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A quantidade total de vida que já existiu na Terra é alucinante

Santiago Ferreira

A vida na Terra continua a ser um tema de imensa curiosidade e investigação científica em todos os sectores da humanidade. Mas você já parou para pensar na quantidade total de vida que existe na Terra desde que as primeiras células apareceram, há 3,8 bilhões de anos?

E quanto à quantidade total de vida que habitará nosso planeta, a partir de agora até que a Terra seja consumida pelo Sol?

Um estudo recente liderado por Peter Crockford, professor assistente da Carleton University, em colaboração com pesquisadores do Weizmann Institute of Science e do Smith College, mergulha de cabeça neste tópico alucinante.

Seu trabalho, publicado em Biologia Atualinvestiga os aspectos históricos e futuros da vida em nosso planeta.

O papel da “produção primária”

No centro do estudo está o conceito de produção primária, um processo em que os organismos convertem o carbono inorgânico, como o dióxido de carbono atmosférico e o bicarbonato oceânico, em moléculas orgânicas essenciais à vida.

Este processo, actualmente dominado pela fotossíntese oxigenada que envolve a luz solar e a água, é responsável por uma absorção anual estimada de 200 mil milhões de toneladas de carbono.

Compreender as taxas históricas de produção primária é crucial, e os cientistas recorreram à composição isotópica do oxigênio em antigos depósitos de sulfato para obter respostas.

Insights históricos e números surpreendentes

O estudo compilou várias estimativas da produção primária antiga, levando à surpreendente conclusão de que cerca de 100 quintilhões de toneladas de carbono foram processadas desde o início da vida.

Este número é cem vezes maior do que o conteúdo total de carbono contido no interior da Terra, destacando o profundo impacto dos produtores primários como plantas, algas e cianobactérias.

Nos primeiros dias da Terra, a produção primária era predominantemente gerida por organismos que não dependiam da fotossíntese oxigenada.

Técnicas como a identificação das florestas mais antigas e a análise de fósseis moleculares ajudaram a identificar quando os diferentes produtores primários estavam mais activos.

Estimando a quantidade total de vida na Terra

A equipe de Crockford descobriu que as plantas terrestres, apesar do seu surgimento tardio, provavelmente foram as que mais contribuíram para a produção primária da Terra.

As cianobactérias também se destacam como contribuintes significativos. Esta pesquisa é vital para compreender não apenas a quantidade de produção primária, mas também os organismos responsáveis ​​por ela.

Um aspecto fascinante do estudo é a estimativa da vida na Terra, tanto histórica como atualmente. Ao correlacionar a produção primária com a existência celular, os pesquisadores aproximam isso de cerca de 1030 (10 não-milhões) de células existem hoje.

Ao longo da história da Terra, entre 1039 (um duodecilhão) e 1040 provavelmente existiram células.

Natureza finita da biosfera da Terra

O estudo também aborda a vida útil finita da biosfera da Terra, uma realidade preocupante ditada pelo ciclo de vida do sol.

Com o tempo, o brilho crescente do Sol empurrará os sistemas biogeoquímicos da Terra para além dos seus limites, levando ao desaparecimento das plantas terrestres e, eventualmente, transformando a Terra novamente num planeta praticamente sem vida.

Olhando para o futuro, Crockford e sua equipe projetam que cerca de 1040 as células habitarão a Terra durante toda a sua vida habitável. Esta projecção baseia-se nos níveis actuais de produtividade primária.

Terra como referência de exoplaneta

Numa época em que foram descobertos mais de 5.000 exoplanetas, o estudo também posiciona a Terra como uma referência para comparar a vida noutros planetas.

Crockford enfatiza a importância dos eventos históricos, como o advento da fotossíntese oxigenada e da endossimbiose, na formação da trajetória e da abundância da vida na Terra.

Estas informações não só melhoram a nossa compreensão do nosso planeta, mas também orientam a exploração da vida extraterrestre.

