Animais

Os tubarões cinzentos de recife podem parar e descansar, o que se pensava ser impossível

Santiago Ferreira

Um estudo sobre tubarões cinzentos de recife nas Seicheles está a desafiar crenças de longa data sobre a respiração e os padrões de sono dos tubarões.

A investigação contradiz a crença de longa data de que alguns tubarões, conhecidos como ventiladores obrigatórios, devem nadar constantemente para respirar.

Ciência da respiração do tubarão

Tradicionalmente, os especialistas acreditavam que os tubarões empregavam dois métodos principais de respiração: ventilação forçada e bombeamento bucal.

Acreditava-se que os ventiladores de carneiro, como o tubarão cinzento dos recifes, exigiam movimento constante para forçar a água sobre as guelras.

Por outro lado, os bombeadores bucais podem bombear água ativamente enquanto estão parados. Esta distinção tem implicações significativas na forma como estas criaturas descansam e potencialmente dormem.

Descoberta surpreendente

“Em mergulhos de pesquisa de rotina em torno de D’Arros, encontramos tubarões cinzentos de recife descansando sob bordas de recifes de coral”, disse o Dr. Robert Bullock, diretor de pesquisa do Centro de Pesquisa Save Our Seas D’Arros (SOSF-RDC).

A equipe observou os tubarões descansando sozinhos e em grupos, mostrando sinais do que poderia ser considerado sono.

“Isso não é algo que acreditávamos que eles poderiam fazer. O tubarão cinzento de recife tem sido considerado uma espécie que ventila os carneiros, incapaz de descansar, por isso encontrá-los descansando vira de cabeça para baixo a nossa compreensão fundamental sobre eles”, disse o Dr.

Repensando o sono do tubarão

Os tubarões demonstraram movimentos da mandíbula inferior, sugerindo uma mudança da ventilação forçada para o bombeamento bucal. Esta é uma adaptação notável para uma espécie que anteriormente se acreditava ser incapaz de tal comportamento.

“Há algo muito especial em andar na ponta dos pés debaixo d’água a uma profundidade de 25 metros e olhar nos olhos abertos dos tubarões adormecidos, movendo-se com cuidado para não acordar as belezas pacíficas”, disse Craig Foster, fundador do Projeto SeaChange.

“Adoro coisas que desafiam o nosso pensamento atual e sempre pensei no tubarão cinzento dos recifes como um exemplo claro de uma espécie que precisa de nadar para respirar. Claramente não desta descoberta!”

Surgem novas questões

A investigação apresenta questões essenciais sobre os padrões de repouso e potenciais padrões de sono dos tubarões, particularmente aqueles considerados ventiladores obrigatórios.

“Isso levanta todos os tipos de outras questões. Como eles estão lidando com isso? Quanto tempo para? Com que frequência? Ainda temos muito a aprender e, para mim, isso é emocionante”, disse o Dr. James Lea, CEO da Save Our Seas Foundation.

Implicações do estudo

Os pesquisadores planejam explorar como esses comportamentos impactam o uso que os tubarões fazem de seu ambiente. Eles notaram que se o tubarão cinzento de recife puder mudar seu modo de respirar e descansar, há mais para descobrir sobre tubarões semelhantes.

“É fundamental compreender como utilizam o seu ambiente e também como este pode mudar em resposta às mudanças nas condições ambientais”, explicou a Dra. Lea.

“Quão importante é este descanso, ou possível sono, para os tubarões? E qual será o impacto sobre eles se não conseguirem descansar se as condições mudarem, como o aumento ou a diminuição dos níveis de oxigênio devido a uma mudança climática?”

“Espero que essas descobertas sirvam como um lembrete do quanto ainda não sabemos e de como isso é emocionante”, disse o Dr. Bullock. “A ciência consiste em estar bastante errado. E tudo bem.”

O estudo está publicado no Jornal de Biologia de Peixes.

Crédito do vídeo: Filmado por Craig Foster | © Fundação Salve Nossos Mares

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago