Meio ambiente

Naufrágios como recifes artificiais: um benefício para a conservação marinha

Santiago Ferreira

O oceano é o lar de milhões de espécies de vida marinha, desde o menor plâncton até as maiores baleias. No entanto, o oceano é também um local onde as atividades humanas deixaram a sua marca, sob a forma de naufrágios.

Naufrágios são embarcações naufragadas que podem ser encontradas em todos os cantos do mundo, desde as águas rasas da costa até os profundos abismos do mar. Alguns naufrágios são intencionais, como aqueles que são afundados deliberadamente para criar recifes artificiais ou atrações turísticas.

Outros são acidentais, como os causados ​​por tempestades, guerras ou erros humanos. Mas que impacto têm os naufrágios no ambiente marinho e na vida que o habita?

Eles são benéficos ou prejudiciais? Como podemos geri-los para garantir a sustentabilidade do oceano e dos seus recursos? Neste artigo, exploraremos essas questões e muito mais, com base nas mais recentes pesquisas e evidências científicas.

Naufrágios como recifes artificiais para peixes e corais

Um novo estudo revelou como os naufrágios estão a proporcionar um refúgio à vida marinha em áreas que ainda estão abertas a práticas de pesca destrutivas.

O estudo, conduzido pela Universidade de Plymouth e pela Blue Marine Foundation, descobriu que cerca de 50 mil naufrágios ao longo da costa do Reino Unido têm funcionado como santuários escondidos para peixes, corais e outras espécies.

Os pesquisadores usaram câmeras subaquáticas e pesquisas acústicas para comparar a biodiversidade e a biomassa de peixes e invertebrados em naufrágios e recifes rochosos naturais.

Eles descobriram que os naufrágios tinham maior diversidade e biomassa de peixes e invertebrados do que os recifes naturais, especialmente em águas mais profundas.

O estudo também descobriu que os naufrágios albergavam mais espécies de peixes tropicais e subtropicais do que os recifes naturais, sugerindo que os naufrágios podem facilitar o movimento destas espécies em direção aos pólos à medida que a temperatura dos oceanos aumenta devido às alterações climáticas.

Os investigadores concluíram que os naufrágios são habitats valiosos que devem ser protegidos da pesca e de outras atividades humanas que os possam danificar.

Recomendaram também que mais navios naufragados fossem deliberadamente colocados no oceano para criar recifes artificiais que pudessem melhorar o ecossistema marinho e apoiar a pesca.

Riscos e Desafios Ambientais

Embora alguns naufrágios possam beneficiar o ambiente marinho, outros podem representar sérias ameaças e desafios.

Naufrágios acidentais geralmente vêm carregados com materiais tóxicos que podem vazar para a água circundante e contaminar o fundo do mar.

Por exemplo, o MS Sea Diamond, um navio de cruzeiro que naufragou no Mar Egeu em 2007, transportava cerca de 1,7 toneladas de baterias, 150 televisores de tubo de raios catódicos e outros metais pesados ​​que podem prejudicar a vida marinha. O navio permanece submerso até hoje, apesar dos esforços para removê-lo.

Outro exemplo é o MV Rena, um navio porta-contêineres que encalhou em um recife de coral na costa da Nova Zelândia em 2011.

O navio derramou óleo e carga na água, causando graves danos ao recife e à vida selvagem. O navio acabou sendo resgatado, mas o recife ainda está se recuperando do impacto.

Os naufrágios acidentais também ocorrem frequentemente quando os navios colidem com recifes de coral escondidos, destruindo os habitats naturais que já estão ameaçados pelas alterações climáticas, poluição e pesca excessiva.

De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, mais de 100.000 naufrágios ocorreram em recifes de coral em todo o mundo desde 1970, afectando mais de 20% da área global de recifes5.

Portanto, é importante prevenir e mitigar os efeitos negativos dos naufrágios no ambiente marinho.

Isto pode ser feito melhorando a navegação e a segurança dos navios, aplicando os regulamentos e sanções para o transporte ilegal ou irresponsável, monitorizando e limpando os naufrágios que representam riscos ambientais e restaurando os recifes e habitats danificados.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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