Animais

As baleias jubarte mudaram seus rituais de canto para longe da costa

Santiago Ferreira

Nas águas serenas de Maui durante os meses de inverno, o canto melódico das baleias jubarte preenche a paisagem sonora marinha.

Apesar da extensa investigação que abrange décadas, muitos aspectos do comportamento das baleias jubarte e do seu canto complexo permanecem enigmáticos.

Pesquisas recentes, no entanto, começaram a desvendar alguns destes mistérios, oferecendo novos insights sobre os padrões diários destas criaturas majestosas.

Decodificando canções de baleias jubarte

O estudo, liderado pela Universidade do Havaí em colaboração com o Santuário Marinho Nacional da Baleia Jubarte das Ilhas Havaianas da NOAA, observou um intrigante padrão de movimento diário entre as baleias.

Esses gentis gigantes tendem a se afastar da costa durante o dia, apenas para retornar quando a noite se aproxima.

Este padrão de migração não é apenas um movimento aleatório, mas parece ser uma escolha estratégica das baleias.

Anke Kügler, autora principal do estudo e estudante de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biologia Marinha da UH Mānoa na época da pesquisa, compartilhou seus insights.

“Os cantores podem estar tentando reduzir as chances de seu canto ser abafado pela cacofonia perto da costa quando o número de baleias é alto”, explicou Kügler.

Ela observou ainda que o movimento das baleias em direção à costa perto do pôr do sol pode ser para evitar o coro noturno de outros animais marinhos.

Aprendendo como e quando as baleias jubarte cantam

A metodologia por trás desta pesquisa sobre baleias jubarte foi tão inovadora quanto suas descobertas.

Ao empregar uma combinação de dispositivos de escuta subaquática e pesquisas visuais, a equipe rastreou com sucesso os movimentos e os padrões acústicos das baleias em seus locais de reprodução de alta densidade.

Esta dupla abordagem permitiu uma compreensão abrangente do comportamento das baleias.

Marc Lammers, coautor do estudo e ecologista pesquisador do Santuário Marinho Nacional da Baleia Jubarte das Ilhas Havaianas da NOAA, destacou a importância desse movimento.

“Este movimento dinâmico de cantores onshore-offshore pode ter como objetivo aumentar a eficiência da exibição acústica das baleias, garantindo que outras baleias ouçam o seu canto”, disse ele.

Localização com sensores acústicos

O estudo não apenas acompanhou esses movimentos, mas também explorou as razões por trás deles. Kügler falou sobre a abordagem única adotada pela equipe.

“Este é o primeiro esforço desse tipo, até onde sabemos, no qual usamos sensores acústicos especializados para localizar cantores individuais relativamente próximos da costa para entender as variações diárias em sua distância da costa, seu espaçamento e seu comportamento de movimento”, disse ela. .

Esta estratégia ajudou a equipa a contextualizar os resultados visuais e a resolver algumas limitações inerentes às observações terrestres.

O canto da baleia jubarte, considerado crucial para a reprodução, assume um novo significado à luz destas descobertas.

O estudo destaca os desafios que os cantores enfrentam em um ambiente repleto de atividade acústica.

Poluição sonora vs. ruído natural

A equipe identificou os principais fatores para as migrações diárias das baleias – ambientes próximos à costa lotados durante o dia e áreas offshore barulhentas à noite devido ao coro de outros animais marinhos.

Kügler também lançou luz sobre uma questão ecológica mais ampla – a poluição sonora. “As discussões sobre a poluição sonora relacionada aos mamíferos marinhos têm sido dominadas por preocupações com o ruído antropogênico”, afirmou ela.

O estudo chama a atenção para o potencial mascaramento acústico de fontes naturais, como o canto de uma baleia mascarando o de outra, um fator frequentemente esquecido em pesquisas anteriores.

A compreensão desses fatores naturais acrescenta profundidade ao nosso conhecimento de como os animais que dependem de sinais acústicos se adaptam a ambientes barulhentos.

Baleias jubarte e cultura havaiana

As baleias jubarte do Havaí são ecológica e economicamente significativas, ao mesmo tempo que ocupam um lugar especial no patrimônio cultural da região.

Seu canto é reconhecido e apreciado em todo o mundo. Lammers enfatizou a responsabilidade partilhada na protecção destas criaturas magníficas.

“É nossa kuleana (responsabilidade) coletiva ser os administradores das koholā (baleias jubarte)”, observou ele.

Lammers sublinhou a importância desta investigação no cumprimento do plano de gestão do Santuário, que visa manter uma população de baleias saudável e sustentável.

Em resumo, esta investigação fornece novos conhecimentos sobre a compreensão do comportamento das baleias jubarte, sinalizando um salto em frente na nossa jornada para desvendar os mistérios destes cantores oceânicos.

O estudo completo foi publicado na revista Ciência Aberta da Royal Society.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago