Durante anos, a atração enigmática dos insetos voadores por fontes de luz artificial intrigou cientistas e poetas.
A crença comum de que estas criaturas são simplesmente atraídas pelo brilho das luzes, como as mariposas pela chama, tem sido desafiada por pesquisas recentes.
Este estudo, conduzido pelo Departamento de Bioengenharia do Imperial College London, lança uma nova luz sobre o fenómeno, propondo que as luzes artificiais à noite perturbam os sistemas de navegação inatos dos insectos, em vez de os atrair.
Insetos e luz: desmascarando mitos com a ciência
A fototaxia, ou movimento dos organismos em resposta à luz, tem sido tema de interesse entre pesquisadores há décadas.
Várias teorias foram propostas para explicar por que os insetos noturnos são tão frequentemente encontrados em espiral em torno da luminescência artificial, desde confundir essas luzes com lacunas na folhagem até usá-las como auxílios à navegação.
Alguns até sugeriram que os insetos são atraídos pelo calor das luzes ou ficam desorientados pelo seu brilho.
Interrupção da navegação por atração
A pesquisa, liderada pelo Dr. Samuel Fabian, do Imperial College London, apresenta uma nova teoria. Ele postula que os insetos voadores não são atraídos pela luz artificial, mas ficam desorientados, confundindo-a com o céu.
Essa confusão leva a padrões de voo erráticos e, em última análise, a colisões com a fonte de luz.
Fabian explica: “Queríamos entender por que os insetos parecem incapazes de resistir a voar para dentro e ao redor de fontes de luz potencialmente fatais. Responder a esta pergunta poderia nos ajudar a compreender melhor o impacto dos humanos sobre os insetos e o mundo natural em geral.”
Modelos de computador inovadores
Utilizando técnicas avançadas, como estéreo-videografia na Costa Rica e captura de movimento de alta resolução e análises de computador em laboratório, os pesquisadores conseguiram reconstruir os movimentos 3D do voo dos insetos em torno da luminescência artificial.
Suas descobertas contradizem a crença predominante de que os insetos são atraídos pela luz vinda de longe. Em vez disso, os insetos só ficam presos se se aventurarem perto de uma fonte de luz artificial.
A uma certa distância, a sua inclinação natural para virar o dorso (topo) em direcção à luz – um comportamento benéfico em condições de iluminação natural – resulta no seu aprisionamento.
“Animais voadores precisam de uma forma confiável de determinar sua orientação, especialmente em relação à direção da gravidade. Com a ajuda de novas tecnologias que nos permitem rastrear os movimentos de pequenos insetos em condições difíceis e escuras, conseguimos entender como esses insetos se comportam em torno de diferentes fontes de luz”, disse o Dr. Fabian.
Comportamentos não naturais dos insetos: confusão induzida pela luz
O estudo observou três comportamentos distintos em insetos em torno da luminescência artificial: órbita, estagnação e inversão.
Esses comportamentos sugerem que os insetos tentam continuamente se orientar direcionando seu eixo dorsal para a luz, estratégia que falha em condições artificiais, levando a colisões.
Em experiências de laboratório com várias espécies de insectos, incluindo libélulas, mariposas e falcões, os investigadores descobriram que as luzes artificiais prejudicam significativamente a capacidade dos insectos de manter o controlo sobre a direcção do seu voo.
A modelagem computacional apoiou ainda mais a teoria de que essa desorientação decorre das tentativas dos insetos de orientar seus corpos em direção à luz.
Repensando a iluminação artificial
Esta pesquisa fornece o modelo mais plausível para explicar por que os insetos voadores são atraídos pela luminescência artificial, ao mesmo tempo que enfatiza o impacto da poluição luminosa gerada pelo homem na vida selvagem noturna.
Com a proliferação de fontes de luz artificial, como postes de iluminação pública e faróis de veículos, o céu noturno natural fica cada vez mais obscurecido, perturbando o comportamento natural dos insetos voadores.
Dr. Fabian enfatiza a importância de reavaliar o uso de luz artificial à noite, sugerindo que medidas como proteger as luzes e reduzir a iluminação externa desnecessária poderiam beneficiar significativamente a vida selvagem noturna.
Ele conclui: “A luz noturna é poluição e precisamos pensar nisso como tal. Pode ser que simplesmente cobrir e restringir as nossas luzes possa melhorar drasticamente a vida da nossa vida selvagem noturna.”
Implicações e pesquisas futuras
Em resumo, esta pesquisa fascinante marca um avanço significativo na compreensão dos efeitos da luz artificial nos insetos voadores e destaca a necessidade de uma investigação mais aprofundada sobre como a distância das fontes de luz afeta o comportamento dos insetos.
Fabian sente que são necessárias mais pesquisas, sugerindo: “Um próximo passo importante para esta pesquisa é descobrir como a distância altera o efeito das luzes à noite. Sabemos o que está acontecendo a 1 metro de uma luz, mas o que está acontecendo a 100 metros?”
Esta visão avança o nosso conhecimento sobre o comportamento dos insectos e leva a uma reavaliação do nosso impacto ambiental, incitando-nos a considerar soluções de iluminação mais amigas da vida selvagem.
O estudo completo foi publicado na revista Comunicações da Natureza.
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