Animais

Relatório da ONU: Detalhes alarmantes sobre o estado atual da vida selvagem da Terra

Santiago Ferreira

Num esforço para destacar os desafios enfrentados pela vida selvagem da Terra, a Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Selvagens (CMS), um tratado fundamental da ONU sobre biodiversidade, revelou o seu relatório inaugural “Estado das Espécies Migratórias do Mundo”.

Esta análise abrangente foi apresentada na abertura da crucial conferência CMS COP14 da ONU sobre conservação da vida selvagem, com o objetivo de estimular um apelo urgente à ação necessária para proteger a vida selvagem e os animais migratórios da Terra, marcando um momento significativo no diálogo global sobre conservação.

Estatísticas alarmantes: um olhar mais atento sobre as espécies migratórias

O relatório traça um quadro preocupante do estado das espécies migratórias em todo o mundo.

Apesar de algum progresso, surpreendentes 44 por cento das espécies de vida selvagem da Terra monitorizadas pelo CMS estão a sofrer declínios populacionais, com 22 por cento ameaçadas de extinção.

De forma alarmante, isto inclui 97 por cento das espécies de peixes listadas, sublinhando a necessidade urgente de acção.

Uma conclusão crítica do relatório é a identificação da sobreexploração e da perda de habitat, principalmente devido às actividades humanas, como as principais ameaças às espécies migratórias.

Estas pressões não se limitam aos animais listados no CMS; eles afetam espécies migratórias em todo o mundo.

A análise revela que três quartos das espécies listadas no CMS sofrem degradação do habitat, enquanto 70% são afectadas pela sobreexploração, incluindo captura directa e danos acidentais.

Principais áreas de biodiversidade ameaçadas

Além disso, o relatório destaca a vulnerabilidade das Áreas Chave para a Biodiversidade, vitais para a sobrevivência das espécies migratórias, com mais de metade sem qualquer forma de estatuto protegido.

Isto é agravado pelo facto de uma maioria significativa destes locais estar sujeita a níveis insustentáveis ​​de pressão humana.

As alterações climáticas, a poluição e as espécies invasoras também estão a contribuir para a crescente pressão sobre estes animais, complicando ainda mais o cenário de conservação.

Apesar destes desafios, o relatório não deixa de ter esperança. Ele sublinha as incríveis viagens feitas por milhares de milhões de animais migratórios todos os anos, atravessando paisagens, rios, oceanos e céus, atravessando continentes e fronteiras nacionais.

Papel essencial das espécies migratórias

Estas migrações não são apenas fenómenos naturais espetaculares; são essenciais para a saúde dos ecossistemas do planeta.

As espécies migratórias contribuem para a polinização, o transporte de nutrientes, o controlo de pragas e o armazenamento de carbono, desempenhando um papel crucial na manutenção do equilíbrio ecológico e da resiliência.

O relatório, preparado por cientistas conservacionistas do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-WCMC) e apresentando contribuições de instituições líderes como a BirdLife International, a UICN e a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), baseia-se nas espécies mais robustas. conjuntos de dados disponíveis.

Foco e ênfase do estudo

Centra-se nas 1.189 espécies animais identificadas pelo CMS como necessitando de proteção internacional, ao mesmo tempo que aborda mais de 3.000 espécies migratórias adicionais não pertencentes ao CMS.

Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, enfatiza a importância do relatório.

“O relatório de hoje mostra-nos claramente que as actividades humanas insustentáveis ​​estão a pôr em perigo o futuro das espécies migratórias – criaturas que não só actuam como indicadores de mudanças ambientais, mas desempenham um papel integral na manutenção da função e resiliência dos complexos ecossistemas do nosso planeta”, lamentou Anderson.

“A comunidade global tem a oportunidade de traduzir esta ciência mais recente sobre as pressões enfrentadas pelas espécies migratórias em ações concretas de conservação. Dada a situação precária de muitos destes animais, não podemos dar-nos ao luxo de atrasar e devemos trabalhar em conjunto para tornar as recomendações uma realidade.”

Desafios críticos para a vida selvagem e as espécies migratórias da Terra

As espécies migratórias, desde aves e peixes até mamíferos maiores, realizam viagens incríveis que abrangem milhares de quilómetros para satisfazer as necessidades do seu ciclo de vida, tais como reprodução, alimentação e invernada.

Amy Fraenkel, Secretária Executiva da CMS, enfatiza a complexidade das suas jornadas e a miríade de ameaças que enfrentam ao longo do caminho e nos seus destinos.

“Quando as espécies atravessam as fronteiras nacionais, a sua sobrevivência depende dos esforços de todos os países onde são encontradas”, observa Fraenkel, destacando o papel do relatório na orientação de ações políticas para a conservação das espécies migratórias.

