Animais

As aves migratórias estão lutando para se adaptar às mudanças climáticas

Santiago Ferreira

Novas pesquisas alarmantes revelaram os profundos efeitos das mudanças climáticas nas aves migratórias. O estudo, liderado por Yali Si, do CML da Universidade de Leiden, concentrou-se em 16 espécies de aves migratórias na Ásia.

A equipa descobriu que as mudanças induzidas pelo clima no momento dos eventos naturais perturbam significativamente as intrincadas redes de migração destas espécies.

Mudanças climáticas e migração de aves

Si articula a questão central, dizendo: “As alterações climáticas alteram o calendário de eventos naturais como o início da primavera, levando a incompatibilidades entre a disponibilidade de alimentos e a chegada das aves em várias regiões”.

Este fenómeno é particularmente crítico para as aves migratórias, que dependem de um alinhamento preciso da sua chegada com a disponibilidade de recursos alimentares.

Si enfatiza: “Para as aves migratórias, o alimento deve estar disponível precisamente na hora e no lugar certo. Se houver uma incompatibilidade, as consequências podem ser terríveis.”

Como o estudo foi conduzido

O estudo abordou este problema de forma única, analisando a integridade da rede de migração dessas aves.

Si explica: “Essas aves normalmente têm uma área de invernada, diversas áreas de parada para descanso e alimentação e uma área de reprodução. Todas estas regiões formam uma rede interligada e o nosso objetivo era avaliar como as alterações climáticas afetam a funcionalidade desta rede de migração.”

Para o conseguir, Si e a sua equipa compararam o funcionamento das redes nos últimos 21 anos, um período marcado pelas alterações climáticas, com um hipotético período de 21 anos sem alterações climáticas.

Esta comparação permitiu-lhes isolar os impactos específicos das alterações climáticas na rede de migração de cada espécie.

As aves migratórias enfrentam uma nova realidade climática

As suas descobertas são claras: todas as 16 espécies estudadas foram afetadas pelas alterações climáticas, com as aves que invernam perto da zona temperada média enfrentando desafios mais significativos.

“Essas regiões apresentam diferenças mais pronunciadas devido às mudanças climáticas, causando maiores dificuldades para as aves que dependem dessas áreas para o inverno”, acrescenta Si.

Esta investigação distingue-se de estudos anteriores por considerar todo o percurso migratório e não aspectos isolados.

Si ressalta: “Pesquisas anteriores muitas vezes se concentravam em áreas únicas ou fases específicas, como a reprodução. Ao examinar cada aspecto isoladamente, você acaba com um quadro incompleto, subestimando o efeito geral sobre essas aves.”

Implicações e esforços de conservação

A abordagem inovadora do estudo foi possível graças à disponibilidade de dados de detecção remota de longo prazo sobre as alterações climáticas, permitindo a análise de tendências e observações significativas.

Os métodos e descobertas de Si e dos seus colegas são promissores para melhorar a avaliação da vulnerabilidade das espécies migratórias às alterações climáticas.

Si conclui: “Ao integrar os nossos resultados nas estruturas existentes, podemos adaptá-los especificamente para as aves migratórias, levando a uma compreensão mais profunda das consequências e à identificação de ações para a conservação da biodiversidade”.

Esta importante investigação proporciona uma visão abrangente dos desafios enfrentados pelas aves migratórias face às alterações climáticas, ao mesmo tempo que estabelece um novo padrão para futuros estudos no terreno.

Ao considerar toda a rede de migração, o trabalho de Si oferece informações valiosas para a conservação da biodiversidade e a proteção destas espécies vitais.

O estudo completo está publicado na revista Biologia da Mudança Global.

—–

Gostou do que leu? Assine nosso boletim informativo para artigos envolventes, conteúdo exclusivo e as atualizações mais recentes.

—–

—–

Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago