Animais

Especialistas estão usando ciência forense para combater o tráfico de vida selvagem

Santiago Ferreira

Em África, os pangolins estão equipados com uma armadura distinta de escamas sobrepostas, feita de queratina – o mesmo material das unhas humanas – que lhes confere protecção contra predadores como leões, hienas, cobras e cães selvagens. Este mecanismo de defesa natural permite que eles se enrolem como uma bola, protegendo suas barrigas macias.

No entanto, estas mesmas escamas fazem dos pangolins um alvo para os traficantes ilegais de vida selvagem, conduzindo a um comércio lucrativo e ilegal que representa uma ameaça significativa para a vida selvagem e para as comunidades humanas em todo o mundo.

Laboratório forense de vida selvagem

Para abordar a questão premente do tráfico de vida selvagem, a Faculdade de Recursos Naturais e Ambiente da Virginia Tech recebeu 2,6 milhões de dólares do Gabinete de Assuntos Internacionais de Narcóticos e Aplicação da Lei do Departamento de Estado dos EUA.

Este financiamento é atribuído à criação de um laboratório forense de vanguarda da vida selvagem em Kasane, no Botsuana, que funcionará em parceria com o governo do Botsuana.

A Professora Kathleen Alexander, do Departamento de Conservação de Peixes e Vida Selvagem da Virginia Tech, liderará esta iniciativa, melhorando significativamente as capacidades de investigação da instituição no Botswana.

Esforço colaborativo

O laboratório pretende facilitar o processamento rápido de provas de ADN para ajudar na investigação e acusação de casos de tráfico de vida selvagem na região, e também apoiará o lançamento de unidades multiagências de formação e resposta a crimes contra a vida selvagem no Botswana, denominadas Elite Team.

O projecto é um esforço colaborativo entre a Virginia Tech, a República do Botswana, e o Centro de Recursos Africanos: Animais, Comunidades e Uso da Terra (CARACAL), uma organização não governamental fundada por Alexander em 2001. Além disso, a Wildlife Investigation Training Alliance, uma organização conservacionista sem fins lucrativos, supervisionará os aspectos educacionais da iniciativa.

Aumento da ameaça global

Alexander, o investigador principal do projecto, enfatizou a crescente ameaça global do tráfico de vida selvagem, destacando as suas implicações não só para a conservação, mas também para a segurança nacional e global.

“O tráfico de vida selvagem está a aumentar em todo o mundo e é cada vez mais visto como uma ameaça à conservação e aos meios de subsistência locais. Mas, mais significativamente, estamos a constatar que o tráfico de vida selvagem faz parte de um sistema integrado que permite que os sindicatos criminosos operem e cresçam. Combater o crime contra a vida selvagem não tem apenas a ver com os impactos relacionados com a conservação, mas também com a segurança nacional e global”, disse ela.

Combate ao crime contra a vida selvagem

A criação do centro forense da vida selvagem baseia-se na colaboração contínua da Virginia Tech com o governo do Botswana. Esta parceria foi sublinhada pelas visitas do Presidente do Botswana, Eric Mokgweetsi Keabetswe Masisi, à Virginia Tech e do Presidente da Virginia Tech, Tim Sands, ao Botswana, marcando marcos significativos na relação entre as duas entidades.

O Presidente Masisi reconheceu a liderança do Botswana na conservação, mas destacou a necessidade de colmatar lacunas na capacidade do país para combater o crime contra a vida selvagem. Ele acredita que o centro forense servirá como um recurso crucial na protecção do património natural do Botswana.

Implicações mais amplas

O comércio ilegal de vida selvagem, que abrange produtos que vão desde escamas de pangolim até marfim de elefante, representa uma das maiores ameaças à biodiversidade global e à saúde pública, facilitando a propagação de doenças zoonóticas e financiando redes criminosas. O Botswana, com a sua rica biodiversidade, incluindo a maior população de elefantes do mundo, está estrategicamente posicionado na luta contra este comércio ilícito.

O trabalho de Alexander no Botswana adopta uma abordagem One Health, abordando a interligação da saúde humana, animal e ambiental. O novo centro forense representa um avanço significativo no combate ao tráfico de vida selvagem e nas suas implicações mais amplas para a segurança e conservação na África Austral.

Tecnologias inovadoras

O centro forense empregará tecnologias inovadoras para rastrear as origens dos produtos animais traficados e desenvolver estratégias para combater o contrabando de vida selvagem. Esta iniciativa sublinha um esforço colectivo para combater o tráfico de vida selvagem dentro e fora das fronteiras do Botswana, aproveitando tecnologias avançadas de sequenciação de ADN para analisar amostras complexas.

A colaboração entre a Virginia Tech e o governo do Botswana exemplifica um modelo de como as instituições académicas e os governos podem unir-se para enfrentar os desafios globais, reflectindo o compromisso da Virginia Tech com o serviço e fornecendo um modelo para futuras parcerias destinadas a garantir a paz, a democracia e a equidade em todo o mundo.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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