Animais

As fêmeas exercem mais poder nas sociedades de primatas do que se acreditava anteriormente

Santiago Ferreira

A noção predominante de que os machos exercem mais poder e domínio do que as fêmeas nas sociedades de primatas tem sido uma suposição de longa data na comunidade científica.

No entanto, um estudo fascinante realizado por investigadores da Universidade do Texas em Austin está a desafiar esta ideia, revelando que as estruturas de poder tendenciosas para as mulheres e a igualdade social entre os sexos não só estão presentes como podem ter feito parte da história evolutiva dos primatas em todos os principais grupos. .

Estudando a dinâmica do poder feminino

Esta nova pesquisa oferece uma mudança significativa na compreensão das estruturas sociais dos primatas.

Ao analisar 79 espécies de primatas e categorizá-las em grupos dominantes masculinos, dominantes femininos ou co-dominantes, a equipe descobriu padrões que contradizem a visão tradicional da dominância masculina.

Eles descobriram que o poder tendencioso dos machos é mais provável em espécies de primatas onde os machos são maiores e têm dentes caninos mais longos do que as fêmeas.

Por outro lado, o poder feminino emerge em espécies onde há escassez de parceiras femininas para o acasalamento em comparação com a procura masculina, especialmente quando as diferenças de tamanho entre os sexos são mínimas.

A professora Rebecca Lewis, coautora do artigo e antropóloga renomada, destacou a importância dessa mudança de perspectiva.

“No passado, os primatologistas muitas vezes se concentraram no papel dos homens e no poder masculino nas sociedades de primatas. O que às vezes tem sido esquecido é o importante papel do poder feminino nas sociedades de primatas”, disse Lewis.

“O nosso trabalho sugere que formas mais económicas de poder podem realmente vir à tona em espécies de primatas nas quais os machos e as fêmeas são semelhantes em tamanho e nas quais as fêmeas são, portanto, menos facilmente coagidas pelos machos.”

Reviravoltas com crenças anteriormente mantidas

Este estudo também esclarece a semelhança das estruturas de poder feminino em várias espécies de primatas, como lêmures, gibões no Sudeste Asiático e saguis nas Américas.

Essas descobertas contestam teorias anteriores que consideravam a dominância feminina em primatas como os lêmures uma anomalia devido a fatores ambientais únicos.

Além disso, os esforços da equipa de investigação para estimar a probabilidade de poder tendencioso pelos homens em grupos ancestrais de primatas produziram resultados intrigantes.

Eles concluíram que nenhum padrão específico de poder intersexual pode ser atribuído com segurança aos ancestrais de muitos dos principais grupos de primatas.

Isto sugere que assumir o poder ancestral masculino nos primatas pode não ser justificável.

Significado das estruturas de poder feminino

O professor Chris Kirk, outro co-autor do estudo, elabora mais sobre este ponto.

“Pensou-se que os primatas eram principalmente dominantes do sexo masculino, o que sugeriria que a dominância masculina estava presente nos primatas desde o início da sua história evolutiva. Se esta suposição estiver correta, então o que precisaria ser explicado é a ocorrência de sociedades dominantes femininas e com maior igualdade entre os sexos”, explicou Kirk.

No entanto, continuou Kirk, “mostramos que esta suposição de poder ancestral preconceituoso do sexo masculino nos primatas não é necessariamente apoiada pelos dados. Na verdade, outros tipos de relações de poder intersexuais são suficientemente comuns nas sociedades primatas que não está claro qual poderia ter sido a condição ancestral. Assim, todos os tipos de poder intersexual precisam ser explicados, não apenas a presença do poder preconceituoso feminino.”

Em resumo, esta investigação desafia as antigas presunções de dominância masculina em primatas, ao mesmo tempo que avança o nosso conhecimento sobre a evolução da estrutura social em diferentes espécies.

As implicações deste estudo vão além da primatologia, oferecendo insights que poderiam remodelar a nossa compreensão dos papéis de género e da dinâmica de poder no reino animal.

O estudo completo foi publicado na revista Animais.

—–

Gostou do que leu? Assine nosso boletim informativo para artigos envolventes, conteúdo exclusivo e as atualizações mais recentes.

—–

—–

Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago