Animais

Pequenos projetos de ecologização podem aumentar dramaticamente a biodiversidade urbana

Santiago Ferreira

No coração de Melbourne, um pequeno oásis verde é uma prova do poder potencial da ecologização urbana. Um estudo recente da Universidade de Melbourne demonstrou o profundo impacto que pequenos projetos de ecologização urbana podem ter nos ecossistemas das cidades.

Ao concentrarem-se no aumento da diversidade de plantas indígenas, os investigadores observaram um aumento impressionante de sete vezes nas espécies de insectos em apenas três anos.

Foco do estudo

O tema central do estudo, realizado num espaço verde em Melbourne, girou em torno da relação entre a diversidade vegetal e a biodiversidade de insetos.

Os resultados revelaram que o aumento da variedade e complexidade das comunidades vegetais aumentou significativamente a biodiversidade dos insetos, levando a interações mais frequentes entre plantas e insetos.

Estas conclusões reforçam a ideia cada vez mais reconhecida de que a integração da natureza nos ambientes urbanos não só é boa para o bem-estar humano, mas também desempenha um papel vital no aumento da biodiversidade e no combate às repercussões das alterações climáticas.

“As nossas descobertas fornecem evidências cruciais que apoiam as melhores práticas na concepção de espaços verdes e contribuem para revigorar as políticas destinadas a mitigar os impactos negativos da urbanização nas pessoas e outras espécies”, disse o principal autor do estudo, Dr.

Como a pesquisa foi conduzida

Inicialmente, o local escolhido para o estudo consistia apenas em um gramado e algumas árvores. No entanto, no espaço de um mês, as ervas daninhas foram removidas, novo solo superficial foi adicionado, o solo foi fertilizado e coberto com cobertura morta orgânica. A equipe também introduziu 12 espécies de plantas indígenas.

Ao longo de quatro anos, os pesquisadores realizaram 14 levantamentos meticulosos de insetos, utilizando redes entomológicas para coletar amostras de cada espécie de planta.

O que os pesquisadores descobriram

No final das contas, um total de 94 espécies de insetos foram identificadas, com impressionantes 91 delas sendo nativas de Victoria, Austrália.

“Mais importante ainda, as espécies de insetos indígenas que documentamos abrangem uma gama diversificada de grupos funcionais: detritívoros que reciclam nutrientes; herbívoros que fornecem alimento para répteis e aves; predadores e parasitóides que mantêm as espécies de pragas sob controle”, disse o Dr.

Notavelmente, em apenas um ano, as 12 espécies de plantas introduzidas no início do estudo sustentaram cerca de 4,9 vezes mais espécies de insectos do que as duas espécies iniciais que pré-existiam no espaço verde.

No terceiro ano, apesar de uma diminuição no número de espécies de plantas para nove, ainda mantinham 7,3 vezes mais espécies de insectos do que os ocupantes originais dos espaços verdes.

Implicações do estudo

As implicações mais amplas deste estudo são claras e de longo alcance. A metodologia adaptável utilizada pela equipe de Melbourne pode ser replicada em diversos ambientes e climas, tornando-a um recurso valioso para cientistas e planejadores urbanos em todo o mundo.

“Adoraria ver muito mais espaços verdes urbanos transformados em habitats para espécies indígenas. Esperamos que o nosso estudo sirva como um catalisador para uma nova forma de demonstrar como a ecologização urbana pode provocar mudanças ecológicas positivas”, disse o Dr. Mata.

A pesquisa é publicada na revista British Ecological Society, Soluções Ecológicas e Evidências.

Mais sobre ecologização urbana

A ecologização urbana, uma tendência cada vez maior no desenho e planeamento urbano contemporâneo, refere-se à introdução ou melhoria da vegetação em ambientes urbanos. Abrange uma ampla gama de iniciativas, desde o desenvolvimento de grandes parques públicos até ao estabelecimento de pequenas hortas comunitárias, espaços verdes nos telhados e até jardins verticais nas fachadas dos edifícios.

Importância da ecologização urbana

Biodiversidade

Tal como destacou o estudo da Universidade de Melbourne, a ecologização urbana pode aumentar significativamente a biodiversidade local, proporcionando habitats para várias espécies de plantas, insectos, aves e outros animais.

Mitigação das alterações climáticas

As plantas absorvem dióxido de carbono e libertam oxigénio, tornando a ecologização urbana uma ferramenta essencial para mitigar os efeitos das alterações climáticas. Além disso, a vegetação pode arrefecer as cidades através da sombra e da evapotranspiração, reduzindo o efeito de ilha de calor urbana.

Benefícios psicológicos e de saúde

Os espaços verdes nas cidades oferecem aos moradores locais para relaxar, fazer exercícios e se conectar com a natureza. A pesquisa mostrou que a exposição à natureza pode reduzir o estresse, diminuir a pressão arterial e melhorar o humor.

Benefícios da ecologização urbana

Qualidade do ar

As plantas atuam como purificadores naturais do ar, absorvendo poluentes como dióxido de enxofre, amônia e certas partículas, melhorando assim a qualidade do ar urbano.

Gerência de água

Os espaços verdes podem absorver a água da chuva, reduzindo o risco de inundações urbanas e filtrando os poluentes antes que estes cheguem aos cursos de água.

Valor Econômico

Os espaços verdes urbanos podem aumentar o valor das propriedades, atrair turismo e reduzir os custos de energia, proporcionando sombra e isolamento.

Coesão social

As hortas e parques comunitários funcionam frequentemente como áreas comuns onde os residentes podem encontrar-se, colaborar e construir laços de vizinhança mais fortes.

Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago