Uma fazenda que usou um composto do Agente Laranja está ligada à maior empresa de processamento de carne do mundo, a JBS, de acordo com um novo relatório.
Um coquetel destrutivo de herbicidas, incluindo um composto essencial no desfolhante letal Agente Laranja, está sendo usado para desmatar quimicamente grandes áreas do Brasil, enquanto fazendeiros buscam novas maneiras menos detectáveis de limpar florestas para pastagem de gado.
Um relatório publicado na terça-feira pelo grupo de defesa ambiental Mighty Earth, com reportagem do Reporter Brasil, diz que parte do desmatamento está ligado às empresas brasileiras de carne bovina, incluindo a JBS, a maior processadora de carne do mundo, e que a carne bovina criada na terra acabou nas principais redes de supermercados do Brasil.
João Gonçalves, diretor sênior da Mighty Earth no Brasil, chamou a tática de “uma nova guerra devastadora contra a natureza, travada pela indústria da carne bovina”.
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Em 2022, as autoridades brasileiras receberam uma denúncia de que um importante fazendeiro no estado do Mato Grosso estava usando uma mistura de 25 herbicidas, incluindo 2,4-D — um dos principais componentes do Agente Laranja — para matar árvores no Pantanal, a maior área úmida tropical do mundo. No início deste ano, os investigadores multaram o fazendeiro, Claudecy Oliveira Lemes, no equivalente a cerca de US$ 520 milhões — a maior multa já imposta na região — por usar a mistura para destruir mais de 80.000 hectares de floresta. Os investigadores basearam seu caso contra Lemes em amostras de solo e vídeos aéreos, de acordo com o Reporter Brasil.
A investigação da Mighty Earth descobriu que uma das fazendas de Lemes está ligada a cadeias de suprimentos que fornecem carne bovina para a JBS e outras empresas brasileiras de carne bovina, e as quatro maiores redes de supermercados do Brasil. A JBS, a maior produtora de carne bovina do mundo com grandes operações nos Estados Unidos, não respondeu aos pedidos de comentários.
A indústria da carne bovina tem sido há muito tempo ligada ao desmatamento na Amazônia brasileira, a maior floresta tropical do mundo, e à região vizinha do Cerrado, considerada a savana mais biodiversa do mundo. O Pantanal, ao sul da Amazônia, parece ser a próxima fronteira.
Sob o atual governo brasileiro, que fez da redução do desmatamento uma prioridade, as taxas de destruição florestal diminuíram na Amazônia, mas aumentaram no Cerrado e no Pantanal.
“Estamos protegendo a Amazônia, mas estamos deixando todos os outros biomas desprotegidos”, disse Mariana Perozzi Gameiro, consultora da Mighty Earth que trabalhou no relatório. “O Pantanal é o novo alvo.”
As agências ambientais, grupos de defesa e pesquisadores do Brasil normalmente contam com dados de satélite para detectar o desmatamento, que geralmente é realizado com maquinário ou incêndios deliberadamente provocados. Neste caso, Lemes supostamente derrubou a mistura química de um pequeno avião. Os produtos químicos na mistura, incluindo 2,4-D, são legais para uso agrícola no Brasil, mas não em árvores.
“O desmatamento tradicional é facilmente visto por imagens de satélite”, disse Gameiro, explicando que o 2,4-D é mais difícil de detectar porque ele age lentamente. “Primeiro as folhas caem, depois ele progride.”
No Brasil, lar de alguns dos biomas mais críticos do planeta, a produção de carne bovina e soja é responsável por entre 70 e 90 por cento do desmatamento. (A maior parte da soja cultivada no Brasil é usada para alimentar o gado.) O país é o maior exportador de carne bovina do mundo. Globalmente, o apetite por carne bovina continua a crescer, e o consumo de carne deve continuar subindo 50 por cento em 25 anos.
O gado é, de longe, o gado que mais emite gases de efeito estufa, e pesquisas recentes concluíram que as emissões da produção de alimentos, principalmente da carne bovina, aumentarão 60% até meados do século, colocando as metas climáticas globais fora de alcance.
O Pantanal e outras partes do Brasil estão sofrendo atualmente com grandes incêndios que o governo brasileiro atribuiu a incêndios criminosos e deliberados. De acordo com autoridades brasileiras, o Pantanal sofreu um aumento de quase 4.000 por cento em incêndios em agosto em relação ao mesmo mês do ano passado.
“Neste momento, o Brasil está em chamas com incêndios florestais devastando o país, causados em grande parte por atividades criminosas impulsionadas pela agricultura”, disse Gonçalves em um comunicado à imprensa. “O Pantanal não pode suportar tanto os incêndios quanto o desmatamento químico desenfreado, que não apenas deixa árvores nuas em vastas áreas, mas envenena ecossistemas inteiros.”
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