Uma equipe de cientistas e conservacionistas encontrou uma espécie rara de pequena árvore de azevinho que foi vista pela última vez pela ciência ocidental em 1838.
A árvore, chamada de azevinho pernambucano ou Ilex sapiiformisera considerado extinto até que a equipe o avistou em uma área urbana no nordeste do Brasil.
A descoberta é um exemplo notável da resiliência da natureza e um sinal de esperança para a conservação da biodiversidade.
Uma espécie há muito perdida
O azevinho pernambucano foi documentado pela primeira vez por um biólogo escocês que coletou exemplares da árvore durante suas viagens pelo Brasil entre 1836 e 1841.
Ele a descreveu como uma pequena árvore com folhas verdes brilhantes e flores brancas que crescia na Mata Atlântica, um hotspot de biodiversidade que já cobriu a maior parte da costa leste do Brasil.
No entanto, após sua coleta, nenhum outro avistamento confirmado da árvore foi relatado por quase dois séculos.
O azevinho pernambucano foi considerado perdido para a ciência e possivelmente extinto, pois a Mata Atlântica sofreu enorme desmatamento e fragmentação devido às atividades humanas.
A situação mudou no dia 22 de março, quando uma equipe de cientistas e conservacionistas brasileiros, apoiada por uma organização internacional cofundada pelo astro de Hollywood Leonardo DiCaprio, embarcou em uma expedição de seis dias em busca da esquiva árvore.
A equipe seguiu pistas de registros históricos, conhecimento local e imagens de satélite para identificar os possíveis locais onde a árvore ainda poderia existir.
Eles finalmente encontraram quatro exemplares do azevinho pernambucano às margens de um pequeno rio na cidade de Igarassu, nos arredores da capital do estado, Recife.
A equipe confirmou a identidade da árvore comparando suas características morfológicas e DNA com os exemplares originais, que estão preservados em um jardim botânico de Londres.
A equipe ficou surpresa com o fato de o azevinho pernambucano ter sido redescoberto em uma região metropolitana que abriga quase seis milhões de pessoas.
Eles disseram que as plantas são muitas vezes ignoradas e consideradas perdidas pela ciência porque não se movem como os animais, mas são igualmente essenciais para os ecossistemas dos quais são nativas.
Uma nova esperança para a conservação
A redescoberta do azevinho pernambucano não é apenas um avanço científico, mas também uma nova esperança para a conservação da Mata Atlântica e de sua flora e fauna únicas.
A Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo, tendo perdido mais de 90% de sua área original devido à agricultura, urbanização, exploração madeireira, mineração e outras atividades humanas.
É também um dos ecossistemas mais diversos do mundo, acolhendo mais de 20.000 espécies de plantas (das quais cerca de 8.000 são endémicas), mais de 2.000 espécies de animais (das quais cerca de 1.000 são endémicas) e muitos povos indígenas e comunidades tradicionais.
O azevinho pernambucano é uma das muitas espécies vegetais raras e ameaçadas de extinção que dependem da Mata Atlântica para sua sobrevivência.
É classificado como criticamente ameaçado por uma organização internacional que avalia o estado de conservação das espécies, o que significa que enfrenta um risco extremamente elevado de extinção na natureza.
Os quatro exemplares encontrados pela equipe são atualmente os únicos indivíduos vivos conhecidos da espécie.
Eles estão localizados em propriedades privadas cercadas por desenvolvimento urbano e expostas a ameaças como incêndio, poluição, espécies invasoras e extração ilegal.
A equipa está a trabalhar com as autoridades locais e proprietários de terras para garantir a proteção e gestão do local onde as árvores foram encontradas.
Eles também planejam iniciar um programa de melhoramento do azevinho pernambucano usando sementes coletadas de espécimes silvestres e técnicas de cultura de tecidos.
O objetivo é produzir mais plantas que possam ser utilizadas para reintrodução em habitats adequados dentro da sua área de distribuição histórica.
A equipe espera que, ao restaurar a população e a distribuição dessa espécie, possam também contribuir para restaurar as funções e serviços ecológicos da Mata Atlântica.
O líder da expedição, Gustavo Martinelli, ecologista, disse que a redescoberta do azevinho pernambucano é um lembrete de que ainda há muito para descobrir e conservar na natureza.
Ele disse que esta é uma mensagem de esperança para todos aqueles que trabalham para proteger a biodiversidade. Ele disse que precisamos agir rápido para salvar o que resta antes que seja tarde demais.
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