Um estudo revelou como incêndios florestais massivos influenciam a camada de ozônio ao introduzir grandes quantidades de aerossóis na estratosfera. Esses aerossóis desencadeiam reações químicas complexas, paradoxalmente causando tanto a depleção quanto o aumento do ozônio em diferentes camadas estratosféricas, destacando a importância da pesquisa contínua à medida que a mudança climática progride. Crédito: Naturlink.com
Pesquisas revelam que incêndios florestais podem afetar significativamente a camada de ozônio da estratosfera ao injetar aerossóis que alteram os níveis de ozônio por meio de reações complexas, ressaltando a necessidade de vigilância contínua na pesquisa sobre mudanças climáticas.
Em uma revelação que destaca o frágil equilíbrio da atmosfera do nosso planeta, cientistas da China, Alemanha e EUA descobriram uma ligação inesperada entre eventos de incêndios florestais massivos e a química da camada de ozônio. Publicado hoje (12 de julho) no periódico Avanços da Ciênciaeste estudo revela como incêndios florestais, como os catastróficos incêndios florestais australianos de 2019/20, impactam a estratosfera de maneiras nunca vistas antes.
Recuperação da Camada de Ozônio e Desafios
A camada de ozônio, um escudo crucial que protege a vida na Terra da radiação ultravioleta (UV) prejudicial, está em um caminho de recuperação graças ao Protocolo de Montreal. Este tratado internacional histórico, adotado em 1987, eliminou com sucesso a produção de inúmeras substâncias responsáveis pela destruição da camada de ozônio. Nas últimas décadas, a camada de ozônio mostrou sinais significativos de cura, um testamento à cooperação global e à política ambiental.
No entanto, a estabilidade dessa camada atmosférica vital agora está enfrentando um novo e inesperado desafio. Durante os incêndios florestais australianos de 2019/20, pesquisadores observaram um aumento dramático nos aerossóis estratosféricos – partículas minúsculas que podem influenciar o clima, a saúde e a química atmosférica.
Novas percepções da pesquisa sobre incêndios florestais
Utilizando dados avançados de satélite e modelos numéricos, a equipe de pesquisa demonstrou com sucesso o impacto dos incêndios florestais por meio de um novo fenômeno: o vórtice carregado de fumaça (SCV).
“O SCV é um poderoso redemoinho carregado de fumaça que transporta emissões de incêndios florestais para a estratosfera, atingindo altitudes de até 35 quilômetros”, explicou o Prof. Hang Su do Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências, um dos autores correspondentes do estudo. “Esse processo levou a pelo menos uma duplicação da carga de aerossóis na estratosfera média do hemisfério sul. Esses aerossóis, ao atingirem altitudes tão altas, iniciaram uma série de reações heterogêneas que impactaram as concentrações de ozônio.”
Implicações da dinâmica do ozônio induzida por incêndios florestais
A equipe internacional descobriu que esses aerossóis induzidos por incêndios florestais facilitaram reações químicas heterogêneas, o que paradoxalmente levou à redução e ao aumento do ozônio em diferentes camadas atmosféricas.
Enquanto a estratosfera inferior experimentou perda significativa de ozônio, eles descobriram que as reações químicas aumentadas em aerossóis em altitudes mais altas, ou seja, a estratosfera média, levaram ao aumento do ozônio. Nas latitudes médias do sul, essa interação complexa conseguiu amortecer aproximadamente 40% (até 70%) da depleção de ozônio observada na estratosfera inferior nos meses seguintes aos eventos de mega-incêndios florestais.
Urgência para Pesquisa Contínua
Então, por que isso importa?
“Nosso estudo demonstra um mecanismo inesperado e crucial, pelo qual os aerossóis absorventes na fumaça de incêndios florestais, como o carbono negro, podem induzir e sustentar enormes vórtices carregados de fumaça abrangendo milhares de quilômetros. Esses vórtices podem persistir por meses, carregando aerossóis profundamente na estratosfera e afetando a camada de ozônio de maneiras distintas em diferentes altitudes. Isso destaca a necessidade de vigilância e pesquisa contínuas à medida que a mudança climática progride”, disse o Prof. Yafang Cheng, outro autor correspondente do Instituto Max Planck de Química.
Direções futuras na pesquisa sobre mudanças climáticas e ozônio
O papel da camada de ozônio na filtragem da radiação UV é crucial para proteger todas as formas de vida na Terra. O sucesso do Protocolo de Montreal na redução de substâncias que destroem a camada de ozônio foi uma conquista monumental, mas as novas descobertas destacam que eventos naturais, exacerbados pelas mudanças climáticas, representam riscos adicionais para essa camada frágil. Com a frequência e intensidade crescentes de incêndios florestais causados pelo aquecimento global, a formação de SCVs e seu impacto na estratosfera podem se tornar mais comuns, ameaçando o delicado equilíbrio da camada de ozônio.
À medida que continuamos a lidar com as mudanças climáticas, entender esses processos atmosféricos recém-descobertos é vital. Este estudo abre novos caminhos para a pesquisa sobre como incêndios florestais e outros eventos climáticos podem influenciar a química estratosférica e a dinâmica do ozônio no futuro.