A acidificação dos oceanos é um processo que ocorre quando o dióxido de carbono (CO2) se dissolve na água do mar, diminuindo o seu pH e tornando-a mais ácida.
Este processo é impulsionado principalmente pelas crescentes emissões de CO2 provenientes de atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e a desflorestação.
Prevê-se que a acidificação dos oceanos quase triplique até ao final do século, atingindo níveis que não eram vistos há milhões de anos.
Tem efeitos profundos na vida marinha, especialmente em organismos que possuem conchas ou esqueletos de carbonato de cálcio, como corais, moluscos e alguns plânctons.
No entanto, a acidificação dos oceanos também afecta outros organismos marinhos, como as algas marinhas, que são algas que crescem nas águas costeiras e fornecem alimento e abrigo para muitas outras espécies marinhas.
Como a acidificação dos oceanos afeta as algas carnudas
As algas carnudas são um tipo de alga marinha que possui tecidos moles e flexíveis, ao contrário das algas calcificadas que possuem estruturas duras e rígidas.
São ecologicamente importantes porque formam habitats verticais que aumentam a complexidade e a diversidade dos ecossistemas costeiros.
Além disso, estas algas carnudas também são economicamente importantes porque são utilizadas para consumo humano, alimentação animal, biocombustível e produtos farmacêuticos.
Para entender como a acidificação dos oceanos afeta as algas carnudas, uma equipe de cientistas marinhos da Suécia conduziu um experimento com uma espécie comum de algas carnudas chamada Fucus vesiculosustambém conhecido como bexiga.
Eles cultivaram esta alga em água tratada com CO2 dissolvido durante 90 dias, simulando os níveis de acidificação esperados para o ano 2100.
Eles então compararam o crescimento, a fotossíntese, a composição química, a estrutura, a resistência e a sobrevivência dessa alga marinha com aquelas cultivadas em água não acidificada.
Os resultados mostraram que a acidificação dos oceanos teve efeitos mistos sobre Fucus vesiculosus.
Por um lado, as algas cultivadas em água acidificada apresentaram maiores taxas de crescimento, maior eficiência fotossintética e menor arrasto (resistência ao fluxo de água) do que as algas cultivadas em água não acidificada.
Estes efeitos podem ser benéficos para as algas marinhas em termos de produtividade e resiliência à acção das ondas.
Por outro lado, as algas cultivadas em água acidificada apresentaram menor resistência do talo (capacidade de resistir ao estresse mecânico), menor densidade do tecido (a quantidade de biomassa por unidade de volume), maior porosidade (a quantidade de espaço entre as células) e menor concentrações de cálcio e magnésio (elementos essenciais para a integridade estrutural) do que as algas cultivadas em água não acidificada.
Estes efeitos podem ser prejudiciais para as algas marinhas em termos de vulnerabilidade à quebra, desprendimento, pastoreio e infecção.
Os pesquisadores também descobriram que as algas cultivadas em água acidificada apresentavam taxas de mortalidade mais altas do que as algas cultivadas em água não acidificada.
Isto sugeriu que a acidificação dos oceanos poderia reduzir as chances de sobrevivência das algas carnudas a longo prazo.
Implicações para os ecossistemas costeiros
As conclusões deste estudo indicaram que a acidificação dos oceanos pode ter efeitos drásticos nas algas carnudas e nos ecossistemas costeiros associados.
As algas carnudas são importantes para manter a biodiversidade, a ciclagem de nutrientes, o sequestro de carbono e a proteção costeira.
Se a acidificação dos oceanos enfraquecer a sua estrutura e reduzir a sua sobrevivência, poderá levar à perda da cobertura de algas marinhas e ao declínio dos serviços ecossistémicos.
Além disso, a acidificação dos oceanos pode afectar as interacções entre algas carnudas e outros organismos marinhos.
Por exemplo, a acidificação dos oceanos poderia alterar os sinais químicos que as algas carnudas utilizam para atrair ou repelir herbívoros, predadores, parasitas ou simbiontes.
A acidificação dos oceanos também pode afectar a competição entre algas carnudas e outras algas ou plantas por luz e espaço.
Portanto, a acidificação dos oceanos representa uma séria ameaça às algas carnudas e ao seu papel nos ecossistemas costeiros.
Os investigadores sugeriram que são necessários mais estudos para compreender como a acidificação dos oceanos afecta diferentes espécies de algas carnudas e como estas podem adaptar-se às mudanças nas condições ambientais.
Recomendaram também que sejam implementadas estratégias de gestão para reduzir as emissões de CO2 e proteger as algas carnudas de outros factores de stress, como a poluição, a pesca excessiva e as espécies invasoras.
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