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Pesticidas perturbam o olfato e os sinais sociais das abelhas

Santiago Ferreira

É um fato bem estabelecido que as pulverizações de pesticidas representam uma ameaça significativa para as abelhas produtoras de mel. No entanto, pesquisas recentes lançaram luz sobre um aspecto menos conhecido deste perigo – o impacto de tais sprays no olfato das abelhas, com possíveis consequências nas suas interações sociais vitais.

Comunicação química em colônias de abelhas

As abelhas fazem parte de comunidades altamente dinâmicas onde a comunicação é fundamental. Eles dependem fortemente de sinais químicos, conhecidos como feromônios, para realizar funções essenciais da colônia.

As abelhas enfermeiras, encarregadas de nutrir futuras rainhas e abelhas operárias, usam esses feromônios para monitorar as larvas na escuridão da colmeia.

As larvas emitem feromônios específicos para sinalizar sua necessidade de alimento, enquanto as abelhas operárias produzem feromônios de alarme para alertar a colônia sobre o perigo. Se estes sinais químicos forem distorcidos ou não forem percebidos com precisão, a sobrevivência de toda a colónia pode estar em risco.

Inseticidas, pesticidas e abelhas

Durante anos, os cientistas estiveram cientes do declínio das populações de abelhas desde 2007, sendo os inseticidas uma grande preocupação. May Berenbaum, respeitado professor de entomologia do GEGC/IGOH, destaca uma reviravolta surpreendente nesta saga.

“Durante muitos anos, presumiu-se que os fungicidas não tinham um impacto adverso sobre os insetos porque foram concebidos para atingir alvos fúngicos”, explica Berenbaum. “Surpreendentemente, além dos inseticidas, os fungicidas também têm um efeito adverso nas abelhas e a combinação dos dois pode perturbar o funcionamento da colónia.”

O problema tem sido particularmente evidente nos pomares de amendoeiras, que acolhem anualmente dois terços das abelhas produtoras dos EUA. Aqui, as pulverizações de pesticidas geralmente incluem adjuvantes – substâncias adicionadas para aumentar a eficácia dos inseticidas.

Estes adjuvantes, embora tradicionalmente considerados inofensivos, não foram submetidos aos rigorosos testes de segurança que outros agentes insecticidas têm.

As recentes descobertas de Berenbaum são alarmantes. “Recentemente, os pesquisadores demonstraram que os adjuvantes sozinhos ou quando usados ​​em combinação com fungicidas e inseticidas são tóxicos para as abelhas”, disse Berenbaum.

Investigando o impacto dos pesticidas nas abelhas

A saúde das abelhas enfermeiras, crucial para a produção de rainhas saudáveis, é particularmente comprometida por estas combinações químicas.

Berenbaum enfatiza a gravidade desta questão, afirmando: “A saúde das rainhas é fundamental”, disse ela. “Se não forem produzidas rainhas saudáveis, a colónia pode sofrer.”

Para aprofundar, os pesquisadores realizaram um experimento utilizando o adjuvante Dyne-Amic, o fungicida Tilt e o inseticida Altacor.

Eles dividiram as abelhas em quatro grupos, expondo cada um a diferentes tratamentos envolvendo esses produtos químicos. As antenas das abelhas foram então testadas quanto à sua resposta à imitação de cria e aos feromônios de alarme, usando uma técnica conhecida como eletroantenografia.

Ling-Hsiu Liao e Wen-Yen Wu, membros do laboratório Berenbaum, descobriram que as abelhas enfermeiras que consumiam pólen contaminado por esses produtos químicos apresentavam respostas alteradas a certos feromônios.

Esta descoberta implica que os pesticidas comumente usados ​​podem interferir na comunicação das abelhas, perturbando seus sinais sociais cruciais.

Mais pesquisas são necessárias

No entanto, os mecanismos exatos por trás de como estes produtos químicos afetam as respostas sensoriais das abelhas permanecem obscuros.

“Existem muitas explicações possíveis sobre como o consumo desses produtos químicos pode afetar as respostas sensoriais das abelhas”, disse Liao. “A antena detecta e aciona a resposta aos sinais olfativos. Neste estudo não analisamos quais outras mudanças são desencadeadas, particularmente mudanças de comportamento.”

A equipe pretende investigar mais detalhadamente as vias moleculares afetadas por esses produtos químicos e testar outras misturas de pesticidas. Seu objetivo é fornecer informações que possam ajudar os apicultores a proteger melhor suas colônias.

Em resumo, este estudo é um lembrete crucial do equilíbrio intrincado e delicado dentro das colónias de abelhas e de como as práticas humanas podem inadvertidamente perturbá-lo.

À medida que continuamos a desvendar as complexidades da comunicação das abelhas e a sua susceptibilidade a produtos químicos externos, também descobrimos a necessidade urgente de reavaliar e possivelmente reformar as nossas práticas agrícolas para a preservação destes polinizadores vitais.

O estudo completo foi publicado na revista Relatórios Científicos.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago