Animais

Cientistas chineses clonam pela primeira vez um macaco rhesus

Santiago Ferreira

Mais de duas décadas desde a clonagem inovadora da ovelha Dolly, os cientistas alcançaram um marco significativo ao clonar com sucesso um macaco rhesus (Macaca mulatta), uma espécie intimamente relacionada aos humanos.

Este feito foi realizado por especialistas da Universidade da Academia Chinesa de Ciências, em Pequim, que usaram células somáticas de um macaco rhesus para criar uma cópia geneticamente idêntica.

Tecnologia de clonagem

O clone, que está saudável há mais de dois anos desde o seu nascimento, marca um avanço significativo na tecnologia de clonagem, especialmente numa espécie tão intimamente relacionada com os humanos.

O processo de clonagem empregou a transferência nuclear de células somáticas (SCNT), uma técnica que envolve a transferência do DNA de uma célula somática, como uma célula da pele, para um óvulo cujo núcleo foi removido.

Baixa taxa de sucesso

Qiang Sun e sua equipe, o mesmo grupo que clonou os macacos comedores de caranguejo em 2017, lideraram este último esforço. A técnica SCNT reprograma o material genético do núcleo, permitindo que o óvulo se divida e forme um embrião clonado, sustentado por uma placenta saudável.

Contudo, a eficiência da clonagem para a maioria das espécies de mamíferos permanece extremamente baixa, com elevadas taxas de mortalidade tanto durante a gestação como logo após o nascimento. O sucesso da equipe veio com apenas um animal clonado sobrevivente entre 113 embriões iniciais, uma taxa de sucesso inferior a 1%.

Dificuldade de clonagem

O Dr. Lluís Montoliu, especialista do Centro Nacional de Biotecnologia da Espanha, não envolvido no novo projeto de clonagem, destaca a dificuldade de tais experimentos.

“Tanto a clonagem de macacos caranguejeiros como de macacos Rhesus demonstram duas coisas: primeiro, é possível clonar primatas e, segundo, é extremamente difícil ter sucesso com estas experiências, com eficiências tão baixas, excluindo mais uma vez a clonagem humana, ” ele disse.

Preocupações éticas

Embora a clonagem de vários mamíferos tenha sido conseguida desde o nascimento de Dolly em 1996, a clonagem de primatas como macacos e potencialmente humanos levanta preocupações éticas significativas. O Dr. Montoliu enfatiza que a clonagem humana é “extraordinariamente difícil e eticamente injustificável”, considerando-a desnecessária e discutível.

A experiência, que não poderia ter sido realizada na Europa devido à legislação da UE sobre experimentação animal, levanta questões sobre as implicações éticas da clonagem de primatas.

A legislação da UE proíbe a utilização de primatas não humanos em experiências, a menos que seja para investigar doenças graves que afectem os seres humanos ou a própria espécie de primata, critérios não cumpridos nesta experiência.

Apesar destas preocupações, a investigação oferece informações valiosas sobre as possibilidades e limitações da tecnologia de clonagem em espécies estreitamente relacionadas com os humanos.

As descobertas são publicadas na revista Comunicações da Natureza.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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