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Os invernos vulcânicos enfraqueceram os dinossauros antes da queda do asteróide

Santiago Ferreira

Um estudo recente realizado por uma equipa de investigadores de Itália, Noruega, Canadá e EUA sugere que antes da sua eventual extinção, os dinossauros podem ter enfrentado repetidos “invernos vulcânicos” que os deixaram num estado enfraquecido.

Estas descobertas provêm de uma análise de gases de enxofre e flúor presos em antigas rochas vulcânicas do supervulcão Deccan Traps, que entrou em erupção cerca de 200.000 anos antes do impacto do asteróide que se acredita ter causado a extinção dos dinossauros.

Estudando invernos vulcânicos

O estudo, que se concentra nestes gases, revela que a sua libertação pode ter causado uma queda das temperaturas globais até 18 graus Fahrenheit (10 graus Celsius).

Esta descoberta contribui para o debate contínuo entre paleontólogos e cientistas sobre a causa precisa do desaparecimento dos dinossauros. A investigação alinha-se com o “modelo de extinção pressão-pulso”, que sugere que uma combinação de factores levou ao evento de extinção.

Condições climáticas instáveis

“A nossa investigação demonstra que as condições climáticas eram quase certamente instáveis, com repetidos invernos vulcânicos que poderiam ter durado décadas, antes da extinção dos dinossauros”, disse o coautor do estudo Don Baker, geólogo da Universidade McGill, em Montreal.

“Nosso trabalho ajuda a explicar este significativo evento de extinção que levou ao surgimento dos mamíferos e à evolução da nossa espécie.”

Como a pesquisa foi conduzida

A equipe analisou compostos de enxofre e flúor em amostras das Armadilhas Deccan, nos Ghats Ocidentais da Índia, perto de Bombaim. Eles empregaram espectrometria de fluorescência de raios X com radiação síncrotron para medir as concentrações desses compostos. Baker comparou o processo ao cozimento de macarrão, onde uma pequena quantidade de sal da água fervente é absorvida pela massa.

Da mesma forma, a equipe estimou o volume de gases enxofre e flúor que entraram na atmosfera durante o período Cretáceo com base na presença dos compostos nas rochas de lava.

Insights críticos

Notavelmente, os investigadores descobriram que o maior teor de enxofre, tão elevado como 1.800 partes por milhão, estava correlacionado com uma queda na temperatura durante o final do período Cretáceo. Eles estimaram que entre 86 mil e 466 mil quilômetros cúbicos de gás enxofre foram liberados na atmosfera, levando a mudanças climáticas significativas.

Embora a equipa não tenha atribuído grandes alterações climáticas aos gases de flúor, notaram os efeitos locais tóxicos destes gases, incluindo chuva ácida, quebra de colheitas e envenenamento de gado, conforme observado em relatos históricos das erupções do vulcão Laki na Islândia no século XVIII. Esses efeitos podem ter impactado de forma semelhante o ambiente dos dinossauros.

Vários gatilhos

Os pesquisadores concluem que a atividade vulcânica das Armadilhas Deccan preparou o cenário para uma crise biótica global, desencadeando repetidos invernos vulcânicos curtos.

No entanto, acreditam que o “golpe final” foi o impacto do asteróide Chicxulub no México, que causou uma enorme devastação ambiental. Este impacto, combinado com a atividade vulcânica anterior, provavelmente acelerou a extinção dos dinossauros.

Implicações do estudo

O estudo, publicado na revista Avanços da Ciênciadestaca a intrincada interação de fatores ambientais que levaram a um dos eventos de extinção mais significativos da Terra.

“O nosso conjunto de dados indica que a perturbação climática provocada pelos vulcões já estava em curso”, observaram os investigadores, sublinhando a complexidade dos eventos que levaram ao fim da era dos dinossauros.

Mais sobre invernos vulcânicos

Como mencionado acima, os invernos vulcânicos são eventos climáticos resultantes de grandes erupções vulcânicas que injetam grandes quantidades de cinzas e dióxido de enxofre (SO2) na estratosfera terrestre. Vamos cavar um pouco mais fundo.

Mecanismo dos invernos vulcânicos

Dinâmica de Erupção: Grandes erupções vulcânicas expelem cinzas e gases para o alto da estratosfera.

Formação de Aerossóis de Enxofre: O dióxido de enxofre reage para formar aerossóis de ácido sulfúrico, que refletem a luz solar para longe da Terra, levando ao resfriamento.

Longevidade na Estratosfera: Estes aerossóis podem permanecer na estratosfera durante anos, prolongando o seu efeito de arrefecimento.

Impacto dos invernos vulcânicos no clima

Resfriamento Global: Os invernos vulcânicos normalmente resultam em uma queda notável nas temperaturas globais ou regionais.

Perturbações nos padrões climáticos: Estas mudanças de temperatura podem alterar os padrões climáticos normais, causando secas ou chuvas excessivas.

Impacto Agrícola: A redução da luz solar e as temperaturas mais frias afectam negativamente o rendimento das colheitas, podendo levar à fome.

Instâncias históricas

O ano sem verão (1816): Após a erupção do Monte Tambora em 1815, 1816 sofreu temperaturas drasticamente reduzidas, levando a perdas generalizadas de colheitas.

A catástrofe de Toba (cerca de 74.000 anos atrás): Acredita-se que a erupção do supervulcão Toba tenha causado um inverno vulcânico de uma década, impactando severamente as primeiras populações humanas.

Preocupações modernas e riscos futuros

Hoje, o monitoramento avançado e a modelagem climática permitem uma melhor previsão e preparação para invernos vulcânicos. Uma grande erupção hoje poderia ter um impacto significativo na nossa sociedade globalizada, enfatizando a necessidade de vigilância e preparação contínuas.

Em resumo, os invernos vulcânicos, embora raros, representam um risco significativo devido à sua capacidade de alterar o clima global e perturbar as atividades humanas. Compreender e preparar-se para estes eventos é crucial no nosso mundo cada vez mais interligado.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago