Animais

Os animais vivem vidas mais saudáveis ​​quando suas emoções são reconhecidas

Santiago Ferreira

Os investigadores descobriram uma correlação significativa entre a saúde e o bem-estar dos animais de trabalho e as crenças que os proprietários têm sobre a sua capacidade emocional. Os especialistas descobriram que os animais cujos donos reconhecem as suas emoções são significativamente mais saudáveis ​​do que aqueles cujos donos não acreditam que os animais sintam emoções.

O estudo foi uma colaboração entre a Universidade de Portsmouth e o The Donkey Sanctuary – uma instituição de caridade de bem-estar animal focada em equídeos de trabalho, como burros, cavalos e mulas.

A comunidade científica há muito reconhece que os animais, incluindo os equídeos, têm vidas emocionais. Esta investigação é a primeira a explorar as implicações destas emoções no bem-estar dos animais de trabalho em vários países e contextos a nível mundial. A investigação abrangeu seis países – Egipto, México, Paquistão, Senegal, Espanha e Portugal – envolvendo comunidades onde os equídeos são uma parte central dos meios de subsistência das pessoas.

Como a pesquisa foi conduzida

O estudo envolveu visitas a essas comunidades, onde os pesquisadores aplicaram questionários aos proprietários dos equídeos, investigando suas crenças, valores e atitudes em relação aos seus animais.

Além disso, foi realizada uma avaliação detalhada do bem-estar dos animais, fornecendo dados empíricos sobre a saúde e a condição destes equídeos de trabalho.

Resultados notáveis

Os resultados do estudo, publicado no Jornal de ciência aplicada ao bem-estar animal, revelam uma tendência notável. Os equídeos cujos proprietários acreditavam na sua capacidade de sentir emoções ou tinham um vínculo emocional com elas demonstraram condições de saúde significativamente melhores. Eles tinham escores de condição corporal mais elevados em comparação com equídeos cujos proprietários não mantinham tais crenças ou viam os animais principalmente através da lente de sua utilidade ou lucratividade.

A pesquisa também revelou que os equídeos tinham muito menos probabilidade de coxear se seus donos acreditassem na sua capacidade de sentir dor. Estes padrões persistiram nos diversos contextos culturais e económicos dos seis países envolvidos no estudo.

A autora principal do estudo, Dra. Emily Haddy, é pesquisadora de pós-doutorado no Centro de Psicologia Comparada e Evolutiva da Universidade de Portsmouth.

“Sabemos que os sentimentos das pessoas em relação aos seus animais podem ter impacto no seu bem-estar, mas queríamos saber se isso difere entre culturas”, disse o Dr. Haddy.

Ela observou que este foi o primeiro estudo deste tipo a fazer estas ligações em vários países e contextos, enfatizando a influência substancial da relação entre os proprietários e os seus animais na saúde e no bem-estar animal.

Compaixão e bem-estar animal

A coautora do estudo, Dra. Faith Burden, é diretora executiva de Operações Equinas no The Donkey Sanctuary.

“Há muito que entendemos que os burros e as mulas são seres sensíveis e sencientes, que se saem melhor quando são tratados como indivíduos e com a bondade e o respeito que merecem”, disse o Dr.

Ela ressaltou que essas descobertas poderiam revolucionar futuras iniciativas de bem-estar, promovendo a conexão emocional e a consciência da senciência animal entre os proprietários de equídeos de trabalho em todo o mundo.

Por outro lado, a coautora do estudo, Dra. Leanne Proops, alertou contra suposições precipitadas sobre proprietários cujos animais apresentavam indicadores de saúde e bem-estar mais fracos. “É possível que estes proprietários simplesmente não tenham recursos para cuidar também dos seus animais e, como não gostam de pensar que eles sofrem, ajustam as suas crenças para pensar que os seus animais não sentem dor”.

Dr. Proops sugeriu que esta poderia ser uma técnica psicológica para minimizar o sofrimento quando o comportamento e as crenças não se alinham.

De acordo com os autores do estudo, as suas descobertas são um trampolim crucial para estabelecer a causalidade e promover uma compreensão mais profunda da compaixão e do bem-estar animal. Com mais pesquisas, esta descoberta poderá impulsionar avanços significativos na melhoria do bem-estar dos animais de trabalho em todo o mundo.

Mais sobre emoções animais

O estudo das emoções animais, muitas vezes referida como “neurociência afetiva”, avançou significativamente nas últimas décadas. Embora seja impossível saber exatamente o que um animal está sentindo porque não podemos perguntar diretamente, a pesquisa sugere que muitos animais experimentam uma série de emoções semelhantes às sentidas pelos humanos.

Os animais apresentam marcadores comportamentais, fisiológicos e neurobiológicos semelhantes às emoções humanas. Por exemplo:

Medo e ansiedade

Esta é talvez a emoção mais estudada em animais devido às suas implicações na sobrevivência. Os animais apresentam sinais claros de medo quando ameaçados, como aumento da frequência cardíaca, vocalizações específicas e comportamentos de evitação.

Alegria e prazer

Observou-se que animais exibem comportamentos que sugerem alegria e prazer. O comportamento lúdico de muitos animais, por exemplo, parece ser conduzido pelo puro prazer. Descobriu-se que ratos emitem vocalizações ultrassônicas, muitas vezes descritas como “risadas”, quando fazem cócegas. Os cães também apresentam comportamentos como abanar o rabo, pular e latir, que geralmente são interpretados como sinais de alegria.

Tristeza e pesar

As observações sugerem que alguns animais podem sofrer com a perda de companheiros. Elefantes e primatas, por exemplo, demonstraram comportamentos indicativos de luto, como permanecer perto do corpo de um membro falecido do grupo, exibir sinais de estresse ou depressão e diminuição do apetite.

Empatia e compaixão

Alguns animais também parecem demonstrar empatia, a capacidade de compreender e compartilhar os sentimentos do outro. Os ratos trabalharão para libertar outros ratos das gaiolas, demonstrando angústia quando seus pares estão angustiados. Os primatas também demonstram comportamentos que sugerem empatia, como confortar colegas que estão chateados.

Amor e carinho

Animais como cães, elefantes e primatas exibem comportamentos que sugerem fortes laços emocionais com outras pessoas, semelhantes ao amor e ao carinho. Eles cuidam um do outro, ficam próximos um do outro e mostram sinais de angústia quando separados.

A investigação neurobiológica apoia estas observações, uma vez que áreas do cérebro associadas às emoções nos humanos também são encontradas em muitos outros animais. Isso inclui a amígdala, que está envolvida no processamento das emoções, e na liberação de hormônios como a oxitocina e o cortisol, associados ao vínculo social e ao estresse, respectivamente.

No entanto, é importante notar que a interpretação do comportamento animal como indicativo de emoções específicas pode ser subjetiva, e são necessárias mais pesquisas para compreender completamente a complexidade e profundidade das emoções animais.

Além disso, embora muitos animais pareçam experimentar emoções básicas, a experiência de emoções mais complexas, como culpa, vergonha ou orgulho, ainda é um tema de debate entre os cientistas.

Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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