Animais

Os ursos polares estão lutando para sobreviver a verões mais longos e é improvável que se adaptem

Santiago Ferreira

Numa revelação preocupante, um estudo recente revela que os ursos polares podem não ter a capacidade de se adaptar aos verões cada vez mais longos causados ​​pelas alterações climáticas.

A pesquisa indica que passar mais tempo presos em terra coloca os ursos polares em risco de morrer de fome.

Durante um período de três semanas durante o verão, os cientistas observaram o comportamento de 20 ursos polares encalhados em terra na região oeste da Baía de Hudson, em Manitoba, Canadá.

Esses ursos foram privados de sua principal fonte de alimento, as focas, que estão mais facilmente disponíveis no gelo.

Diminuição do gelo marinho e verões mais longos

“O ecossistema marinho do Ártico está a sofrer rápidos declínios na extensão, idade e espessura do gelo marinho, o que está a alterar a dinâmica ecológica. Dentro deste ecossistema, os ursos polares (Ursus maritimus) são um predador de ponta que usa o gelo marinho como plataforma para caçar principalmente anilhados (Pusa hispida) e focas barbudas (Erignathus barbatus)”, escreveram os autores do estudo.

“Os ursos polares adquirem a maior parte dos seus recursos energéticos durante um breve período no final da primavera e início do verão, quando as focas dão à luz e desmamam as suas crias. O aquecimento climático está a aumentar o tempo em que algumas áreas do Ártico permanecem livres de gelo, o que, por sua vez, força os ursos polares destas regiões a deslocarem-se para terra.”

Ursos polares encalhados

Em Manitoba, os ursos experimentaram diversas estratégias para conservar energia e encontrar comida. Eles se dedicavam a descansar, vasculhar e procurar alimentos.

Apesar destes esforços, o resultado foi desanimador: quase todos os ursos polares observados experimentaram uma perda de peso significativa, com uma média de cerca de 2,2 libras por dia.

O estudo desafia a noção de que os ursos polares possam adaptar-se às mudanças climáticas, imitando as tácticas de sobrevivência dos ursos pardos, que podem sobreviver com uma dieta mais variada e estão mais habituados à vida terrestre.

Charles Robbins, diretor do Bear Center da Universidade Estadual de Washington e coautor do estudo, apontou as diferenças críticas entre as duas espécies. “Os ursos polares não são ursos pardos que usam jalecos brancos. Eles são muito, muito diferentes”, disse ele.

Ao contrário dos ursos pardos, os ursos polares evoluíram para depender fortemente do elevado teor de gordura das focas, necessitando do seu acesso ao gelo marinho para uma caça eficiente.

Gasto energético

Os investigadores utilizaram métodos inovadores para recolher dados sobre o comportamento e o gasto energético dos ursos durante o tempo que passaram em terra, incluindo a utilização de coleiras equipadas com câmaras de vídeo e GPS.

Esta abordagem forneceu informações sobre a dieta dos ursos – que incluía carcaças de aves e caribus, bagas, algas e gramíneas – e os seus esforços para conservar energia, minimizando o movimento.

Apesar de observarem um amplo espectro de comportamentos e gastos energéticos entre os ursos, os especialistas concluíram que os benefícios energéticos obtidos a partir de fontes alimentares terrestres foram compensados ​​pelo maior gasto energético necessário para aceder a estes recursos.

Apenas um urso do estudo conseguiu ganhar peso, tendo encontrado um mamífero marinho morto em terra.

O autor principal do estudo, Anthony Pagano, é biólogo da vida selvagem do Programa de Pesquisa de Ursos Polares do US Geological Survey e ex-pesquisador de pós-doutorado na WSU.

“Encontramos uma verdadeira diversidade de comportamentos dos ursos e, como resultado, vimos uma gama diversificada de gastos energéticos”, disse Pagano. “Os alimentos terrestres proporcionaram-lhes alguns benefícios energéticos, mas, em última análise, os ursos tiveram de gastar mais energia para aceder a esses recursos.”

Implicações de verões mais longos para os ursos polares

Esta investigação é particularmente significativa porque se centra na extensão mais meridional da área de distribuição dos ursos polares, no oeste da Baía de Hudson, uma área que se acredita estar a sofrer os impactos do aquecimento climático de forma mais aguda do que outras regiões do Ártico.

A população local de ursos polares já sofreu um declínio dramático, estimado em 30% desde 1987, sublinhando a urgência de enfrentar as alterações climáticas.

As conclusões deste estudo não só contribuem para a nossa compreensão da ecologia dos ursos polares e dos desafios que enfrentam à medida que o seu habitat natural continua a mudar, mas também servem como um lembrete comovente das implicações mais amplas do aquecimento global na vida selvagem do Ártico.

À medida que o período sem gelo se prolonga, os ursos polares em todo o Árctico enfrentam um risco crescente de fome, destacando a necessidade de esforços de conservação imediatos e concertados para mitigar os efeitos das alterações climáticas e preservar estes animais majestosos para as gerações futuras.

“Como os ursos polares são forçados a pousar mais cedo, isso reduz o período em que normalmente adquirem a maior parte da energia necessária para sobreviver”, disse Pagano. “Com o aumento do uso da terra, a expectativa é que provavelmente veremos um aumento na fome, especialmente entre adolescentes e fêmeas com filhotes.”

O estudo está publicado na revista Comunicações da Natureza.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago