Pesquisas recentes revelaram um aspecto fascinante do comportamento dos peixes: indivíduos da mesma espécie de peixe podem desenvolver personalidades únicas de alimentação e adaptar o seu olfato para prosperar em diversos habitats.
Este estudo foi conduzido por uma equipe do Instituto de Neurociências Paris-Saclay (NeuroPSI – CNRS, Université Paris-Saclay), França.
Personalidades dos peixes e evolução sensorial
Os pesquisadores se concentraram nas larvas do peixe caverna mexicano, examinando especificamente os padrões de natação espontânea e as variações em seus sentidos olfativos. Este estudo esclarece a notável adaptabilidade dos peixes ósseos, que representam metade de todas as espécies de vertebrados.
“Com mais de 26.000 espécies representando metade de todos os vertebrados, os peixes ósseos são extremamente diversos e colonizaram todos os nichos ecológicos possíveis, através da sua capacidade de adaptar os seus sistemas sensoriais”, explica Maryline Blin, autora principal e engenheira de investigação da NeuroPSI.
Apesar da rica diversidade de espécies de peixes, a maioria dos estudos comportamentais limitou-se a alguns modelos, como o peixe-zebra. Esta investigação inova ao ligar a evolução dos sistemas sensoriais dos peixes ao seu comportamento, uma área largamente inexplorada que tem dificultado comparações entre espécies.
A equipe escolheu dois subtipos da espécie tetra mexicana para seu estudo: uma variante cega que vive em cavernas e sua contraparte que vive na superfície do rio. Apesar da composição genética semelhante relacionada ao cheiro, os peixes que vivem em cavernas desenvolveram poços olfativos maiores e diferentes composições nervosas, possivelmente como uma característica adaptativa para a sobrevivência em habitats subterrâneos escuros.
Respostas comportamentais a dicas alimentares
Curiosamente, o estudo revelou que os peixes que vivem em cavernas mostraram uma resposta comportamental pronunciada à alanina, um sinal alimentar comum. Esta resposta incluiu diminuição da natação para frente e para trás e uma tendência a nadar em direção à fonte de aminoácidos.
Em contraste, os peixes que vivem na superfície exibiram respostas mais sutis e específicas para cada indivíduo, indicando uma divergência evolutiva significativa na percepção sensorial e no comportamento entre os dois subtipos.
Análises adicionais revelaram diferenças individuais na resposta a vários aminoácidos em peixes que vivem em cavernas e na superfície.
Peixes de superfície com velocidades de natação iniciais mais lentas demonstraram melhores habilidades olfativas para certos odores, uma característica não observada em peixes que vivem em cavernas. Em vez disso, um padrão de natação único no peixe-caverna era indicativo de capacidades olfativas mais fortes.
O papel das ‘personalidades’ no comportamento dos peixes
A autora sênior Sylvie Rétaux, Diretora de Pesquisa da NeuroPSI – CNRS, Université Paris-Saclay, explica: “Desenvolvemos um teste de olfato específico de alto rendimento para comparar as respostas comportamentais individuais de peixes cegos e videntes a diferentes odores. Ao fazê-lo, excluímos a possibilidade de que, quando dentro de um grupo, um indivíduo ‘bem cheiroso’ pudesse levar outros a responder.”
O teste de olfato específico e de alto rendimento da equipe garantiu respostas individuais precisas, eliminando a influência de um único “cheiroso bom” liderando o grupo.
“Em vez disso, as nossas gravações de várias centenas de peixes individuais destacam um aspecto muitas vezes esquecido das análises comportamentais dos peixes: que os peixes podem ter uma ‘personalidade’ ou ‘temperamento’ que influencia o seu comportamento e, consequentemente, o seu sucesso em responder aos sinais ambientais,” Conclui Rétaux. “Além disso, o bom olfato no peixe caverna é uma característica geneticamente codificada, por isso vamos agora procurar ativamente os fundamentos genéticos desta especialização sensorial.”
Em resumo, esta pesquisa abre caminho para uma maior exploração da base genética da especialização sensorial em peixes. Enfatiza a complexidade do comportamento dos peixes e a importância de considerar as variações individuais em estudos ecológicos e evolutivos.
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