Animais

Balançar como um peixe elétrico é um movimento universal entre espécies

Santiago Ferreira

Navegar pelo mundo ao nosso redor pode parecer uma tarefa complexa, mas acontece que todos nós temos algo em comum com um peixe-faca elétrico. Seja um cachorro farejando ou um humano olhando para um novo ambiente, o comportamento central de tentar compreender o que está ao seu redor permanece o mesmo.

Pesquisas recentes revelam que tais movimentos não são exclusivos dos humanos ou mesmo de animais maiores. Estende-se por um amplo espectro de organismos, desde amebas unicelulares até seres complexos como nós.

Solução evolutiva

“As amebas nem sequer têm sistema nervoso, mas adotam um comportamento que tem muito em comum com o equilíbrio postural humano ou com peixes escondidos em um tubo”, disse o coautor do estudo Noah Cowan, professor de engenharia mecânica na Johns. Hopkins.

“Estes organismos estão bastante distantes uns dos outros na árvore da vida, sugerindo que a evolução convergiu para a mesma solução através de mecanismos subjacentes muito diferentes.”

Foco do estudo

Esta descoberta fascinante originou-se de um estudo focado no funcionamento do sistema nervoso durante o movimento para melhorar a percepção. As observações do peixe-faca elétrico, uma criatura que emite descargas elétricas fracas para detectar sua localização, foram fundamentais.

Na escuridão, os peixes balançavam para frente e para trás com mais frequência do que na luz. A escuridão fez com que os peixes aumentassem o seu movimento, imitando um rápido ‘modo de exploração’ para compreender melhor o seu ambiente.

Principais comportamentos de detecção

O conceito de alternar entre um “modo explorar” durante a incerteza e um “modo explorar” quando familiarizado com o ambiente não se restringe a estes peixes.

“Descobrimos que a melhor estratégia é mudar brevemente para o modo de exploração quando a incerteza for muito alta e depois voltar para o modo de exploração quando a incerteza diminuir”, disse o primeiro autor do estudo, Debojyoti Biswas, pesquisador de pós-doutorado da Johns Hopkins.

Apoiada por um modelo que simula esses comportamentos sensoriais essenciais, a equipe identificou padrões semelhantes em amebas, mariposas, baratas, toupeiras, morcegos, ratos e até mesmo em humanos.

“Nenhum estudo que encontramos na literatura violou as regras que descobrimos nos peixes elétricos, nem mesmo organismos unicelulares como a ameba que detectam um campo elétrico”, disse Cowan.

Manter um equilíbrio estável

Para ilustrar ainda mais a natureza onipresente desses movimentos, Cowan relacionou-os ao comportamento humano cotidiano.

“Se você for a um supermercado, notará que as pessoas na fila mudam entre ficar paradas e se movimentar enquanto esperam”, disse Cowan.

“Achamos que é a mesma coisa que está acontecendo, que para manter um equilíbrio estável você realmente precisa se movimentar ocasionalmente e excitar seus sensores como o peixe-faca. Descobrimos que as características estatísticas desses movimentos são onipresentes em uma ampla gama de animais, incluindo humanos.”

Implicações do estudo

Além de apenas compreender o mundo natural, as implicações desta pesquisa são vastas. As descobertas têm o potencial de revolucionar a robótica, especialmente em aplicações como drones de busca e salvamento e veículos espaciais.

Em seguida, os especialistas testarão se as suas ideias se aplicam a outros seres vivos, incluindo as plantas.

Mais sobre peixe-faca elétrico

O peixe-faca elétrico é um grupo diversificado com mais de 200 espécies encontradas principalmente na América Central e do Sul. Esses peixes são conhecidos por sua capacidade de gerar campos elétricos, que utilizam para navegação, comunicação e, às vezes, para captura de presas.

Órgão elétrico

O peixe-faca elétrico possui um órgão que produz descargas elétricas fracas. Isto é diferente das fortes descargas elétricas produzidas pelas enguias elétricas, um grupo diferente de peixes.

Eletrolocalização

Eles usam seu campo elétrico para sentir o que está ao seu redor. Os objetos ao seu redor distorcem esse campo, e os peixes podem detectar essas distorções para compreender o ambiente, como um sonar.

Comunicação

Diferentes espécies, e até mesmo peixes individuais, podem ter padrões únicos de descarga de órgãos elétricos. Isso permite que eles se comuniquem e se reconheçam.

Habitat

Eles são encontrados principalmente em ambientes de água doce, especialmente em águas lentas ou estagnadas, como pântanos, lagoas e margens de rios.

Comportamento noturno

Os peixes-faca elétricos são tipicamente noturnos, usando seus campos elétricos para navegar na escuridão.

O estudo está publicado na revista Inteligência da Máquina da Natureza.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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