Animais

Hienas “amigáveis” são mais propensas a se envolver em comportamentos de assédio moral

Santiago Ferreira

Depois de mais de três décadas e meia de observação diligente, investigadores da Michigan State University (MSU) estão a desvendar alguns dos comportamentos enigmáticos de um tipo único de multidão – aquela composta por hienas-malhadas.

Os resultados desta pesquisa, publicados na revista Anais da Royal Society Besclarecem as intrincadas relações e interações sociais entre as hienas, que influenciam as suas decisões de unir forças e enfrentar os leões de forma cooperativa, um comportamento conhecido como mobbing.

Comportamento de assédio moral

A autora principal, Tracy Montgomery, iniciou este projeto durante seus estudos de doutorado sob a orientação de Kay Holekamp na MSU. Sua pesquisa foi apoiada pelo apoio do Dr. Marvin Hensley Endowed Scholarship Fund in Zoology.

“As relações sociais podem superar barreiras ao assédio moral e permitir que as hienas consigam cooperação”, disse Montgomery, acrescentando ainda que as saudações entre as hienas e a força dos seus laços sociais desempenham um papel fundamental na determinação da sua probabilidade de se envolverem em comportamento de assédio moral.

Estruturas sociais complexas

As hienas-pintadas são animais sociais intrigantes, caracterizados por estruturas sociais complexas semelhantes às encontradas em babuínos e outros primatas. Os pesquisadores estudam hienas não apenas para compreender os comportamentos cooperativos na vida selvagem, mas também para obter insights sobre tais comportamentos nos humanos.

Kenna Lehmann, outra autora principal que fez parte da equipe de Holekamp durante seus estudos de doutorado e agora é professora assistente na MSU, enfatiza a importância dos relacionamentos de longo prazo construídos entre hienas. Ela observa que suas interações vão além de meros acordos transacionais. “Não é apenas ‘eu lhe darei uma perna de zebra se você ajudar’”, como ela diz.

Características únicas

Holekamp, ​​que dedicou 35 anos ao estudo das hienas no Quénia, expressa o seu fascínio por estas criaturas. “Fui para o Quénia em 1988 pensando em fazer um projeto de dissertação – três ou quatro anos – com hienas, depois passaria a estudar golfinhos, macacos ou outros animais.” No entanto, as características únicas das hienas a mantiveram cativada.

Por exemplo, as hienas-malhadas fêmeas possuem pseudopênis, uma anomalia biológica que desafia a compreensão convencional. Embora este aspecto particular não esteja directamente relacionado com o presente estudo, destaca a propensão das hienas para desafiar as normas biológicas estabelecidas.

“As hienas-malhadas parecem violar muitas das regras básicas da biologia dos mamíferos”, disse Holekamp, ​​o que as torna assuntos intrigantes para investigação científica.

Foco do estudo

Tanto Tracy Montgomery quanto Kenna Lehmann, sob a orientação de Kay Holekamp, ​​ficaram intrigadas com as regras que regem o comportamento das hienas quando atacam leões. Eles procuraram entender por que as hienas se envolvem nesse comportamento de risco e o que as motiva.

Notavelmente, a sua investigação revelou que os leões foram responsáveis ​​pela morte de hienas em mais de 25% dos casos em que a causa da morte pôde ser determinada.

Benefícios tangíveis do assédio moral

Leões e hienas partilham frequentemente territórios, o que levou Lehmann e Montgomery a examinar inicialmente o comportamento de assédio moral através da lente dos seus benefícios tangíveis, como a protecção dos recursos alimentares dos leões.

Num relatório anterior de 2017, a equipa demonstrou que o assédio moral não se limitava a cenários com benefícios imediatos, mas também ocorria sem quaisquer vantagens aparentes.

Novas idéias

Em seu estudo recente, os pesquisadores se aprofundaram no comportamento do assédio moral para explorar outras motivações subjacentes. Durante esta exploração, descobriram que o assédio moral era mais prevalente quando o risco de danos ou morte às hienas era menor, mesmo em situações desprovidas de benefícios imediatos.

Por exemplo, as hienas eram mais propensas a praticar assédio moral quando não havia leões machos presentes, uma vez que os leões machos são maiores e mais perigosos para as hienas. Por outro lado, entre as hienas pintadas, onde as fêmeas são maiores que os machos, as fêmeas estavam mais inclinadas a participar de assédio moral.

Observação meticulosa

No entanto, o aspecto mais notável do comportamento de assédio moral foi a sua dimensão social, uma descoberta tornada possível pela observação meticulosa de hienas ao longo de várias gerações no mesmo habitat ao longo de 35 anos.

Ao longo deste longo período, a equipa de investigação manteve uma presença contínua no seu campo de investigação na Reserva Nacional Maasai Mara, com vários colaboradores contribuindo para o projeto.

Compromisso de longo prazo

A importância do compromisso de longo prazo com esta investigação tornou-se evidente, uma vez que os eventos de assédio moral são relativamente pouco frequentes. Ao longo de três décadas, a equipa testemunhou aproximadamente 1.000 interações envolvendo hienas e leões, sendo que apenas uma fração dessas interações forneceu os dados abrangentes necessários para uma análise detalhada.

Estas interações são tipicamente rápidas, envolvem numerosas hienas e leões e são caracterizadas por movimentos rápidos, tornando o registo preciso de dados um desafio significativo.

Dados valiosos

Das cerca de 1.000 interações observadas, apenas 325 produziram dados suficientemente robustos para Montgomery e Lehmann conduzirem as suas análises e fazerem as suas descobertas. Eles creditam a dedicação e os esforços de estudantes, assistentes de pesquisa e outros colaboradores ao longo dos últimos 30 anos pela sua capacidade de padronizar e organizar observações de campo em conjuntos de dados utilizáveis.

Os pesquisadores continuam a explorar a riqueza de insights que esses conjuntos de dados podem conter. “Encontrar esses resultados foi realmente emocionante, mas sinto que a parte divertida da ciência é que você responde a uma pergunta e imediatamente tem mais 50. Há muito mais coisas que precisamos fazer com esses dados”, concluiu Montgomery.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago