Animais

Abelhas mumificadas desenterradas que datam da época dos faraós

Santiago Ferreira

Uma surpreendente descoberta de abelhas “mumificadas” que remonta à época dos faraós foi desenterrada no sudoeste de Portugal. As abelhas, preservadas nos seus casulos, encontravam-se num magnífico estado de conservação.

O estado primitivo dos espécimes permitiu à equipe de pesquisadores determinar não apenas o tipo de abelha encontrada, mas também seu gênero e o tipo específico de pólen deixado pela mãe na formação do casulo.

O estudo, liderado pelo professor Fernando Muñiz, da Universidade de Sevilha, foi publicado recentemente na revista internacional Papers in Palaeontology. Em suas páginas, as abelhas são descritas como estando prestes a emergir de seus ninhos ou células quando encontraram seu misterioso fim.

Evidência de preferências antigas de pólen

Curiosamente, o alimento descoberto nos casulos mumificados das abelhas foi identificado como pólen de Brassicaceae. Este pólen provém de espécies herbáceas comuns, indicando a inclinação das abelhas para uma variedade monofloral específica.

Visão rara do passado

O alto grau de fossilização em que as abelhas foram encontradas é único. Normalmente, a estrutura esquelética de insetos como estes deteriorar-se-ia rapidamente. Esta preservação concedeu aos pesquisadores um acesso incomparável à vida dessas abelhas antigas.

As abelhas, polinizadores vitais no nosso ecossistema, compreendem mais de 20.000 espécies. Cerca de 75% de todas as espécies de abelhas selvagens vivem no solo, contribuindo em grande parte para a conservação das suas estruturas de nidificação.

O estudo fala da descoberta de densas coleções de milhares destes ninhos fósseis no sudoeste de Portugal, estando a maioria ligada ao icnogénero Palmiraichnus.

O que matou essas abelhas mumificadas?

De acordo com a pesquisa, a causa exata da morte das abelhas mumificadas permanece incerta. No entanto, factores potenciais como uma súbita escassez de oxigénio devido a inundações rápidas ou uma queda nas temperaturas nocturnas podem ter desempenhado um papel.

Note-se que durante o intervalo Neoglacial, a costa sudoeste de Portugal sofreu períodos mais frios com aumento da precipitação no inverno. Este clima ofereceu as condições ideais para a preservação dos fósseis.

Importância de estudar essas abelhas mumificadas

O Professor Muñiz enfatizou o papel fundamental que as abelhas desempenham no nosso ecossistema, sendo elas responsáveis ​​pela polinização de 70% das culturas consumidas pelos humanos. No entanto, as ameaças actuais, como a agricultura intensiva, a utilização de pesticidas e as alterações climáticas, colocam estes insectos em risco. Na Europa, uma em cada dez espécies de abelhas está à beira da extinção.

De acordo com o investigador principal, Carlos Neto de Carvalho, compreender as razões ecológicas por detrás da existência e do misterioso fim desta população de abelhas há 3.000 anos poderá fornecer informações cruciais.

Estas percepções poderão abrir caminho para estratégias que garantam a resiliência face às alterações climáticas, estabelecendo comparações entre antigos desequilíbrios ecológicos e os actuais desafios que ameaçam as actuais espécies de abelhas.

Esta recente descoberta de abelhas mumificadas em Portugal não só oferece uma visão cativante do passado, mas também sublinha a necessidade urgente de compreender e proteger as nossas populações de abelhas para o futuro.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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