Animais

Novas espécies de crustáceos de profundidade descobertas nas Bahamas

Santiago Ferreira

No vasto e misterioso mundo da biologia marinha, uma recente descoberta de crustáceos despertou entusiasmo e abriu portas para uma maior compreensão dos oceanos do nosso planeta.

Uma equipe de biólogos marinhos internacionais, incluindo o Dr. Oliver Shipley, da Escola de Ciências Marinhas e Atmosféricas da Universidade Stony Brook (SoMAS), identificou uma nova espécie de isópode, um tipo de crustáceo, nas águas profundas das Bahamas.

Esta descoberta da nova espécie, denominada Booralana Nickorumenfatiza o quanto ainda temos que aprender sobre a vida oceânica.

Esta descoberta aumenta a nossa compreensão do papel integral que estas criaturas desempenham no ecossistema do fundo do mar e da sua contribuição para a biodiversidade global dos oceanos.

Vislumbre a diversidade de isópodes

Os isópodes, muitas vezes com apenas alguns centímetros de comprimento, são um grupo diversificado de crustáceos encontrados em todos os principais ecossistemas da Terra.

Datados de mais de 300 milhões de anos, eles se adaptaram a vários ambientes. Em habitats de águas profundas, actuam principalmente como necrófagos, desempenhando um papel crucial na reciclagem de energia.

Notavelmente, alguns isópodes podem sobreviver anos sem comida, uma característica Booralana Nickorum parece compartilhar.

Shipley destaca a importância desta descoberta, dizendo: “Este trabalho lança luz sobre a diversidade oculta destas espécies e revela quão pouco sabemos sobre os ecossistemas de águas profundas nas Bahamas”.

Ele também sugere que estas águas podem conter um “’baú do tesouro’ potencialmente escondido de biodiversidade não reconhecida”.

Descobrindo novos crustáceos

A jornada para esta descoberta começou em 2013, com o foco do Dr. Shipley no Exuma Sound para sua pesquisa de esclerose múltipla.

Em 2019, em colaboração com a OceanX e o Cape Eleuthera Institute, liderou uma expedição às águas profundas do Exuma Sound.

Esta expedição, parte de uma série que visa documentar a biodiversidade do fundo do mar em áreas até então inexploradas, levou à recuperação de espécimes para sequenciação genética e, em última análise, à descoberta de Booralana Nickorum.

Esta não é a primeira descoberta significativa da equipe em Exuma Sound, nas Bahamas. Em 2016 eles descreveram outra nova espécie de isópode Bathynomus maxeyorum.

Estas descobertas fazem parte de um projeto maior que explora padrões de biodiversidade e estruturas da cadeia alimentar na região.

Distinguindo novas espécies de Booralana

Curiosamente, antes destas descobertas, apenas uma única espécie de Booralana, Booralana tricarinataera conhecido por existir no noroeste do Oceano Atlântico.

A nova espécie, Booralana Nickorumdistingue-se por características morfológicas únicas, particularmente no seu pleotelson ou ‘cauda’.

A descoberta foi possível graças a uma colaboração que incluiu especialistas da Universidade de Massachusetts Amherst, como o professor Duncan Irschick.

O professor Irschick empregou novas tecnologias para criar modelos 3D do espécime que são bastante impressionantes.

Dr. Shipley também aponta as implicações mais amplas dessas descobertas.

“As Caraíbas albergam muitos ecossistemas de águas profundas que poderiam ser considerados imaculados, na sua maioria escondidos da exploração antropogénica, como a pesca em alto mar e a mineração”, explica Shipley.

“Portanto, fornecem uma base para comparar os efeitos da exploração que ocorrem em regiões menos preservadas. No entanto, estes sistemas não estão imunes aos impactos crescentes das alterações climáticas e da poluição, por isso é fundamental que compreendamos toda a extensão da biodiversidade suportada por estes ambientes de águas profundas.”

No entanto, alerta que estes ecossistemas não estão imunes aos impactos mais amplos das alterações climáticas e da poluição, tornando crucial compreender a biodiversidade que estes ambientes suportam.

Impacto educacional e envolvimento dos alunos

Na Stony Brook University, o Dr. Shipley estende sua paixão pela descoberta marinha para a sala de aula. Ele conduz um curso de campo anual no Cape Eleuthera Institute, onde estudantes, tanto de graduação quanto de pós-graduação, se envolvem diretamente na descoberta ativa ao lado de cientistas das Bahamas.

Este ambiente enriquece a experiência educacional dos alunos de Stony Brook e contribui para a exploração contínua dos ecossistemas subtropicais, incluindo o mar profundo.

Em resumo, a descoberta de Booralana Nickorum representa uma janela para a vida marinha amplamente inexplorada das Bahamas e sublinha a importância da investigação contínua nestes ecossistemas críticos.

À medida que nos aprofundamos nos mistérios do oceano, expandimos o nosso conhecimento científico e, ao mesmo tempo, aumentamos a nossa capacidade de proteger estes habitats vitais para as gerações futuras.

O estudo completo foi publicado na revista Zootaxa.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago