Animais

A comunicação dos gatos é impulsionada por bactérias em suas glândulas anais

Santiago Ferreira

Um estudo da UC Davis revelou novos detalhes fascinantes sobre a comunicação dos gatos, concentrando-se no papel do cheiro e das bactérias em suas interações. Os especialistas descobriram que os gatos domésticos enviam sinais uns aos outros através de odores derivados de bactérias que vivem nas glândulas anais.

A pesquisa foi conduzida por Connie Rojas, pesquisadora de pós-doutorado, e pelo professor Jonathan Eisen do Departamento de Evolução e Ecologia e Centro de Genoma da UC Davis.

Comunicação animal

Muitos animais diferentes usam aromas para se comunicarem entre si. Esta forma de comunicação é especialmente importante no reino animal.

Alguns mamíferos marcam seu território com aromas. Isso serve como um aviso para outras pessoas sobre sua presença e reivindicações sobre uma área.

Os aromas desempenham um papel crucial nos comportamentos de acasalamento de vários mamíferos. Eles podem indicar quando um indivíduo está pronto para acasalar ou ajudar na seleção de um parceiro geneticamente compatível.

Os animais expressam medo, agressão ou outras emoções através de cheiros. Muitas vezes, essa é uma forma de comunicar perigo ou afirmar domínio. Os aromas também podem ajudar os mamíferos a se identificarem.

Micróbios e odor

O estudo da UC Davis contribui para um crescente corpo de pesquisas sobre a relação entre micróbios e odores em mamíferos.

“Muitos mamíferos dependem de compostos químicos orgânicos voláteis (COV) produzidos por bactérias para a sua comunicação e comportamento, embora pouco se saiba sobre os mecanismos moleculares exatos ou as espécies bacterianas responsáveis”, escreveram os autores do estudo.

Foco do estudo

Rojas liderou uma investigação detalhada em três partes sobre as secreções das glândulas anais de gatos domésticos, utilizando técnicas avançadas como sequenciamento de DNA, espectrometria de massa e cultura microbiana. O objetivo era compreender a composição química dessas secreções e os micróbios responsáveis ​​pela sua produção.

Os sujeitos do estudo foram 23 gatos domésticos, pacientes do Hospital Universitário de Medicina Veterinária da UC Davis, que estavam sendo submetidos a procedimentos eletivos como limpeza dentária. A sua participação foi autorizada pelos seus proprietários através de consentimento escrito.

Descobertas significativas

A equipe descobriu um microbioma altamente variável nas glândulas anais dos gatos. Predominantemente, foram encontrados cinco gêneros bacterianos – Corynebacterium, Bacteroides, Proteus, Lactobacillus e Streptococcus.

No entanto, houve variação considerável na composição microbiana entre gatos individuais. Notavelmente, os gatos mais velhos tendem a ter um microbioma diferente em comparação com os mais jovens. Os especialistas também observaram variações em gatos obesos, embora o tamanho da amostra fosse demasiado pequeno para conclusões definitivas.

Ambiente de vida

“Curiosamente, encontramos evidências de que os repertórios funcionais do microbioma na glândula anal estavam associados ao ambiente de vida do hospedeiro; os gatos que viviam em ambientes fechados tinham funções de microbioma que não eram idênticas às dos gatos que tinham acesso ao ar livre”, escreveram os autores do estudo.

“Pensa-se que os gatos com acesso ao ar livre têm maior probabilidade de serem infectados com parasitas do que os gatos que vivem apenas em ambientes fechados, mas podem ter mais exposição ao enriquecimento natural e à estimulação mental. Por outro lado, os gatos que têm um estilo de vida apenas dentro de casa podem experimentar redução da atividade física, maior consumo de alimentos e menos enriquecimento natural”.

“No entanto, não está claro como estas diferenças de estilo de vida e o contacto com o exterior podem estar ligados a diferenças funcionais no microbioma da glândula anal.”

Microbioma da glândula anal

Os pesquisadores disseram que é importante reconhecer que outro fator e fonte de variação nos perfis do microbioma da glândula anal poderia ser a pele perianal que envolve a própria glândula e o reto.

“Devido à proximidade física e aos comportamentos de higiene do hospedeiro, é possível que existam micróbios na glândula anal provenientes da pele ou do reto.”

Compostos orgânicos

Uma análise mais aprofundada dos produtos químicos nas glândulas anais revelou a presença de centenas de compostos orgânicos. A análise genética sugeriu que as bactérias residentes estão produzindo estes compostos orgânicos – incluindo aldeídos, álcoois, ésteres e cetonas – que formam a base dos aromas únicos dos gatos.

Embora estes odores sejam na sua maioria imperceptíveis para os humanos, eles desempenham um papel crucial nos comportamentos sociais dos gatos, tais como marcar território, atrair parceiros e repelir rivais.

Mais sobre comunicação com gatos

A comunicação felina é um aspecto complexo e multifacetado do comportamento felino, abrangendo uma variedade de vocalizações, linguagem corporal e sinais de cheiro. Compreender esses diferentes modos de comunicação pode fornecer insights mais profundos sobre o mundo dos gatos.

Vocalizações

Os gatos usam uma variedade de vocalizações para se comunicar. Por exemplo, os gatos normalmente miam para se comunicar com os humanos. Os gatinhos miam para chamar a atenção das mães, mas os gatos adultos geralmente reservam o miado para interações humanas.

Ronronar geralmente significa contentamento e também pode ser um comportamento de busca de conforto quando um gato está nervoso ou com dor. Sons de assobios e rosnados indicam medo, agressão ou territorialidade.

Os gatos podem chilrear ou tagarelar quando um gato está observando pássaros ou outras presas, possivelmente expressando frustração ou excitação.

Linguagem corporal

Os gatos transmitem muito através da postura corporal, movimentos da cauda, ​​posições das orelhas e expressões faciais.

  • Posição da cauda: Uma cauda levantada geralmente indica felicidade ou confiança, enquanto uma cauda dobrada sugere medo ou submissão. Uma cauda se contorcendo ou chicoteando pode sinalizar irritação.
  • Movimentos das orelhas: as orelhas voltadas para a frente mostram interesse, enquanto as orelhas achatadas podem indicar medo, agressão ou irritação.
  • Bigodes e olhos: Bigodes voltados para a frente e pupilas dilatadas podem indicar excitação ou brincadeira, enquanto pupilas contraídas podem sugerir agressão.

Marcação de perfume

Conforme destacado no estudo da UC Davis, o cheiro desempenha um papel vital na comunicação dos gatos. Os gatos têm glândulas odoríferas em várias partes do corpo, incluindo bochechas, patas e base da cauda. Eles os usam para marcar território, identificar objetos familiares ou sinalizar seu status reprodutivo.

  • Esfregar as bochechas: quando os gatos esfregam o rosto em objetos (ou pessoas), eles os marcam com seu cheiro, alegando que são familiares ou seguros.
  • Coçar: Os gatos também deixam marcas de cheiro nas patas quando arranham superfícies, servindo como marcador territorial visual e olfativo.

Amassar

Amassar é um comportamento que os gatos mantêm desde a infância, quando massageavam a barriga da mãe para estimular o fluxo de leite. Na idade adulta, é frequentemente associado ao contentamento e também pode servir como forma de marcar território com glândulas odoríferas nas patas.

Asseio

Os gatos se limpam para ficarem limpos, mas quando cuidam de outros gatos (ou humanos), é um sinal de carinho e vínculo, também conhecido como alogrooming.

O estudo está publicado na revista Relatórios Científicos.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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