Animais

Apocalipse dos insetos: a Australásia enfrenta uma crise oculta de polinização

Santiago Ferreira

Um novo estudo revela que a Australásia – incluindo a Austrália, a Nova Zelândia e as ilhas próximas – pode estar à beira de uma crise de polinização. A investigação da Universidade Macquarie destaca a necessidade urgente de intervenção para evitar repercussões devastadoras na biodiversidade e na segurança alimentar na região.

Falta de pesquisa

Os investigadores analisaram milhares de artigos de investigação globais sobre o declínio dos polinizadores devido às atividades humanas. Eles descobriram que, embora uma fração minúscula tenha mencionado a Australásia, os mesmos fatores que causam o declínio dos polinizadores no hemisfério norte também prevalecem nesta região.

A investigação da Europa e da América do Norte apontou ameaças como a perda de habitat natural, as alterações climáticas, a utilização de pesticidas, a propagação de agentes patogénicos e a introdução de novas espécies, todas contribuindo para o declínio de animais, incluindo aves e insectos, que servem como polinizadores, e, conseqüentemente, as plantas que polinizam.

Apocalipse dos insetos

“À primeira vista, parece que a Australásia se esquivou e perdeu o chamado apocalipse dos insetos e outros declínios nos polinizadores”, disse o professor honorário Graham Pyke.

No entanto, apesar da escassez de investigação relevante na Australásia, a equipa do Professor Pyke descobriu graves ameaças ambientais para os polinizadores locais, sugerindo que a crise de polinização da região foi ignorada.

“As mesmas ameaças ambientais às plantas e aos seus polinizadores estão a acontecer nesta região – mas não temos monitorizado o seu impacto”, disse o Professor Pyke.

Crise de polinização

As crises de polinização ocorrem quando há um declínio significativo, até ao ponto de extinção, dos animais que actuam como polinizadores e das plantas que eles polinizam.

“Esta não é uma questão trivial”, disse o professor Pyke. “Na Austrália, estimamos que 15 mil espécies de animais atuam como polinizadores de plantas. O declínio destas espécies polinizadoras irá repercutir-se nas cerca de 20.000 espécies de plantas com flores na Austrália que dependem ou beneficiam da polinização animal para se reproduzirem.”

“Isso inclui muitas plantas alimentícias, como a maioria das frutas e muitos vegetais, desde tomates e feijões até café, morangos, canola e até mesmo cacau – essencial para o chocolate, que depende parcial ou totalmente da polinização animal.”

É necessário um trabalho extenso

Para obter uma compreensão abrangente da situação e planear intervenções subsequentes, o Professor Pyke destacou a necessidade de recolher dados taxonómicos detalhados sobre a flora e a fauna da Australásia.

O coautor do estudo, Dr. Kit Prendergast, pesquisador adjunto da Curtin University, observou que negligenciar a conservação dos polinizadores indígenas locais agrava a crise de polinização.

Falta de investimento

A abelha europeia introduzida, embora fundamental na polinização de algumas culturas na Austrália, compete com as abelhas nativas e pode perturbar os sistemas de polinização estabelecidos.

“Existem atualmente 1.660 espécies de abelhas nativas descritas e centenas de outras que permanecem não descritas”, disse o Dr. “O investimento nessas abelhas é amplamente ofuscado pelo investimento nas abelhas introduzidas.”

Implicações do estudo

O co-autor do estudo, Professor Zong-Xin Ren, da Academia Chinesa de Ciências, planeja estender o estudo para incluir a China e outras partes da Ásia.

Os especialistas afirmam que a região precisa de intensificar a monitorização e melhoria das condições para os polinizadores, a fim de evitar impactos generalizados na segurança alimentar.

“Negligenciar a crise da polinização na Australásia poderia repercutir-se globalmente e até pôr em risco a biodiversidade e o abastecimento alimentar”, disse o Professor Pyke.

O estudo está publicado na revista Ecologia e Evolução.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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