Um estudo liderado pela estudante de doutorado da Virginia Tech, Paige Van de Vuurst, lançou recentemente luz sobre a perspectiva alarmante de morcegos vampiros estenderem seu habitat para os Estados Unidos, potencialmente trazendo consigo um patógeno antigo e mortal – a raiva.
Esta migração, impulsionada pelas alterações climáticas, representa uma ameaça significativa tanto para a saúde pública como para o sector agrícola, especialmente para a indústria pecuária.
Mudanças climáticas e casos de raiva
A investigação aponta para uma correlação direta entre as mudanças induzidas pelo clima na distribuição dos morcegos hematófagos e o aumento dos casos de raiva na América Latina.
“O que descobrimos foi que a distribuição dos morcegos hematófagos deslocou-se para norte ao longo do tempo devido às alterações climáticas anteriores, o que correspondeu a um aumento nos casos de raiva em muitos países latino-americanos”, explicou ela, destacando a urgência da situação.
Estudo de campo abrangente
A equipe de pesquisa, incluindo estudantes de graduação e pós-graduação, embarcou em um estudo de campo abrangente na Colômbia, colaborando com universidades locais como a Universidade de La Salle, a Universidad Distrital e a Universidad del Tolima.
A viagem levou os pesquisadores por diversas paisagens, desde as selvas úmidas até as regiões mais frias da Cordilheira dos Andes, acessíveis apenas por teleférico. Isto permitiu-lhes reunir uma grande variedade de amostras de morcegos, observando em primeira mão como as variações climáticas influenciam a dinâmica das doenças nestes mamíferos.
Um laboratório natural
A importância da Colômbia como local de pesquisa foi ressaltada por Luis Escobar, professor assistente da Virginia Tech e coautor do estudo.
“A Colômbia é um país megadiverso, o que o torna um laboratório natural perfeito”, disse Escobar. O país possui grande número de beija-flores e morcegos, devido ao seu clima tropical e proximidade com a linha do Equador.
Foco do estudo
A investigação teve como objectivo colmatar lacunas de conhecimento sobre a transmissão da raiva e a sua propagação da vida selvagem para os seres humanos.
Os especialistas decidiram determinar os papéis das mutações do habitat e do vírus na propagação da raiva, identificar os efeitos das mudanças na biodiversidade sobre o vírus e investigar os fatores que influenciam a propagação de doenças transmitidas por morcegos.
Trabalho de campo internacional
Um dos aspectos mais notáveis desta pesquisa foi o envolvimento de estudantes de graduação, uma raridade em trabalhos de campo internacionais.
Van de Vuurst expressou preocupação com o estado atual da pesquisa sobre a vida selvagem, onde os estudantes muitas vezes arcam com o custo de adquirir experiência de campo. Ela enfatizou a importância de fornecer oportunidades totalmente financiadas para os estudantes.
“Há uma triste realidade na investigação sobre a vida selvagem neste momento que muitas vezes exige uma mentalidade de ‘pagar para jogar’, onde os estudantes devem pagar pela experiência de fazer trabalho de campo, especialmente trabalho de campo internacional.”
Experiência transformadora
Julia Alexander, estudante de graduação, refletiu sobre sua experiência, compartilhando o profundo impacto que ela teve sobre ela, tanto profissionalmente quanto pessoalmente.
“Não aprendi apenas habilidades de campo valiosas para minha carreira, mas também lições de vida importantes com cada desafio enfrentado”, disse ela. A experiência foi transformadora, marcando sua primeira pesquisa de campo, viagem de avião e viagens internacionais.
Implicações do estudo
As descobertas do estudo são cruciais para a compreensão da propagação dos morcegos hematófagos e do risco associado à raiva. À medida que estes morcegos alargam o seu alcance devido às mudanças climáticas, torna-se imperativo monitorizar e preparar-se para a sua potencial chegada aos Estados Unidos.
A investigação não só fornece dados vitais sobre os padrões de migração dos morcegos e a transmissão de doenças, mas também destaca a importância da colaboração transfronteiriça na resposta aos desafios globais de saúde e ambientais.
“Todos temos um objectivo: gerar amostras, novos dados e novos conhecimentos”, concluiu Escobar, sublinhando o espírito colaborativo que impulsiona este importante esforço de investigação.
O estudo está publicado na revista Ecografia.
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