Animais

Os galos podem se reconhecer no espelho, demonstrando autoconsciência

Santiago Ferreira

Num estudo notável que desafia suposições de longa data sobre a inteligência aviária, investigadores das Universidades de Bona e Bochum e da MSH Medical School Hamburgo aprofundaram a compreensão da autoconsciência nas galinhas. As suas descobertas sugerem que os galos podem possuir a capacidade de se reconhecerem num espelho, dependendo das condições do teste realizado.

Galos e o espelho “Mark Test”

Os esforços colaborativos da equipe de pesquisa visaram compreender uma das questões centrais da pesquisa comportamental. “Os animais possuem a capacidade de auto-reconhecimento, indicativa de autoconsciência?”

A medida padrão de auto-reconhecimento entre os animais tem sido tipicamente o “Teste de Marca”. Este teste envolve colocar uma marca colorida em um animal em um local visível apenas através do reflexo no espelho.

Se os animais, neste caso os galos, indicarem a consciência da marca através do espelho, isso sugere um nível de auto-reconhecimento. Porém, este método tem apresentado resultados inconsistentes, muitas vezes influenciados pela artificialidade do ambiente experimental, levando os pesquisadores a buscar uma abordagem ecologicamente mais relevante.

Sonja Hillemacher, uma estudante de doutorado, e a Dra. Inga Tiemann, que estudaram extensivamente a criação de galinhas na Universidade de Bonn, embarcaram nesta jornada investigativa sob a orientação do Prof. na Universidade do Ruhr em Bochum.

“Os métodos existentes podem não ser suficientes ou adequados para todos os animais, especialmente em espécies que podem sentir-se desconfortáveis ​​nestas condições de teste artificiais”, explica a Dra. Inga Tiemann. Esta noção levou os investigadores a considerar os comportamentos naturais dos galos na concepção de um ambiente de teste mais adequado.

Chamadas de alarme: indicador de comportamento natural

O professor Onur Güntürkün apresentou uma ideia inovadora, aproveitando o comportamento natural dos galos para emitir gritos de alerta, alertando seus amigos sobre potenciais predadores. Esses gritos de alarme são menos prováveis ​​quando os galos estão sozinhos, pois chamar a atenção pode transformá-los em presas. “A integração deste comportamento poderia levar a um teste de autoconsciência mais relevante e indicativo”, afirmou Güntürkün.

Para confirmar a confiabilidade desse comportamento, os pesquisadores estabeleceram um ambiente controlado onde os galos pudessem se perceber visualmente, separados por uma grade. A equipe simulou uma ameaça de predador e observou as reações dos galos. Os resultados foram promissores, mostrando uma diferença significativa no número de gritos de alarme emitidos quando os galos estavam “juntos” em comparação com quando estavam sozinhos.

Teste de espelho: Galos e autoconsciência

Após o sucesso inicial, a equipe introduziu um espelho no ambiente de teste. A questão central era se os galos, confrontados com os seus reflexos num espelho e com uma ameaça simulada de um predador, responderiam com gritos de alarme como fariam na presença de outros galos.

Os resultados foram intrigantes. Os galos emitiram drasticamente menos cantos, sugerindo que não percebiam seus reflexos como se fossem outro pássaro.

Sonja Hillemacher reflete sobre as descobertas. Ela disse: “Esse comportamento indica que os galos podem reconhecer seu reflexo, embora devamos considerar a possibilidade de que eles vejam essa entidade ‘imitada’ como uma não ameaça, daí os cantos reduzidos”.

Estes resultados contrastaram com o teste tradicional de Mark, onde os galos não demonstraram nenhum comportamento claro indicativo de auto-reconhecimento.

Implicações: Direitos e bem-estar dos animais

A pesquisa ressalta a importância de condições contextualmente relevantes em testes comportamentais. “Nosso trabalho sugere que os testes tradicionais podem subestimar as habilidades cognitivas de animais como os galos”, explica Onur Güntürkün. “Ao considerar seus comportamentos naturais e aspectos ecológicos, poderemos revelar facetas surpreendentes da psicologia animal.”

Além disso, essas descobertas alimentam uma discussão mais ampla sobre a autoconsciência animal. Este tópico está profundamente interligado com os direitos e o bem-estar dos animais. Reconhecer a autoconsciência em mais espécies poderá revolucionar a forma como são tratadas em vários setores, incluindo a agricultura e a investigação.

Horizontes mais amplos em pesquisa comportamental

Embora o estudo do espelho esclareça o potencial auto-reconhecimento dos galos, a equipe reconhece que são necessárias mais pesquisas. “É crucial explorar outros indicadores de autoconsciência e talvez considerar interpretações mais matizadas destes comportamentos”, sugere Inga Tiemann.

Esta pesquisa abre novas portas na compreensão da cognição animal, defendendo uma mudança de perspectiva e metodologia nos estudos comportamentais. Ao alinhar mais estreitamente as condições de teste com os ambientes e comportamentos naturais dos animais, os cientistas poderiam descobrir níveis sem precedentes de inteligência animal. Isto terá implicações de longo alcance para o bem-estar e os direitos de numerosas espécies.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago