semelhante a uma sala sob luz negra.

Além da percepção humana

Este estudo oferece uma resposta à razão pela qual as renas, apesar de serem animais diurnos do Ártico, evoluíram para perceber a luz UV. Parece que a sua visão está especialmente adaptada para distinguir fontes de alimento, como o líquen, do ambiente reflexivo coberto de neve.

Dada a importância dos líquenes na sua dieta, é possível que os olhos das renas sejam otimizados para destacar este alimento básico na época do ano que seria mais difícil de encontrar, observaram os investigadores.

Embora a rena de nariz vermelho possa guiar o trenó do Papai Noel com seu nariz luminoso, são, na verdade, os olhos azuis das renas que desempenham um papel crucial em sua sobrevivência. Estes olhos, sintonizados com um mundo além da percepção humana, permitem-lhes localizar eficientemente a sua comida numa paisagem onde cada caloria conta.

O estudo está publicado na revista i-Percepção.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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