Um novo estudo da Universidade Cornell revela que as vespas do papel possuem a capacidade de reconhecer rostos individuais, uma habilidade que parece melhorar a sua cooperação social e potencialmente as suas capacidades cognitivas.
A pesquisa oferece evidências comportamentais convincentes de uma ligação evolutiva entre o reconhecimento individual e a cooperação social.
Interações sociais e inteligência
O autor sênior do estudo, Professor Michael Sheehan, observou que a pesquisa investiga a relação entre interações sociais e inteligência em animais.
As descobertas são particularmente significativas, pois sugerem que a capacidade de reconhecer rostos individuais pode não ser apenas um aspecto trivial do comportamento das vespas, mas uma característica fundamental que influencia a sua dinâmica social e o desenvolvimento cognitivo.
Adaptações genômicas
Através do sequenciamento genômico, os pesquisadores descobriram que populações de vespas do papel capazes de se reconhecerem exibiram adaptações recentes em regiões cerebrais associadas a habilidades cognitivas, como aprendizagem, memória e visão.
Populações distintas de vespas
A pesquisa se concentrou em duas populações distintas de vespas do papel (Polistes fuscatus): uma da Louisiana, com aparência mais uniforme, e outra de Ítaca, com diversos padrões de cores no rosto.
“A evidência de uma forte seleção positiva recente na cognição, aprendizagem e memória é muito mais forte nas populações do norte em comparação com as populações do sul”, disse o professor Sheehan.
Diferenças comportamentais
Os experimentos indicaram uma grande diferença comportamental entre os dois grupos de vespas do papel. Ao contrário das vespas do sul, a população do norte demonstrou capacidade de reconhecer indivíduos e mostrou maior cooperação social.
Curiosamente, o estudo destaca o papel dos padrões de cores faciais nessas diferenças comportamentais. As vespas de papel do sul exibem padrões semelhantes de cor vermelha em seus rostos, enquanto as do norte apresentam padrões variados de preto e amarelo.
“À medida que avançamos para norte, descobrimos que os indivíduos se tornam mais variáveis no seu padrão de cores, de modo que, aproximadamente em torno das Carolinas, começam a tornar-se substancialmente variáveis e continuam a ser mais variáveis à medida que avançamos para norte”, disse o professor Sheehan. Na população de Ithaca, cada indivíduo era bastante distinto, disse ele.
Níveis de agressão
Durante experimentos de laboratório, os níveis de agressão foram registrados quando vespas de ambas as populações foram apresentadas a estranhos.
As vespas do norte mostraram agressividade para com estranhos, mas foram menos hostis para com as vespas que conheceram anteriormente, sugerindo reconhecimento.
Por outro lado, as vespas do sul trataram todos os indivíduos de forma semelhante, indicando uma falta de reconhecimento individual.
Coesão social
A capacidade de reconhecer indivíduos parece tornar as vespas do norte mais seletivas nas suas interações, levando a grupos sociais mais estáveis.
Por outro lado, as vespas do sul, com menor reconhecimento individual, tendem a ter interações sociais menos consistentes e coesas.
“Os indivíduos da população do sul tratam todos da mesma forma”, disse o professor Sheehan. “Eles não mostram nenhuma evidência de mudança de comportamento como resultado de conhecerem previamente aquele indivíduo em particular, o que sugere que não o estão reconhecendo.”
Implicações do estudo
Embora sejam necessárias mais pesquisas, o professor Sheehan disse que há alguma indicação de que as vespas da população do norte têm grupos de nidificação mais estáveis, enquanto as vespas do sul tinham uma alta rotatividade de membros quando ocasionalmente faziam ninhos.
Os dados sugerem que a capacidade de reconhecer indivíduos torna as vespas do norte mais selectivas e mais capazes de gerir os seus perfis sociais, enquanto as vespas do sul, de aspecto mais homogéneo, interagem de forma mais indiscriminada e têm interacções sociais menos consistentes e coesas, disse Sheehan.
O estudo foi financiado pela National Science Foundation e pelos Institutos Nacionais de Saúde. As descobertas são publicadas na revista Biologia Atual.
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