Nas águas cristalinas da costa da Colúmbia Britânica (BC), surgiu uma descoberta preocupante. Os pesquisadores encontraram toxinas tanto nas baleias residentes do sul quanto nas orcas de Bigg, lançando luz sobre os perigos invisíveis que espreitam em nossos oceanos.
Esta descoberta marca a primeira vez que hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs) foram identificados em orcas nestas águas, revelando um impacto direto das atividades humanas na vida marinha.
Toxinas chamadas PAHs estão prejudicando as baleias assassinas
Os PAHs, um grupo de produtos químicos encontrados no carvão, petróleo e gasolina, estão sempre presentes nos nossos oceanos. Agora, os cientistas confirmaram que estas toxinas estão a mover-se através das cadeias alimentares, acumulando-se em última análise nos principais predadores, como as baleias assassinas.
Estes compostos, conhecidos pelas suas propriedades cancerígenas e mutagénicas, entram no oceano através de diversas fontes, incluindo derrames de petróleo, queima de carvão e incêndios florestais. A revelação alarmante do estudo de que os HAP estão a ser transferidos das mães orcas para os seus fetos sublinha a difusão desta poluição.
Dr. Juan José Alava, autor sênior do estudo e investigador principal da Unidade de Pesquisa de Poluição Oceânica da UBC, destaca a importância dessas descobertas.
“As baleias assassinas são icónicas no noroeste do Pacífico, desempenhando um papel crítico cultural, económico e ecológico. A sua capacidade de processar metabolicamente PAHs indica exposições recentes. Estas criaturas majestosas são como o nosso ‘canário na mina de carvão’ para os oceanos, indicando a saúde das nossas águas.”
Orcas e a saúde dos oceanos
A equipa de investigação analisou amostras de músculos e fígado de doze orcas encalhadas entre 2006 e 2018. As suas descobertas foram surpreendentes.
Todas as amostras continham PAHs, com um composto específico, C3-fenantrenos/antracenos, responsável por uma parcela significativa da contaminação total. Estes resultados contam a história de um ambiente sob pressão, com implicações que se repercutem nos ecossistemas e nas comunidades.
Os contaminantes variaram entre os dois grupos de orcas. As orcas de Bigg, que vão da Califórnia ao sudeste do Alasca, mostraram sinais de exposição a PAHs devido à queima de carvão e vegetação. Em contraste, os residentes do Sul, que habitam áreas mais próximas dos centros urbanos, apresentavam a assinatura química dos derrames de petróleo e da combustão de combustíveis fósseis.
Fonte de toxinas em baleias assassinas
Kiah Lee, primeiro autor do estudo, aponta as diversas atividades que contribuem para essa carga tóxica. “Desde o desenvolvimento de oleodutos ao tráfego de petroleiros e incêndios florestais, essas fontes introduzem PAHs na cadeia alimentar marinha, afetando em última análise as orcas, os principais predadores.”
A presença destas toxinas numa espécie tão crítica faz soar o alarme para a saúde de todo o ecossistema marinho.
Dr. Stephen Raverty é co-autor do estudo e professor adjunto da IOF e patologista veterinário do Ministério da Agricultura e Alimentação de BC. Ele enfatiza a população limitada de residentes do Sul e como a poluição é uma das muitas ameaças que enfrentam.
“Há apenas uma pequena população à qual recorrer – 74 indivíduos no caso dos residentes do sul”, disse Raverty. “Existem muitas causas potenciais para o seu declínio, sendo a poluição uma delas.”
O caso de ‘Luna’, uma orca com uma história de vida única, destacou como habitats variados podem levar a uma mistura de contaminantes de hidrocarbonetos, complicando ainda mais o quadro.
Conservação e ação
Paul Cottrell, da Fisheries and Oceans Canada, vê este estudo como um passo vital na compreensão e gestão dos impactos nos habitats das baleias assassinas. Os dados de base sobre os níveis actuais de HAP são essenciais para monitorizar tendências e impactos futuros.
“As descobertas preliminares deste estudo irão adicionar informações importantes para informar as abordagens de gestão nos habitats das baleias assassinas”, disse Cottrell. “A fonte dos HAP provém frequentemente da atividade humana e é importante que tenhamos dados de base sobre os níveis atuais de HAP nas orcas para monitorizar essas tendências e impactos nos ecossistemas marinhos no futuro.”
Dr. Alava conclui com um apelo à ação. Reduzir e eventualmente eliminar o consumo de combustíveis fósseis é crucial não só para combater as alterações climáticas, mas também para preservar a biodiversidade marinha. Este esforço beneficiará as comunidades costeiras e as gerações futuras, reforçando a interligação das nossas ações e a saúde do nosso planeta.
Em resumo, este estudo é um alerta. Lembra-nos das intrincadas ligações dentro do nosso ambiente e da responsabilidade que temos de proteger estas criaturas majestosas e os seus habitats. A saúde das orcas é um reflexo da saúde dos nossos oceanos e, em última análise, do nosso planeta.
O estudo completo foi publicado na revista Relatórios Científicos.
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