Animais

As temperaturas em África estão a subir acima dos níveis que os rinocerontes podem tolerar

Santiago Ferreira

A África Austral é o lar da grande maioria das populações mundiais de rinocerontes negros e brancos, detendo 80% e 92%, respectivamente.

Estas criaturas majestosas, há muito tempo o foco dos esforços de conservação devido à caça furtiva, enfrentam agora uma ameaça nova e potencialmente mais devastadora: as alterações climáticas.

Impacto das mudanças climáticas nos rinocerontes

Um novo estudo da Universidade de Massachusetts Amherst, liderado por Hlelowenkhosi S. Mamba, centra-se nesta questão.

As suas descobertas revelam que, embora as temperaturas mais elevadas e as mudanças nos padrões de precipitação sejam preocupações, é o aumento das temperaturas que representa a ameaça mais significativa para os rinocerontes.

“De modo geral, a maioria, se não todas, as espécies serão, de uma forma ou de outra, afetadas negativamente pelas mudanças climáticas”, diz Mamba.

“É, portanto, importante que os conservacionistas realizem avaliações macroecológicas em grandes áreas para captar tendências e modelar o futuro de algumas das espécies mais vulneráveis ​​do mundo, a fim de se prepararem para mitigar os efeitos das alterações climáticas, minimizando assim as perdas globais de biodiversidade.”

África, rinoceronte e aumento das temperaturas

O continente africano registou um aumento de temperatura de 0,5 a 2 graus Celsius no último século. Além disso, o IPCC prevê um aumento de mais dois graus no próximo século.

Este aumento de temperatura em África é particularmente problemático para os rinocerontes, que não possuem glândulas sudoríparas e dependem do banho e da sombra para se refrescarem.

O estudo centrou-se em cinco grandes parques nacionais na África do Sul, Namíbia, Zimbabué, Quénia, Botswana, Tanzânia e eSwatini, modelando dois cenários: um cenário de emissões elevadas e um cenário moderado.

Eles projetaram mudanças de temperatura e precipitação até 2055 e 2085, avaliando a adequação dos parques para rinocerontes.

No cenário de emissões moderadas, espera-se um aquecimento de aproximadamente 2,2 ºC até 2055 e 2,5 ºC até 2085, com aumentos ainda maiores no cenário de emissões elevadas. A maioria dos parques ficará mais seca, excepto o Parque Nacional Tsavo West, no Quénia, que poderá registar um aumento das chuvas.

Rinocerontes pretos e brancos não conseguem sobreviver na África

A investigação revela uma perspectiva sombria: as mudanças de temperatura provavelmente excederão os limites de tolerância dos rinocerontes.

Espera-se que os rinocerontes brancos sejam afetados mais cedo do que os rinocerontes negros, com uma diminuição drástica na probabilidade de ocorrência em todos os parques.

“As condições de temperatura em todos os parques de estudo tornar-se-ão cada vez mais inadequadas para ambas as espécies, mas prevê-se que os rinocerontes brancos serão afetados mais cedo do que os rinocerontes negros”, cita o estudo.

Até 2085, em cenários de emissões elevadas, a probabilidade de qualquer uma das espécies sobreviver nestes parques poderá cair para zero.

Conservação e um apelo à ação

O Parque Nacional Etosha, na Namíbia, e o Parque Nacional Hlane, em eSwatini, deverão tornar-se inóspitos para os rinocerontes em qualquer um dos cenários de emissões.

Timothy Randhir, autor sênior e professor da UMass Amherst, ressalta a importância de integrar as previsões climáticas na gestão de parques e rinocerontes.

Ele propõe medidas proativas, como aumentar o abastecimento de água, melhorar a cobertura de árvores, monitorizar o stress e planear a potencial migração de rinocerontes à medida que o mundo aquece.

“Este artigo destaca a importância de usar previsões climáticas tanto para a gestão de parques como para a gestão de rinocerontes”, diz Randhir.

“Propomos que os gestores do parque pensem agora em aumentar o abastecimento de água, a cobertura de árvores, a vigilância do stress e o planeamento para permitir a migração dos rinocerontes à medida que o mundo aquece.”

Em resumo, esta pesquisa é um toque de clarim para conservacionistas e gestores de parques. O foco tradicional na caça furtiva deve agora expandir-se para incluir estratégias de combate aos efeitos das alterações climáticas.

Ao compreender e antecipar estas mudanças, podemos trabalhar no sentido de garantir um futuro onde estas magníficas criaturas continuem a prosperar nos seus habitats naturais.

O estudo completo foi publicado na revista Biodiversidade.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago