Meio ambiente

Misturas de pesticidas interrompem a comunicação das abelhas melíferas e a função das colônias

Santiago Ferreira

As abelhas são polinizadores essenciais que contribuem para a produção de muitas culturas e plantas. No entanto, também enfrentam múltiplas ameaças, como perda de habitat, parasitas, doenças e pesticidas.

Entre estes, os pesticidas são particularmente preocupantes, pois podem prejudicar a capacidade das abelhas de comunicarem entre si através de sinais químicos.

O papel do cheiro na sociedade das abelhas melíferas

As abelhas vivem em comunidades complexas e dinâmicas, onde trocam informações constantemente através de produtos químicos que servem como sinais sociais.

Esses produtos químicos, chamados feromônios, podem transmitir diversas mensagens, como a necessidade de comida, a presença de perigo ou a qualidade de um parceiro em potencial.

Por exemplo, as abelhas enfermeiras, responsáveis ​​por cuidar das larvas que se tornarão rainhas ou operárias, utilizam feromônios para monitorar o desenvolvimento e as necessidades nutricionais das larvas.

As larvas emitem feromônios de cria para indicar que estão com fome e precisam ser alimentadas. Da mesma forma, as abelhas operárias produzem feromônios de alarme para alertar suas companheiras de ninho sobre um intruso ou predador.

Para perceber esses feromônios, as abelhas dependem do olfato, que é mediado pelas antenas.

As antenas contêm células sensoriais que podem detectar diferentes odores e enviar sinais elétricos ao cérebro. O cérebro então processa esses sinais e desencadeia respostas comportamentais apropriadas.

Por exemplo, quando uma abelha sente o cheiro do feromônio de alarme, ela fica mais alerta e agressiva, pronta para defender a colônia.

O impacto dos pesticidas e adjuvantes no cheiro das abelhas

Os pesticidas são produtos químicos usados ​​para controlar pragas, como insetos, fungos ou ervas daninhas, que podem prejudicar colheitas ou plantas.

No entanto, os pesticidas também podem ter efeitos indesejados em organismos não visados, como as abelhas.

Em particular, os pesticidas podem interferir com o sentido do olfato das abelhas, o que pode perturbar os seus sinais sociais e afectar o funcionamento da colónia.

Uma das maneiras pelas quais os pesticidas podem afetar o cheiro das abelhas é danificando diretamente suas antenas ou células sensoriais.

Isto pode reduzir a capacidade das abelhas de detectar ou discriminar entre diferentes odores, ou alterar a sua sensibilidade a certos cheiros.

Por exemplo, um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign descobriu que a exposição a um inseticida comumente usado, chamado Altacor, reduziu a resposta das abelhas aos feromônios de cria, o que poderia prejudicar seu comportamento de amamentação.

Outra forma pela qual os pesticidas podem afetar o cheiro das abelhas é interagindo com outros produtos químicos usados ​​em combinação com eles.

Esses produtos químicos, chamados adjuvantes, são adicionados às formulações de pesticidas para aumentar sua eficácia ou aplicação. Os adjuvantes podem aumentar a “aderência” do pesticida, fazendo com que ele permaneça mais tempo nas plantas.

No entanto, os adjuvantes também podem ter efeitos adversos nas abelhas, isoladamente ou em combinação com pesticidas ou fungicidas. O mesmo estudo realizado pelos pesquisadores de Illinois descobriu que a exposição a um adjuvante comumente usado, chamado Dyne-Amic, reduziu a resposta das abelhas aos feromônios de alarme, o que poderia afetar seu comportamento defensivo.

Os pesquisadores também descobriram que a exposição a uma mistura de Dyne-Amic, Altacor e um fungicida, chamado Tilt, teve um efeito sinérgico, o que significa que a combinação era mais prejudicial do que a soma de suas partes.

A mistura reduziu a resposta das abelhas aos feromônios de cria e de alarme, bem como aos odores florais, que poderiam afetar seu comportamento de forrageamento.

Os pesquisadores concluíram que esses pesticidas e adjuvantes comumente usados ​​podem interferir na comunicação das abelhas, afetando o olfato.

Eles sugeriram que são necessários mais estudos para compreender como estes produtos químicos interagem e influenciam as abelhas, e para desenvolver alternativas mais seguras que possam proteger tanto as culturas como os polinizadores.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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