Meio ambiente

Natureza positiva até 2030: uma meta realista ou um sonho lavado de verde?

Santiago Ferreira

Uma nova investigação explora o desafio que o greenwashing representa ao conceito de “natureza positiva”, que visa travar o declínio ambiental e melhorar a biodiversidade. Enfatiza a necessidade de vigilância pública e de normas legais para identificar esforços ambientais genuínos, destacando a luta da Austrália para implementar este conceito nas suas políticas ambientais.

Os investigadores identificaram a ameaça que o greenwashing representa para alcançar um mundo “positivo para a natureza”, onde o declínio ambiental seja interrompido e os resultados da biodiversidade melhorem.

O conceito de natureza positiva, semelhante ao equivalente em biodiversidade a um objetivo climático “net zero”, prevê um planeta onde a natureza melhore globalmente, superando os esforços atuais destinados principalmente a mitigar os danos.

Natureza positiva: essencial para impedir a extinção em massa

A professora Martine Maron, da Universidade de Queensland, que liderou o trabalho, disse que a natureza positiva é essencial para impedir o atual evento de extinção em massa no mundo.

“Países de todo o mundo estão a começar a apoiar o conceito – mais de 90 líderes mundiais assinaram o Compromisso dos Líderes pela Natureza, apelando a um futuro positivo para a natureza até 2030. E 11 das empresas globais da Fortune 100 já aspiram contribuir para natureza positiva. Esta é uma notícia fantástica, mas estas ambições louváveis ​​não devem ser postas de lado por um inimigo bem conhecido do movimento ambientalista: o greenwash.”

Greenwash refere-se à publicidade enganosa ou enganosa divulgada por uma organização para apresentar uma imagem pública ambientalmente responsável.

O papel do escrutínio público e das normas legais

Professor EJ Milner-Gulland da Universidade de Oxford disseram que esperam que o público não fique com a proverbial lã puxada sobre os olhos.

“Nossa mensagem ao público é que é extremamente importante examinar minuciosamente essas alegações”, disse o professor Milner-Gulland.

“Tal como acontece com o termo ‘net zero’, em breve começaremos a ver as empresas a quem compramos e os governos em que votamos a afirmar que estão a ser, a fazer ou a contribuir para a natureza de forma positiva.

“Mas, para ser claro, tal conquista só será possível se mudarmos fundamentalmente a forma como gerimos a nossa sociedade e economia.

“O que realmente precisamos é de padrões, para que fique claro o que constitui informação enganosa, e de transparência para que os consumidores e os eleitores possam distinguir o greenwash dos esforços genuínos para a mudança.”

As reformas da legislação ambiental da Austrália e o longo caminho pela frente

A Austrália está actualmente a enquadrar as suas reformas legislativas ambientais nacionais em torno do conceito de natureza positiva.

“Para que estas iniciativas alcancem verdadeiramente esse objectivo, terão de ser substanciais e de longo alcance, evitando a acumulação de novos impactos, especialmente na nossa biodiversidade ameaçada”, disse o Professor Maron.

“Centenas de milhares de hectares de habitat ainda são desmatados na Austrália todos os anos, por isso ainda temos um longo caminho a percorrer antes de podermos dizer que somos positivos para a natureza.”

Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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