Qual é o próximo?

Em resumo, este trabalho incrível de Peter Crockford e sua equipe oferece uma perspectiva profunda sobre o escopo e a escala da vida na Terra.

Ao quantificar as vastas quantidades de carbono processado desde o início da vida e ao estimar o número surpreendente de células que existiram e existirão, a investigação aprofunda a nossa compreensão da história biológica da Terra, ao mesmo tempo que coloca o nosso planeta num contexto cósmico mais amplo.

À medida que continuamos a descobrir e analisar exoplanetas, o caminho evolutivo único da Terra, moldado por fenómenos cruciais como a fotossíntese oxigenada, serve como um ponto de referência vital.

Esta pesquisa ilumina o passado do nosso planeta e prevê o seu futuro. Também sublinha o delicado equilíbrio das condições que sustentam a vida.

Ao olharmos para o futuro, o trabalho de Crockford lembra-nos a natureza transitória da vida na Terra e a busca contínua para desvendar os mistérios da vida no universo.

Início da vida na Terra

Como mencionado acima, o início da vida na Terra é uma história de extraordinária complexidade e maravilha, forjada há milhares de milhões de anos.

Esta narrativa começa há cerca de 4,5 mil milhões de anos, quando a própria Terra se formou a partir da poeira e dos detritos cósmicos que sobraram da criação do Sol.

Inicialmente, a jovem Terra era um ambiente derretido e hostil, inadequado para qualquer forma de vida como a conhecemos hoje.

Os oceanos da Terra e o surgimento da vida

À medida que a Terra esfriava, o vapor d’água começou a condensar e formar oceanos. Foi nestas águas primordiais, há cerca de 3,8 a 4,1 mil milhões de anos, que a vida surgiu pela primeira vez.

O processo exacto continua a ser um dos grandes mistérios da ciência, mas a teoria predominante sugere que a vida começou com compostos orgânicos simples.

Esses compostos, por meio de uma série de reações químicas possivelmente provocadas por raios ou atividade vulcânica, formaram os blocos de construção da vida: aminoácidos e nucleotídeos.

Então, ocorreu um salto crítico. Essas moléculas orgânicas combinaram-se da maneira certa para formar as primeiras entidades simples e auto-replicantes.

Estas foram as primeiras formas de vida, provavelmente moléculas semelhantes ao RNA que poderiam armazenar informações genéticas e catalisar reações químicas, um precursor do DNA moderno.

Evolução e a ascensão da vida complexa

Ao longo de incontáveis ​​milênios, essas formas simples evoluíram, tornando-se mais complexas e diversas.

Eles desenvolveram a capacidade de aproveitar a energia do Sol através da fotossíntese, o que alterou dramaticamente a atmosfera da Terra e abriu caminho para formas de vida mais complexas.

O aumento do oxigênio na atmosfera foi um ponto de inflexão, levando à evolução de organismos aeróbicos que poderiam usar o oxigênio como energia.

A diversificada teia da vida

A partir dessas origens humildes, a vida se diversificou nas inúmeras formas que vemos hoje, de bactérias a plantas, insetos, animais e humanos.

Através do processo de produção primária, a quantidade de vida que existiu na Terra, e que existirá no futuro, é simplesmente impressionante.

Esta vasta teia de vida remonta aos primeiros compostos orgânicos que se formaram nos antigos oceanos da Terra, tornando o nosso planeta um ecossistema único e próspero na vastidão do espaço.

Em resumo, a história do início da vida na Terra, e a quantidade total de vida que existiu na Terra desde a evolução da primeira célula, é uma história de evolução química e biológica.

A história da Terra é um testemunho da resiliência e adaptabilidade da vida. Sublinha a importância de compreender a história do nosso planeta e de preservar a sua biodiversidade para as gerações futuras.

O estudo completo foi publicado na revista Biologia Atual.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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