Meio ambiente

Setor canavieiro brasileiro contribui para energia renovável e mitigação climática

Santiago Ferreira

O Brasil é o maior produtor e exportador de cana-de-açúcar do mundo e também pioneiro no uso da cana-de-açúcar como fonte de bioenergia.

Um artigo de revisão recente publicado na BioEnergy Research mostra que o Brasil teve mais artigos publicados sobre cana-de-açúcar do que qualquer outro país no período de 2006 a 2020.

Cana-de-açúcar: uma cultura versátil para bioenergia

A cana-de-açúcar é uma gramínea tropical que pode crescer até 6 metros de altura e produzir até 80 toneladas de biomassa por hectare por ano. Pode ser usado para produzir diversos tipos de bioenergia, como etanol, eletricidade, biogás e biocombustíveis.

O etanol é o produto bioenergético da cana-de-açúcar mais utilizado, e o Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, depois dos Estados Unidos.

Pode ser utilizado como combustível para veículos, puro ou misturado com gasolina, e pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 90% em comparação aos combustíveis fósseis.

A cana-de-açúcar também pode ser utilizada para geração de energia elétrica por meio da queima do bagaço, resíduo fibroso que sobra após a extração do caldo.

O Brasil tem mais de 300 usinas de cana-de-açúcar que produzem eletricidade a partir do bagaço, e algumas delas exportam o excedente de eletricidade para a rede nacional.

De acordo com o artigo de revisão, a eletricidade da cana-de-açúcar poderá suprir até 15% da demanda de eletricidade do Brasil até 2030.

Além disso, a cana-de-açúcar pode ser convertida em biogás por meio da digestão anaeróbica da vinhaça, que é o resíduo líquido da produção de etanol.

O biogás pode ser utilizado como combustível para veículos, caldeiras ou turbinas, ou transformado em biometano e injetado na rede de gás natural.

Por fim, a cana-de-açúcar pode ser utilizada para a produção de biocombustíveis avançados, como biodiesel, querosene de aviação e diesel, por meio de diferentes tecnologias, como gaseificação, pirólise ou liquefação hidrotérmica.

Esses biocombustíveis possuem maior densidade energética e menor impacto ambiental que o etanol, podendo ser utilizados em diversos meios de transporte, como aviação, marítimo e veículos pesados.

Desafios e oportunidades para a pesquisa canavieira

O artigo de revisão identifica diversos desafios e oportunidades para a pesquisa canavieira no contexto da produção de bioenergia.

Alguns dos desafios estão relacionados com os aspectos agronómicos do cultivo da cana-de-açúcar, como a melhoria do rendimento e da qualidade da cultura, a redução do uso de água e fertilizantes, o aumento da resistência a pragas e doenças e a adaptação às alterações climáticas.

Outros desafios estão relacionados com os aspectos tecnológicos da conversão de bioenergia, como o desenvolvimento de processos mais eficientes e sustentáveis, a redução de custos e emissões e a diversificação de produtos e mercados.

O artigo de revisão também aponta algumas oportunidades para a pesquisa da cana-de-açúcar, como a exploração da diversidade genética e do potencial da cultura, o uso da biotecnologia e da nanotecnologia para melhorar as características e o desempenho da planta, a integração da cana-de-açúcar com outras culturas e fontes de biomassa, e promover a economia circular e os benefícios sociais e ambientais da bioenergia.

O artigo de revisão concluiu que o Brasil tem um papel fundamental na pesquisa da cana-de-açúcar para bioenergia, pois possui uma longa história e experiência neste setor, bem como uma forte capacidade científica e tecnológica.

O artigo também sugeria que o Brasil deveria continuar a investir em pesquisa e inovação na cana-de-açúcar, bem como colaborar com outros países e regiões, para promover o desenvolvimento e a disseminação de soluções de bioenergia para um futuro sustentável e de baixo carbono.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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