Animais

O conflito aumenta a sobrevivência da prole em mangustos anões

Santiago Ferreira

Um novo estudo da Universidade de Bristol revela que o aumento do conflito intergrupal pode, na verdade, aumentar a sobrevivência da prole animal. Esta descoberta desafia a crença de longa data de que tais conflitos têm um impacto negativo no sucesso reprodutivo.

“Grupos envolvidos em mais interações intergrupais não produziram mais jovens. Em vez disso, uma ameaça maior de pessoas de fora estava associada a uma maior probabilidade de sobrevivência dos filhotes quando saíam da toca de reprodução”, observou a autora principal do estudo, Dra. Amy Morris-Drake.

Comportamento territorial

A pesquisa concentrou-se em dados de história de vida de uma década de uma população selvagem de mangustos anões. Estes pequenos carnívoros, os mais pequenos de África, vivem em grupos de 5 a 30 indivíduos e são conhecidos pela sua reprodução cooperativa e comportamento territorial.

Um aspecto único deste estudo é a sua abordagem metodológica, envolvendo observações comportamentais detalhadas de grupos de estudo na África do Sul.

Os mangustos anões foram marcados individualmente com tintura de cabelo loira, treinados para se pesarem em uma balança e observados de perto em suas condições naturais e ecologicamente válidas.

Principais insights

Uma das principais mudanças comportamentais observadas foi um aumento no comportamento de sentinela (vigilância elevada) quando eram percebidas ameaças de grupos rivais.

“O aumento do comportamento sentinela é provavelmente uma tentativa de reunir mais informações sobre o outro grupo. Mas as sentinelas também detectam ameaças predatórias e alertam os companheiros de grupo sobre o perigo, de modo que os filhotes vulneráveis ​​são potencialmente mais seguros”, explicou o autor sênior do estudo, Professor Andy Radford.

Vigilância reforçada

Este estudo oferece uma nova perspectiva sobre o conflito intergrupal, sugerindo que a maior vigilância e as adaptações comportamentais resultantes desses conflitos poderiam beneficiar indiretamente a sobrevivência dos descendentes.

“Não estamos sugerindo que o conflito tenha um efeito positivo direto no sucesso reprodutivo. Em vez disso, poderia haver benefícios secundários de mudanças comportamentais – como o aumento da vigilância – que resultam de um nível de ameaça aumentado”, disse o Professor Radford.

Implicações do estudo

O Dr. Morris-Drake enfatizou as implicações mais amplas das suas descobertas: “O nosso trabalho sugere que, se quisermos compreender a importância da guerra nas sociedades, devemos considerar as ameaças, bem como os combates reais. Além disso, precisamos investigar não apenas as ações no campo de batalha, mas também as consequências mais amplas.”

O estudo não só fornece insights sobre a dinâmica complexa das sociedades animais, mas também contribui para a nossa compreensão das implicações evolutivas dos conflitos intergrupais.

Mangusto anão

O mangusto anão (Helogale parvula) é um pequeno carnívoro africano pertencente à família dos mangustos (Herpestidae).

Aparência

Os mangustos anões são pequenos, pesando normalmente entre 200-350 gramas. Eles têm corpo esguio, nariz pontudo, orelhas pequenas e cauda espessa. Sua pelagem é geralmente marrom-avermelhada ou marrom-acinzentada.

Estrutura social

São animais altamente sociais, vivendo em grupos cooperativos de cerca de 5 a 30 indivíduos. Os membros do grupo têm funções específicas, incluindo casais reprodutores e “babás” que ajudam a cuidar dos jovens.

A comunicação vocal é comum, com chamados distintos para diversos fins, como alerta de predadores.

Habitat e alcance

Os mangustos anões são comumente encontrados em pastagens secas e savanas, muitas vezes perto de florestas ou afloramentos rochosos. A sua distribuição estende-se por grande parte da África Subsaariana.

Dieta e caça

Sua dieta consiste principalmente de insetos, embora também comam pequenos roedores, pássaros, répteis, ovos e frutas. Os mangustos anões se alimentam em grupos durante o dia, com um ou mais indivíduos atuando como sentinelas para alertar sobre predadores.

Reprodução e vida útil

Normalmente, apenas a fêmea dominante em um grupo procria, dando à luz ninhadas de 2 a 4 filhotes. Na natureza, eles vivem cerca de 4 a 6 anos, embora isso possa durar mais em cativeiro.

Estado de conservação

As principais ameaças aos mangustos anões incluem a perda de habitat e a predação por mamíferos maiores e aves de rapina. Atualmente, não são considerados ameaçados e apresentam tendência populacional estável.

A pesquisa faz parte do Projeto de Pesquisa Dwarf Mongoose em andamento, que estuda grupos selvagens habituados desde 2011.

O estudo foi financiado por uma bolsa consolidadora do Conselho Europeu de Pesquisa concedida ao professor Radford.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago