O mundo misterioso do comportamento das cascavéis ganhou destaque com uma descoberta inovadora feita por cientistas da Universidade de Loma Linda. O estudo, pioneiro na área, demonstra que a resposta ao estresse nas cascavéis pode ser atenuada quando na companhia de outra cobra.
Este comportamento surpreendente, conhecido como proteção social, é comparável à forma como os humanos encontram consolo uns nos outros durante momentos de maior tensão.
A descoberta desta actividade entre criaturas solitárias sugere uma profundidade de comportamento social que tinha sido anteriormente inexplorada no mundo dos répteis.
Buffer social
O amortecimento social é um fenômeno em que a presença de um companheiro leva à diminuição dos níveis de estresse do indivíduo. Embora este comportamento tenha sido estudado extensivamente em animais altamente sociáveis, como mamíferos e aves, a sua manifestação em cascavéis é uma revelação recente.
Os pesquisadores descobriram que os distúrbios levaram a uma redução significativa na mudança nos batimentos cardíacos das cascavéis quando outra cobra estava nas proximidades.
O estresse desencadeia a produção de hormônios nos animais, causando alterações no sistema nervoso, na resposta imunológica e no comportamento. Alguns animais têm a capacidade de modular esta resposta ao stress quando estão na companhia de outro membro da sua espécie, amortecendo eficazmente o stress.
Superando o estresse juntos
A equipe da Universidade de Loma Linda ficou intrigada com a falta de estudos sobre proteção social em répteis e animais solitários. Os especialistas decidiram investigar o potencial para tal comportamento entre as cascavéis no sul da Califórnia.
Chelsea Martin é estudante de doutorado na Universidade de Loma Linda e autora principal do estudo, publicado na Frontiers in Ethology.
“Mostramos que quando duas cobras estavam juntas e vivenciavam uma situação estressante, elas podiam amortecer a resposta uma da outra ao estresse, muito parecido com o que acontece com os humanos quando passam por um evento estressante juntos. Este amortecimento da resposta ao estresse não foi relatado anteriormente em nenhuma espécie de réptil”, disse Martin.
Como o estudo foi conduzido
Os pesquisadores usaram 25 cascavéis do sul do Pacífico capturadas na natureza e criaram três cenários para o experimento: quando as cobras estavam sozinhas, quando uma corda estava presente como objeto de controle inanimado e quando um companheiro do mesmo sexo estava por perto.
Para avaliar os níveis de estresse das cobras e o potencial amortecimento social, os pesquisadores usaram eletrodos fixados perto de seus corações e conectados a um monitor de frequência cardíaca. A configuração experimental foi projetada como um espaço escuro e fechado semelhante a um balde.
Após um período de adaptação de 20 minutos, as cobras foram perturbadas intencionalmente. A equipe registrou o aumento da frequência cardíaca, o tempo que levou para a frequência cardíaca voltar ao normal e a duração do barulho.
Resultados do estudo
Os pesquisadores conseguiram determinar que o amortecimento social provavelmente ocorre na natureza e pode persistir em cativeiro. O estudo não encontrou discrepâncias no fenômeno entre cobras que hibernaram individualmente e aquelas que hibernaram em comunidade, nem diferenças entre cobras machos e fêmeas.
A equipe também considerou as diferenças entre as cascavéis montanhosas, que tendem a hibernar em comunidade, e suas contrapartes das terras baixas, que geralmente passam o inverno sozinhas.
Observou-se que as mulheres se reuniam durante a gravidez e ficavam com seus recém-nascidos. Esses fatores foram levados em consideração e os resultados revelaram uma propensão igual para amortecer o estresse entre diferentes populações e sexos.
“Nossos resultados fornecem insights sobre os padrões de comportamento social das cobras e também podem melhorar a imagem das cascavéis. Aos olhos do público, eles são frequentemente difamados. Estas descobertas podem ajudar a mudar isso”, disse Martin.
Limitações do estudo
Apesar desses insights, os pesquisadores reconhecem certas limitações. O espaço confinado em que os pares de cobras foram mantidos não permitiu a investigação da resposta de amortecimento de estresse quando as cobras estavam próximas, mas não em contato físico.
A equipa espera abordar esta questão nos seus estudos futuros e também planeia analisar como a familiaridade entre duas cobras afeta a sua resposta de proteção social.
Ainda assim, a pesquisa abriu novas possibilidades para a compreensão das complexidades do comportamento das cobras.
“Nossa compreensão da dinâmica social nos répteis foi enriquecida pelo que observamos”, disse Martin. “Este estudo desafia as percepções negativas das cascavéis, levando potencialmente a uma perspectiva mais equilibrada e informada sobre estas criaturas notáveis.”
Mais sobre cascavéis
As cascavéis são um grupo de cobras venenosas nativas das Américas. Eles fazem parte da subfamília Crotalinae, também conhecidas como víboras. O nome “cascavel” vem do chocalho característico na ponta da cauda, que usam como sinal de alerta quando se sentem ameaçados.
Existem várias espécies de cascavéis e variam em tamanho, cor e habitat. Algumas das espécies mais conhecidas incluem Eastern Diamondback, Western Diamondback, Cascavel de Madeira e Cascavel de Mojave.
As cascavéis podem ser encontradas em uma ampla variedade de habitats, incluindo desertos, florestas, pastagens e pântanos. Eles são predadores de emboscada, o que significa que normalmente ficam à espera que suas presas se aproximem, em vez de caçar ativamente. Alimentam-se principalmente de pequenos mamíferos, mas sua dieta também pode incluir aves e répteis.
Quando uma cascavel morde, ela injeta veneno em sua vítima. O veneno contém uma mistura de toxinas que podem causar sintomas como dor, inchaço e, às vezes, efeitos mais graves, como danos nos tecidos ou até efeitos sistêmicos no sistema circulatório. É importante procurar atendimento médico imediato se for picado por uma cascavel.
As cascavéis são ovovivíparas, o que significa que dão à luz filhotes vivos em vez de botar ovos.
Apesar de sua reputação assustadora, as cascavéis preferem evitar o confronto com os humanos quando possível. Eles geralmente mordem apenas quando encurralados ou ameaçados. Muitos estados têm leis que protegem as cascavéis devido ao seu papel no controle das populações de roedores.