Animais

A biodiversidade florestal beneficia de grandes herbívoros como elefantes e alces

Santiago Ferreira

Um estudo intrigante que utilizou dados globais de satélite trouxe novos conhecimentos sobre o papel dos maiores herbívoros, ou megafauna, do mundo, na formação da biodiversidade das áreas protegidas.

Este estudo revela a influência significativa, embora muitas vezes esquecida, dos grandes herbívoros na variedade e distribuição da cobertura arbórea em todo o mundo. A pesquisa foi liderada por uma equipe internacional, incluindo especialistas da Universidade de Lund.

Grandes herbívoros como engenheiros de ecossistemas

As descobertas da equipe lançam luz sobre a relação entre os grandes herbívoros e as paisagens que habitam. Ao contrário da crença comum de que as florestas densas são as mais ricas em biodiversidade, o estudo de Lanhui Wang e colegas demonstra que as áreas frequentadas por espécies como elefantes, bisões e alces apresentam, na verdade, uma cobertura arbórea mais diversificada.

“Os grandes herbívoros são comumente vistos como competidores por espaço e recursos em áreas protegidas”, explica Lanhui Wang, pesquisador da Universidade de Lund. “No entanto, a nossa investigação indica que estes animais são fundamentais na criação de um mosaico de habitats que suporta uma grande variedade de outras espécies.”

Navegadores e alimentadores mistos

O estudo destaca especificamente o papel dos navegadores e alimentadores mistos na manutenção de uma cobertura arbórea variada. Estes animais, que incluem algumas das maiores espécies do planeta, contribuem para a biodiversidade através dos seus hábitos alimentares. Mais especificamente, promovem o crescimento de uma variedade de espécies de plantas diferentes.

Jens-Christian Svenning, autor sênior do estudo da Universidade de Aarhus, esclarece o alcance geográfico deste fenômeno. Svenning disse: “Nossa análise mostra que em climas não extremos, onde nem o deserto nem o gelo predominam, a presença de grandes herbívoros está fortemente associada a uma paisagem arbórea irregular, mas rica”.

Repensando a restauração do ecossistema

As conclusões tiradas deste estudo têm implicações significativas para as estratégias de conservação em todo o mundo. “O papel dos grandes herbívoros vai além de ser apenas uma faceta carismática da nossa herança natural”, afirma Wang. “São agentes ativos na formação da paisagem, influenciando tanto a estrutura física quanto a diversidade biológica dos ecossistemas.”

Esta investigação aponta para a necessidade de incorporar a megafauna nos esforços actuais e futuros de restauração de ecossistemas, que até agora têm sido subvalorizados no planeamento da gestão sustentável da terra.

Estratégias de gestão de ecossistemas

À medida que as iniciativas globais intensificam os esforços para combater as alterações climáticas e a perda de biodiversidade, o estudo defende uma discussão mais sofisticada sobre a gestão dos ecossistemas. Compreender o impacto ecológico da megafauna, nomeadamente dos grandes herbívoros, é agora visto como fundamental nestas conversas.

“Numa altura em que a preservação da biodiversidade é mais urgente do que nunca, reconhecer o papel destes grandes herbívoros na dinâmica dos ecossistemas é um passo vital na elaboração de estratégias de conservação eficazes”, afirma Wang.

Necessário: grandes herbívoros de vida selvagem

A ONU reconheceu a importância da restauração dos ecossistemas ao designar a década de 2020 como uma década dedicada a este fim. Com 115 países empenhados em restaurar uma área substancial da natureza, o estudo sublinha a necessidade de um ressurgimento de grandes herbívoros selvagens.

“A nossa análise sugere que, se quisermos cumprir as metas ambiciosas da ONU para a restauração dos ecossistemas, não podemos ignorar o papel integral desempenhado pelos grandes herbívoros”, conclui Wang.

À luz destas descobertas, a equipa de investigação internacional apela a uma mudança de paradigma na forma como vemos e gerimos as áreas protegidas. A presença de grandes herbívoros não é apenas essencial para a beleza natural e a diversidade destes ecossistemas, mas também é crucial para a sua função e resiliência face aos desafios ambientais.

O estudo completo foi publicado recentemente na prestigiada revista Uma Terra Diário.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago