As baleias beluga são conhecidas por suas habilidades vocais, que usam para se comunicarem entre si e navegar pelo ambiente.
Mas em Cook Inlet, no Alasca, onde vive uma pequena e isolada população de belugas, as suas vozes estão a ser abafadas pelo ruído dos navios comerciais.
Isto pode ter consequências graves para a sua sobrevivência, como revela um novo estudo.
O repertório vocal de Cook Inlet Belugas
As baleias beluga de Cook Inlet são uma das populações de mamíferos marinhos mais ameaçadas do mundo, restando apenas cerca de 331 indivíduos.
Eles enfrentam múltiplas ameaças, como perda de habitat, poluição, caça e mudanças climáticas. Mas uma das questões mais prementes é o aumento do ruído proveniente das actividades humanas, especialmente do transporte marítimo, que é a fonte dominante de ruído subaquático na enseada.
As belugas dependem do som para muitos aspectos de suas vidas, como encontrar comida, evitar predadores e manter laços sociais.
Eles produzem uma variedade de vocalizações, como assobios, chamadas pulsadas e chamadas combinadas, que podem transmitir diferentes informações e funções.
Por exemplo, os apitos são frequentemente usados para chamadas de contato, chamadas pulsadas para ecolocalização e chamadas combinadas para comunicações complexas.
Para entender melhor como as belugas de Cook Inlet se comunicam e como o ruído dos navios as afeta, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Washington, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional e de outras instituições conduziu uma análise abrangente de seu comportamento vocal.
Eles gravaram e mediram mais de 1.600 chamados de beluga de 2016 a 2019 e os classificaram em 41 tipos de chamados com base em suas características acústicas.
Eles também compararam os tipos de canto com os de outras populações de belugas e descobriram que as belugas de Cook Inlet têm um repertório vocal distinto e diversificado, que reflete sua ecologia e história únicas.
O efeito de mascaramento do ruído do navio
Os pesquisadores também investigaram como o ruído do navio interfere na comunicação do beluga, medindo a relação sinal-ruído (SNR) das chamadas na presença de diferentes níveis de ruído do navio.
SNR é uma medida de quanto um sinal se destaca do ruído de fundo, e um SNR mais baixo significa um risco maior de mascaramento, que é a incapacidade de detectar um sinal devido ao ruído.
Os resultados mostraram que todos os sete tipos de canto mais comuns das belugas Cook Inlet foram parcialmente mascarados pelo ruído distante do navio e completamente mascarados pelo ruído próximo do navio na faixa de frequência de 0-12 kHz, que é a principal faixa de audição e vocalização da beluga. .
Isto significa que as belugas podem não ser capazes de ouvir umas às outras ou ao seu redor quando os navios estão próximos, o que pode prejudicar a sua comunicação, navegação e sobrevivência.
Os pesquisadores também descobriram que o efeito de mascaramento era mais grave para assobios do que para chamadas pulsadas, porque os assobios têm uma largura de banda de frequência mais estreita e um nível de pressão sonora mais baixo do que as chamadas pulsadas.
Isto sugere que as chamadas de contacto podem ser mais vulneráveis à interferência sonora do que as chamadas de ecolocalização, o que poderia afectar a coesão social e a coordenação dos grupos de belugas.
As implicações para a conservação
O estudo fornece informações importantes sobre o comportamento vocal e a exposição ao ruído das belugas Cook Inlet, que podem informar o manejo e a conservação desta população ameaçada.
Os pesquisadores recomendam que medidas de mitigação de ruído, como redução da velocidade dos navios, redirecionamento do tráfego de navios e implementação de tecnologia de navios silenciosos, sejam implementadas para proteger o habitat acústico e a comunicação da beluga Cook Inlet.
Eles também sugerem que são necessárias mais pesquisas para compreender como as belugas lidam com o ruído, alterando, por exemplo, a frequência, a duração ou a taxa de seu chamado, ou alterando sua distribuição ou padrões de atividade3.
Além disso, eles propõem que o monitoramento de longo prazo das vocalizações e dos níveis de ruído da beluga, bem como estudos comportamentais e fisiológicos, são essenciais para avaliar os impactos do ruído na saúde e na aptidão das belugas de Cook Inlet.
O estudo destaca a importância do som para as baleias beluga e os desafios que enfrentam num mundo barulhento.
Ao ouvir as suas vozes, podemos aprender mais sobre as suas vidas e necessidades e ajudá-los a sobreviver e prosperar no seu habitat natural.
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