Um estudo recente lançou luz sobre as maneiras intrigantes pelas quais os micos-marinhos, criticamente ameaçados, adaptam suas técnicas de comunicação, em resposta à poluição sonora induzida pelo homem, aumentando suas marcas de cheiro.
Comunicação em meio ao barulho urbano
Nativos de uma pequena extensão geográfica no centro do Brasil, a maioria da qual agora se encontra encapsulada na expansão urbana de Manaus, os micos-arlequim (Saguinus bicolor) empregam principalmente uma combinação de chamados vocais e marcas de cheiro para transmitir mensagens.
Mas à medida que as cidades crescem e os seus habitats naturais são continuamente fragmentados, a forma como estes primatas comunicam está a mudar drasticamente.
A pesquisa mais recente, liderada conjuntamente por especialistas da Universidade Federal do Amazonas e da Universidade Anglia Ruskin (ARU), examinou nove grupos distintos de micos-malhados selvagens. Com a ajuda do rastreamento por rádio, a equipe de pesquisa acompanhou cada grupo por um período de 10 dias.
Nestes habitats, as principais fontes de ruído de origem humana provêm do tráfego rodoviário. No entanto, ruídos de aeronaves, visitantes de parques e até operações militares também contribuíram para a cacofonia.
O papel vital das marcações olfativas
A comunicação intergrupal eficaz é crucial não apenas para a saúde, mas também para a própria sobrevivência de uma espécie. Os micos-areia recorrem a diversas marcações olfativas, cada uma com finalidades diferentes, como transmitir informações territoriais ou reprodutivas.
As descobertas convincentes do estudo revelaram uma correlação direta entre o aumento dos níveis de decibéis de ruído e a frequência das marcações olfativas. Isto indica que, à medida que a sua comunicação vocal fica abafada no meio do ruído urbano, estes primatas dependem cada vez mais de marcas olfativas.
Tainara Sobroza, autora principal da Universidade Federal do Amazonas, observou: “Os micos-malhados produzem cantos longos que são essenciais por inúmeras razões, incluindo comunicação intergrupal, demarcação de território e coesão de grupo. Com as paisagens urbanas invadindo constantemente os seus habitats, os nossos dados sugerem que as técnicas de comunicação destas criaturas estão a evoluir face ao ruído urbano.”
Adaptações evolutivas e conservação
Somando-se a isso, o Dr. Jacob Dunn, Professor Associado de Biologia Evolutiva na ARU, apontou que as atividades humanas alteraram enormemente as paisagens acústicas às quais muitas espécies foram originalmente adaptadas. Ele enfatizou: “O aumento na marcação de cheiros é provavelmente uma adaptação flexível a esta mudança drástica. É cativante notar que os micos-malhados estão ajustando seu comportamento diante do barulho da cidade.”
Embora as marcações olfativas ofereçam a vantagem de transmitir informações por um período prolongado, elas não correspondem ao alcance das chamadas vocais. À medida que estas criaturas descobrem que os seus habitats se tornam cada vez mais fragmentados, isto pode significar problemas para uma espécie já criticamente ameaçada.
Esta investigação fascinante, que lança luz sobre as mudanças comportamentais dos animais em ambientes urbanos, foi generosamente financiada por instituições conceituadas como a National Geographic Society, a Rufford Foundation, o Primate Action Fund e a International Primatology Society.
As descobertas foram divulgadas na revista Ethology Ecology & Evolution.
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