As baleias beluga são conhecidas pela sua natureza altamente social e vocal e desempenham um papel crucial nos ecossistemas marinhos. Eles contam com a acústica para navegação, detecção de presas, prevenção de predadores e manutenção de laços sociais.
No entanto, em Cook Inlet, no Alasca, onde vive uma população de belugas criticamente ameaçada, estas comunicações vitais estão cada vez mais ameaçadas pelo ruído gerado pelo homem.
Esta é a conclusão de um estudo liderado pela Universidade de Washington, em colaboração com o Centro de Ciências Pesqueiras do Alasca, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, e o Departamento de Pesca e Caça do Alasca.
Ruído de envio
O estudo marca a primeira documentação detalhada dos padrões de comunicação destas baleias e a primeira análise quantitativa de como o ruído dos navios pode estar a ofuscar os seus cantos.
Os pesquisadores identificaram 41 tipos de chamadas distintos, sendo 18 exclusivos da população de Cook Inlet. De forma alarmante, o estudo observa que o ruído dos navios comerciais abafa completamente os chamados mais frequentemente utilizados pelas baleias.
Habitat crítico
Arial Brewer, autor principal do estudo e estudante de doutorado na Escola de Ciências Aquáticas e Pesqueiras da UW, enfatizou a importância deste habitat crítico para as baleias beluga.
“O principal habitat crítico para essas baleias é uma área muito barulhenta. A navegação comercial, um aeroporto internacional, operações militares e exploração de gás e petróleo estão todos concentrados lá”, disse Brewer.
“Uma lacuna de conhecimento fundamental para a população de belugas de Cook Inlet é como eles comunicam informações importantes. O primeiro passo é descrever seu repertório vocal. Com essas informações, podemos começar a entender se a comunicação deles é afetada por ruído causado pelo homem.”
Comunicação acústica
Compreender como as belugas de Cook Inlet se comunicam é vital, dado seu status precário. Cook Inlet, com a sua abundância de escoamento glacial, oferece pouca visibilidade, tornando a comunicação acústica essencial para estas baleias não migratórias.
As condições ambientais únicas da região, incluindo águas turvas, marés fortes e gelo sazonal, representam desafios significativos para a investigação.
Ruído o ano todo
“Todo esse ruído causado pelo homem significa que as belugas podem não ouvir comunicações críticas umas das outras, como gritos de alarme de predadores ou uma mãe chamando seu filhote”, disse Brewer.
Embora todas as baleias sejam afetadas pelo ruído, as belugas de Cook Inlet podem ser particularmente vulneráveis ao ruído como fator de estresse.
“Cook Inlet é extremamente turvo durante todo o ano devido ao escoamento glacial. Parece leite com chocolate”, explicou Brewer. “A comunicação acústica é extremamente importante para esta população porque a visibilidade é muito fraca. E, ao contrário de outras populações de belugas do Ártico, esta população não é migratória, por isso estão expostas a este ruído durante todo o ano.”
Foco do estudo
O Programa Cook Inlet Beluga Acoustics monitora baleias beluga e ruído antropogênico desde 2008 usando gravadores acústicos passivos montados no fundo.
O estudo se concentrou em gravações de 2018 a 2019, classificando as vocalizações da beluga em assobios, chamados pulsados e chamados combinados, dividindo-os ainda em 41 tipos únicos.
A extensa experiência de Brewer, envolvendo milhares de horas de audição, destaca a importância de descobrir novos tipos de chamadas.
Isolamento geográfico e genético
O estudo sugere que embora algumas chamadas sejam partilhadas entre populações, outras são únicas, potencialmente influenciadas por factores evolutivos, ambientais ou culturais. A singularidade dos cantos das belugas de Cook Inlet pode resultar de seu isolamento geográfico e genético de longo prazo.
Um aspecto crítico da pesquisa foi analisar como o ruído causado pelo homem, especialmente o da navegação comercial, afeta essas baleias.
Principais insights
O estudo revelou que os tipos de chamadas mais comumente usados eram parcial ou completamente mascarados pelo ruído do navio, com cada passagem do navio potencialmente interrompendo a comunicação da beluga por quase duas horas. Isto é particularmente preocupante dado o elevado volume de tráfego marítimo comercial na área.
Quase 500 navios comerciais utilizam o Porto do Alasca todos os anos, com uma média de 8 a 10 navios indo e vindo por semana. Estima-se que cada passagem de navio abafou a comunicação da beluga no local de estudo por uma hora e 50 minutos em média.
Implicações do estudo
“Nossos resultados sugerem que cada vez que um navio comercial transita pelas rotas marítimas do Porto do Alasca, a comunicação da beluga Cook Inlet pode ser fortemente impactada em seu habitat principal”, disse Brewer.
“Os humanos são uma espécie muito visual. É difícil para nós compreender o quão barulhento é sob a superfície do oceano e quanto o ruído afeta os mamíferos marinhos, como as belugas. Esperamos que as nossas descobertas levem a estudos adicionais para melhor informar a gestão sobre estes tipos de impactos causados pelo homem.”
O estudo está publicado no Jornal da Sociedade Acústica da América.
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