A situação está se tornando mais terrível

Apesar de algumas tendências positivas, com certas espécies a apresentarem recuperação e melhoria do estado de conservação, o relatório deixa claro que é necessário fazer mais.

A sobrevivência destas espécies está ameaçada pelas alterações ambientais globais, incluindo a perda de biodiversidade e as alterações climáticas, necessitando de um esforço concertado por parte dos governos, do sector privado e de outras partes interessadas.

Nas últimas três décadas, a situação tornou-se mais grave para muitas espécies, com 70 espécies listadas no CMS a tornarem-se mais ameaçadas.

Por outro lado, apenas 14 espécies listadas registaram melhorias no seu estado de conservação. De forma alarmante, quase todas as espécies de peixes listadas no CMS, incluindo tubarões, raias e esturjões, registaram um declínio populacional dramático, apontando para um elevado risco de extinção.

Principais ameaças à vida selvagem e às espécies migratórias da Terra

O relatório identifica a sobreexploração, incluindo a caça e a sobrepesca insustentáveis, e a perda de habitat devido à agricultura, à expansão urbana e ao desenvolvimento de infra-estruturas como as principais ameaças às espécies migratórias.

Estas conclusões sublinham a necessidade crítica de esforços estratégicos de conservação, incluindo a protecção de habitats vitais e a redução das pressões induzidas pelo homem.

Um foco significativo do relatório está na proteção de Áreas Chave para a Biodiversidade que são cruciais para a sobrevivência de espécies migratórias.

A falta de proteção é inaceitável

Apesar de quase 10.000 destas áreas serem identificadas como importantes, mais de metade permanecem desprotegidas.

Esta falta de protecção coloca 58 por cento destes locais em risco devido às actividades humanas, destacando uma área chave para enfoque de conservação.

O relatório também esclarece a situação das espécies migratórias não abrangidas atualmente pelo CMS, revelando que 399 espécies, principalmente aves e peixes, estão ameaçadas ou quase ameaçadas, mas não estão listadas no CMS. Esta lacuna indica a necessidade de expandir as listagens do CMS para incluir estas espécies em risco.

Apesar dos desafios assustadores, o relatório também partilha histórias de esperança e recuperação, apresentando iniciativas de conservação bem-sucedidas.

Os exemplos incluem a redução das redes ilegais para aves em Chipre e o renascimento do antílope Saiga no Cazaquistão, demonstrando que é possível uma mudança positiva com esforços coordenados de conservação.

Recomendações prioritárias da ONU para ação

O relatório conclui com um conjunto de recomendações para medidas urgentes, incluindo o reforço dos esforços para combater a exploração ilegal e insustentável de espécies migratórias, a identificação e protecção de habitats críticos, abordando as espécies em maior risco de extinção e intensificando os esforços para combater alterações climáticas e poluição.

O Situação das espécies migratórias mundiais O relatório emite um alerta claro e fornece um conjunto de recomendações prioritárias para ação, que incluem:

  • Reforçar e expandir os esforços para combater a captura ilegal e insustentável de espécies migratórias, bem como a captura acidental de espécies não-alvo,
  • Aumentar as ações para identificar, proteger, conectar e gerir eficazmente locais importantes para espécies migratórias,
  • Abordar urgentemente as espécies em maior perigo de extinção, incluindo quase todas as espécies de peixes listadas no CMS,
  • Intensificar os esforços para combater as alterações climáticas, bem como a poluição luminosa, sonora, química e plástica e,
  • Considerar expandir as listagens do CMS para incluir mais espécies migratórias em risco que necessitam de atenção nacional e internacional.

Implicações e próximos passos

Em resumo, o relatório inaugural da ONU “Estado das Espécies Migratórias no Mundo” e a subsequente análise aprofundada iluminaram a situação precária enfrentada pelas espécies migratórias em todo o nosso planeta, sublinhando a necessidade urgente de esforços globais de conservação.

Destacando a dupla ameaça de perda de habitat e sobreexploração, exacerbada pelas alterações climáticas e pela poluição, estas avaliações abrangentes apelam a uma acção internacional imediata e coordenada.

As histórias de recuperação e sucesso de conservação, como a notável recuperação do antílope Saiga no Cazaquistão, servem como faróis de esperança, demonstrando que com esforço concertado e cooperação global, podemos garantir a sobrevivência e a prosperidade destas espécies vitais.

Através da mobilização dos governos, do sector privado e das comunidades em todo o mundo, temos a oportunidade de transformar as terríveis previsões de hoje num legado de conquistas de conservação para as gerações futuras.

Mas para que isso aconteça, devemos AGIR AGORA!

O estudo completo da ONU pode ser encontrado clicando aqui…

—–

Gostou do que leu? Assine nosso boletim informativo para artigos envolventes, conteúdo exclusivo e as atualizações mais recentes.

—–

—–

Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago