Animais

Genes de morcegos são cruciais na luta contra o câncer

Santiago Ferreira

Desde uma expectativa de vida mais longa até asas que os tornam os únicos mamíferos que podem voar, os morcegos são animais extremamente únicos. Mas a característica com maior valor científico é o seu sistema imunológico único. Os morcegos têm genes que lhes permitem hospedar vírus mortais sem ficarem doentes. Os cientistas descobriram que os morcegos conseguem combater o Ébola, a COVID-19 e até o cancro.

Está tudo nos genes dos morcegos

Os morcegos têm uma resposta imune inata elevada que permanece ativa constantemente, mesmo quando não estão infectados com nenhum vírus detectável. Isto difere totalmente do que acontece em humanos e ratos, onde o sistema imunológico é ativado em resposta à infecção.

Um estudo recente realizado por cientistas do Laboratório Cold Spring Harbor (CSHL) identificou a razão para este fenômeno – genes de morcegos.

Com a ajuda de Nancy Simmons, do Museu Americano de História Natural, os cientistas obtiveram amostras genéticas do morcego frugívoro jamaicano e do morcego bigodudo mesoamericano em Belize.

Os especialistas sequenciaram os genomas dessas espécies de morcegos e os compararam com os de outros mamíferos. A comparação mostrou que os genomas dos morcegos foram simplificados ao longo dos anos devido à evolução, produzindo capacidades defensivas naturais contra infecções e cancro.

Genes positivamente selecionados

Ao explicar as descobertas, o professor W. Richard McCombie contestou que a equipe nunca esperasse ver uma seleção tão positiva nos genomas dos morcegos.

“Não sabíamos que os genes do sistema imunológico eram selecionados de forma tão positiva nos genomas dos morcegos. Os morcegos têm uma série de coisas muito incomuns. Eles não respondem às infecções da mesma forma que nós. Em retrospectiva, não é surpreendente que esta diferença no sistema imunitário possa estar envolvida tanto no envelhecimento como na resposta ao cancro”, disse ele.

Mudanças significativas no genoma

Usando a nova tecnologia de sequenciamento Oxford Nanopore, os pesquisadores sequenciaram os genomas completos das duas espécies de morcegos de teste.

Ao compará-los com as sequências de outros 15 genomas de morcegos e mamíferos, incluindo humanos, encontraram uma mudança inexplicável nos níveis de dois genes codificadores de proteínas inflamatórias. Esses genes são chamados de interferon-alfa e interferon-ômega.

Armin Scheben, pós-doutorado e outro cientista da equipe de três pessoas, disse: “Os morcegos diminuíram o alarme do sistema imunológico ao liberar genes que produzem interferon-alfa. Isto pode ser responsável pela sua elevada tolerância viral. Previne respostas imunológicas hiperativas que prejudicam os tecidos saudáveis ​​– uma das razões pelas quais as infecções são tão prejudiciais aos seres humanos”.

Os cientistas também encontraram modificações em genes relacionados ao câncer nos genomas dos morcegos. Essas mudanças foram mais significativas do que as encontradas em outros mamíferos, incluindo seis genes responsáveis ​​pela reparação do DNA e 46 pela supressão de tumores.

“Nosso trabalho destaca como a imunidade e a resposta ao câncer estão profundamente interligadas. Os mesmos genes e proteínas imunes desempenham papéis importantes na resistência ao câncer”, disse Scheben.

Pesquisa futura

A equipe planeja desenvolver suas descobertas investigando a regulação dos genes imunológicos em morcegos e sua possível expressão em diferentes partes do corpo. Eles esperam que a sua investigação possa explicar as ligações entre o cancro, o envelhecimento e a imunidade.

“Em última análise, levaremos o trabalho o mais longe que pudermos e entregaremos o bastão aos especialistas em doenças para trabalharem no desenvolvimento de medicamentos ou outras terapêuticas”, disse o co-autor do estudo, Professor Adam Siepel.

O estudo completo está publicado na revista Biologia e Evolução do Genoma.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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