Meio ambiente

Colômbia usa madeira apreendida para ajudar as abelhas e o meio ambiente

Santiago Ferreira

A Colômbia abriga mais de 500 espécies de abelhas, mas muitas delas estão ameaçadas pela perda de habitat, pesticidas e mudanças climáticas.

Para proteger estes polinizadores vitais, algumas comunidades locais recorrem a uma fonte improvável de ajuda: madeira abatida ilegalmente.

Dos resíduos às colmeias

Na Amazônia colombiana, a exploração madeireira ilegal é um grande problema que contribui para o desmatamento e a perda de biodiversidade.

No entanto, parte da madeira cortada não é adequada para uso comercial e é deixada a apodrecer ou queimar na floresta.

Um grupo de apicultores da comunidade indígena Tikuna viu uma oportunidade de reaproveitar esses resíduos de madeira e utilizá-los para criar colmeias.

Eles fizeram parceria com uma organização ambiental local, a Fundación Natura, e receberam treinamento e apoio para iniciar seus apiários.

Os apicultores utilizam uma técnica tradicional chamada meliponicultura, que envolve a criação de abelhas sem ferrão nativas da região.

Estas abelhas produzem menos mel do que as abelhas europeias, mas o seu mel tem propriedades medicinais e nutricionais e é muito valorizado pela população local.

Os apicultores fazem cavidades nos troncos e colocam-nas na floresta, onde as abelhas podem encontrá-las e colonizá-las.

Os apicultores monitoram então as colmeias e colhem o mel periodicamente, utilizando métodos sustentáveis ​​que não agridem as abelhas nem o meio ambiente.

Uma situação ganha-ganha

A iniciativa traz múltiplos benefícios tanto para as abelhas quanto para as pessoas. Ao utilizar os resíduos de madeira, os apicultores estão a evitar mais desflorestação e a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

Ao criar abelhas nativas, estão preservando a diversidade genética e o equilíbrio ecológico da região. Ao produzir mel, estão a gerar rendimentos e a melhorar a sua segurança alimentar e saúde.

O projeto também ajuda a aumentar a conscientização e a valorização da importância das abelhas e do seu papel na polinização de culturas e plantas silvestres.

Os apicultores partilham os seus conhecimentos e experiências com outras comunidades e promovem a conservação da floresta e dos seus recursos.

O projeto é um exemplo de como as comunidades locais podem encontrar soluções criativas e inovadoras para os desafios ambientais e sociais, utilizando os recursos que lhes estão disponíveis.

Mostra como a exploração madeireira ilegal na Colômbia pode ser transformada numa fonte de esperança e oportunidade para as abelhas e as pessoas.

Desafios e oportunidades da extração ilegal de madeira

Segundo um relatório da IUCN NL, a exploração madeireira ilegal é responsável por 10% do desmatamento na Colômbia e 47% da madeira vendida no país é de origem ilegal.

A extracção e o tráfico ilegais de madeira são impulsionados pela procura global de produtos de madeira, bem como pela falta de presença e controlo do Estado em áreas florestais remotas.

A exploração madeireira ilegal não só destrói a floresta, mas também permite outras atividades extrativas de alto impacto, como a pecuária, a agricultura industrial e as culturas ilícitas.

Estas actividades causam mudanças drásticas no uso da terra e ameaçam os meios de subsistência e os direitos das comunidades locais.

Contudo, a exploração madeireira ilegal também cria oportunidades para utilizações alternativas e sustentáveis ​​dos recursos florestais.

Os resíduos de madeira deixados pelos madeireiros podem ser utilizados para diversos fins, como apicultura, fabricação de móveis ou produção de biocombustíveis.

Estas atividades podem gerar rendimento e emprego para a população local, ao mesmo tempo que reduzem a pressão sobre a floresta e melhoram a sua conservação.

O papel das abelhas no ecossistema florestal

As abelhas são essenciais para o funcionamento do ecossistema florestal, pois polinizam cerca de 80% das plantas com flores.

A polinização é o processo pelo qual o pólen é transferido da parte masculina da flor para a parte feminina, permitindo que a planta produza sementes e frutos.

A polinização é crucial para a reprodução e diversidade genética das plantas, bem como para a segurança alimentar e nutrição de seres humanos e animais.

As abelhas também fornecem outros serviços ecossistêmicos, como formação do solo, ciclagem de nutrientes, regulação da água e regulação do clima.

Ao polinizar as plantas, as abelhas ajudam a manter a estrutura e a composição da floresta, o que por sua vez afeta o ciclo da água, o ciclo do carbono e a temperatura.

As abelhas também são indicadores da saúde e da qualidade do meio ambiente, pois são sensíveis às mudanças no habitat, no clima e na presença de poluentes.

Ao monitorizar a população e o comportamento das abelhas, os investigadores podem avaliar o impacto das atividades humanas na floresta e na sua biodiversidade.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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