Um estudo recente lança nova luz sobre a importância vital do gelo marinho para os pinguins Adélie, especialmente durante a sua fase anual de muda.
Annie Schmidt da Point Blue Conservation Science, revelou um gargalo preocupante no ciclo de vida destes pinguins que provavelmente será intensificado pelos efeitos contínuos das mudanças climáticas.
O processo de muda
Descobriu-se que o processo de muda, um momento crítico em que os pinguins Adélie trocam e renovam as penas, ocorre predominantemente no gelo marinho.
Esta preferência torna este fenómeno difícil de observar, mas Schmidt e a sua equipa fizeram progressos ao marcar 195 pinguins adultos com gravadores de mergulho geolocalizados durante um período de dois anos.
Os dados recolhidos a partir destes dispositivos, que monitorizaram o comportamento de mergulho das aves entre 2017 e 2019, foram fundamentais para identificar quando e onde os pinguins mudam.
Insights críticos
A pesquisa descobriu dois locais principais de muda no Mar de Ross e observou uma tendência preocupante.
Imagens de satélite e dados de detecção remota indicam uma diminuição significativa na concentração de gelo marinho nestas áreas, com a área de muda primária mostrando um declínio consistente desde a década de 1980.
Impactos diretos
O estudo também estabeleceu uma ligação entre as taxas de retorno dos pinguins às colónias de reprodução e a disponibilidade de gelo marinho nos seus habitats de muda.
Uma redução de 10% na concentração de gelo marinho correlacionou-se com uma queda de 2,4 a 4,8% no número de pinguins que regressaram. Esta estatística destaca o impacto direto que a diminuição do gelo marinho tem nas taxas de sobrevivência das espécies.
Implicações do estudo
“Nossa pesquisa lança luz sobre uma faceta da vida do pinguim Adélie que antes era subestimada”, disse o Dr. Schmidt. “Compreender as intrincadas relações entre o ambiente, especialmente o gelo marinho, e todas as fases do ciclo anual do pinguim é crucial, especialmente no contexto das rápidas alterações climáticas.”
Este estudo não só destaca a posição precária dos pinguins Adélie face às mudanças ambientais, mas também sublinha as preocupações ecológicas mais amplas que o aumento das temperaturas e o derretimento do gelo representam para a vida selvagem antárctica.
Pinguins Adélia
Os pinguins Adélie (Pygoscelis adeliae) são mais conhecidos por sua plumagem distinta, semelhante a um smoking. Eles são uma das três espécies de pinguins de “cauda em escova”, junto com os pinguins gentoo e os pinguins barbicha.
Aqui estão alguns aspectos mais detalhados de sua biologia, comportamento e status de conservação:
Características físicas
Os pinguins Adélie são pinguins de tamanho médio, medindo cerca de 60 centímetros de altura e pesando de 8 a 10 libras.
Eles têm barriga branca com cabeça e dorso pretos e um anel branco distinto ao redor do olho.
Habitat e distribuição
Esses pinguins são uma das duas únicas espécies de pinguins (sendo a outra o pinguim-imperador) nativas exclusivamente da Antártica.
Eles habitam todo o litoral do continente Antártico, preferindo áreas livres de gelo para nidificar.
Dieta
Sua dieta consiste principalmente de krill, embora também consumam peixes e lulas. A disponibilidade das suas presas está intimamente ligada à extensão sazonal do gelo marinho, que afecta toda a cadeia alimentar da região.
Reprodução e ciclo de vida
Os pinguins Adélie são altamente sociais durante a época de reprodução, formando grandes colônias em terras sem gelo. Eles constroem ninhos de pedras e ambos os pais se revezam na incubação dos ovos e na alimentação dos filhotes.
Após a eclosão, os filhotes emplumam cerca de 50 a 60 dias, e os adultos então seguem para o mar para se alimentar e passar pelo processo de muda.
Muda
Uma vez por ano, os pinguins Adélie passam por uma muda completa, que leva cerca de três semanas. Durante esse período, eles não podem entrar na água e, portanto, não podem se alimentar. Eles dependem de reservas de gordura acumuladas antes deste período.
Comportamento
Conhecidos por seu comportamento curioso e muitas vezes ousado, os pinguins Adélie podem se aproximar de visitantes humanos sem medo aparente.
Eles são nadadores fortes e podem mergulhar a profundidades de mais de 175 metros, embora a maior parte de sua alimentação ocorra nos 50 metros superiores.
Estado de conservação
As populações de Adélie são afetadas pelas alterações climáticas, com o aumento das temperaturas e o derretimento do gelo marinho representando ameaças significativas ao seu habitat.
Outras ameaças incluem a poluição, perturbações causadas por estações de investigação científica e actividades de pesca que podem esgotar as suas fontes de alimentos.
Das Alterações Climáticas
A redução do gelo marinho devido às alterações climáticas tem impacto na disponibilidade de krill, que é a principal fonte de alimento dos pinguins Adélie.
Mudanças no gelo marinho também afetam os ciclos de reprodução e muda dos pinguins, conforme observado no estudo do Dr. Schmidt.
Esforços de conservação
Numerosos estudos continuam a monitorizar as populações de pinguins Adélie para compreender o impacto das mudanças ambientais.
Os esforços de conservação visam o estabelecimento de áreas marinhas protegidas, a minimização da perturbação humana e a gestão da pesca para garantir a sustentabilidade das populações de krill.
Os pinguins Adélie são uma espécie crucial para os ecossistemas antárticos, agindo tanto como predadores quanto como presas. Eles também são considerados indicadores de mudanças ambientais devido à sua dependência do gelo marinho e das cadeias alimentares por ele sustentadas.
Preservar os seus habitats não é apenas vital para a sua sobrevivência, mas também para a saúde geral dos ambientes marinhos da Antártica.
O estudo está publicado na revista Anais da Academia Nacional de Ciências.
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