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Estudo revela como os lobos cinzentos recolonizaram a Alemanha

Santiago Ferreira

A reintrodução do lobo cinzento (canis lupus) para a Alemanha, iniciada há 23 anos na Lusácia, Alemanha Oriental, marca um evento ecológico e social significativo. Compreender os meandros desta recolonização e prever tendências futuras de distribuição são essenciais.

Em um estudo recente publicado na revista Diversidade e Distribuiçõesuma equipe do Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológicos e Vida Selvagem (Leibniz-IZW) esclareceu esse processo complexo.

Os investigadores descobriram que a seleção de habitat dos lobos cinzentos evoluiu das fases iniciais para as fases finais da recolonização numa área específica, refinando a sua modelagem de habitat de 2020 originalmente publicada pela Agência Federal para a Conservação da Natureza.

Expansão futura da gama

Os lobos cinzentos, que preferem habitats com ampla cobertura e distância da atividade humana, demonstraram estas preferências durante o seu regresso à Alemanha. A recolonização dos habitats dos quais foram extirpados há 200 anos permitiu previsões de expansão futura da área de distribuição na Alemanha.

O estudo de 2020 da Agência Federal para a Conservação da Natureza (BfN), conduzido com a equipe Leibniz-IZW, estimou cerca de 700 a 1.400 territórios potenciais para lobos nas áreas naturais da Alemanha. Os cientistas aprofundaram-se agora, testando várias abordagens de modelagem espaço-temporal em relação às diferentes fases da recolonização.

Condições dinâmicas

“Há razões para acreditar que a recolonização da Alemanha pelo lobo cinzento não é um processo chamado estacionário, mas é caracterizado por mudanças nas condições estruturais”, disse a autora sênior Stephanie Kramer-Schadt, chefe do Departamento de Dinâmica Ecológica da o Leibniz-IZW.

Kramer-Schadt observou que o processo de recolonização pode não ser uniforme em toda a Alemanha devido às diferenças nas condições ambientais, como entre a Alemanha Oriental e a área do Reno-Ruhr. As preferências de habitat dos lobos também podem variar dependendo se estão na fase inicial ou tardia da recolonização.

Desenvolvendo modelos precisos

A Dra. Aimara Planillo, primeira autora do estudo, enfatizou a importância desses fatores para a precisão do modelo. “Se os modelos forem desenvolvidos com base nas condições ambientais específicas de uma determinada região, poderão subestimar a adequação de outra região muito diferente à qual tal modelo possa ser aplicado”, explicou ela.

O Dr. Planillo também observou que os modelos baseados nas fases iniciais de recolonização podem subestimar a adequação do habitat dos lobos durante as fases posteriores, quando são menos seletivos.

Os especialistas desenvolveram modelos usando uma combinação de radiotelemetria e dados de observação, testando sua capacidade de prever as fases subsequentes do processo de colonização. O estudo confirmou e aprimorou as projeções para 2020.

Novas idéias

As principais conclusões incluem que os lobos selecionam inicialmente os melhores habitats durante o início da recolonização, mas tornam-se menos seletivos em fases posteriores.

“Ao recolonizar uma área, os lobos sempre protegem primeiro os melhores habitats. Parece, portanto, que eles são consideravelmente mais sensíveis às variáveis ​​ambientais”, disseram os cientistas. Descobriram também que locais vizinhos de segunda classe são colonizados em fases posteriores, como demonstrado no leste da Alemanha.

Habitats adequados

O estudo sugere que os habitats adequados para os lobos estão concentrados no norte, nordeste e sul da Alemanha, enquanto os habitats de qualidade inferior são mais comuns no oeste.

Existem habitats desocupados de alta qualidade no sul da Baviera e no centro da Alemanha, que provavelmente serão colonizados por lobos que se instalam inicialmente em locais privilegiados.

Implicações do estudo

Em resumo, a pesquisa enfatiza a necessidade de projeções espaço-temporais cuidadosas na modelagem de habitat para espécies em expansão como o lobo cinzento.

A complexidade e o dinamismo do processo de recolonização exigem uma abordagem diferenciada para prever e compreender a expansão das populações de lobos na Alemanha.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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