Meio ambiente

Reduzindo o calor global: metanotróficos podem remover metano do ar e produzir proteínas, mostra estudo

Santiago Ferreira

Um novo estudo revela que uma bactéria que devora o metano, gás de efeito estufa, poderia limitar a taxa de aquecimento global.

O estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences descobriu que o aproveitamento destas bactérias em grande escala pode impedir que 240 milhões de toneladas de metano entrem na atmosfera até 2050.

Metanotrófico

Um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Long Beach está sugerindo uma técnica para eliminar o metano convertendo naturalmente o metano em dióxido de carbono e biomassa, utilizando uma espécie de bactéria conhecida como metanotrófica.

Segundo a pesquisadora principal, Mary Lidstrom, todas as bactérias desse grupo “’comem’ metano, removendo-o do ar e convertendo parte dele em células como fonte de proteína sustentável”.

A equipe de Lidstrom descobriu uma cepa de bactéria desse grupo chamada metilotuvimicrobium buryatense 5GB1C, que pode remover eficientemente o metano, mesmo em baixas concentrações.

Isto tem o potencial de ajudar a diminuir o aquecimento global se for adotado globalmente.

Este tipo de bactéria normalmente prospera em situações com grandes quantidades de metano (5.000 a 10.000 partes por milhão (ppm)). As quantidades habituais de metano na nossa atmosfera são substancialmente mais baixas, apenas aproximadamente 1,9 ppm.

No entanto, certos locais geram concentrações mais elevadas, de cerca de 500 ppm, como aterros sanitários, campos de arroz e poços de petróleo.

“As bactérias que comem metano rapidamente nas concentrações mais elevadas encontradas em torno dos rebanhos bovinos, poderiam dar uma enorme contribuição para a redução das emissões de metano, especialmente da agricultura tropical”, disse Euan Nisbet, professor de ciências da Terra na Royal Holloway, Universidade de Londres, numa entrevista.

Eles também sugeriram que a cepa bacteriana fosse geneticamente modificada. Isto pode ser conseguido através da introdução de mutações genéticas e da selecção de estirpes com propriedades desejáveis.

Ao implementar estas melhorias, as nações de todo o mundo podem evitar que 240 milhões de toneladas de metano provenientes de grandes locais de emissão entrem na atmosfera durante um período de 20 anos, através da implantação de 50.000 a 300.000 unidades de tratamento.

“Outros estudos previram que se o metano na atmosfera diminuísse em 300-1000 milhões de toneladas até 2050, isso resultaria numa diminuição da temperatura global de cerca de 0,21-0,22°C”, disse Lidstrom. “Portanto, prevê-se que 240 milhões de toneladas tenham um efeito significativo no aquecimento global”, acrescentou.

Leia também: Gases de efeito estufa, dióxido de carbono e metano, aumentam drasticamente em 0,6% e 0,5% em 2022 (estudo)

Desafios

Os pesquisadores antecipam algumas dificuldades à medida que a tecnologia é aprimorada.

Controlar a temperatura, por exemplo, é difícil. A faixa de temperatura ideal para o crescimento bacteriano é de 25 a 30oC, portanto, tanto temperaturas muito baixas como muito altas são prejudiciais, de acordo com os especialistas.

“O controle da temperatura será caro e terá impacto tanto na viabilidade econômica quanto no equilíbrio energético. Portanto, a questão é sobre custo e uso de energia quando se considera climas temperados versus tropicais versus árticos, por exemplo”, explicou Lidstrom.

Os especialistas sublinharam que são necessários mais testes de campo para testar a viabilidade da implantação da tecnologia.

Observaram que é necessária a análise do ciclo de vida ambiental e da tecnoeconomia da tecnologia para garantir que seja comercialmente viável e proporcione benefícios ambientais.

Segundo Mary Ann Bruns, professora de microbiologia do solo na Universidade Estatal da Pensilvânia, a falta de vontade política e de conhecimento nos sectores comercial e governamental sobre a necessidade de reduzir o metano hoje irá agravar o aquecimento global nos próximos anos.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago