Meio ambiente

Grupo Indígena pede à SEC que examine empresas de fracking que operam na Argentina

Santiago Ferreira

As comunidades Mapuche afetadas pela extração de gás metano na Patagônia estão instando o principal regulador de valores mobiliários dos EUA a informar os investidores sobre a situação “ambiental, social e cultural” na Argentina.

NOVA IORQUE — Numa manhã chuvosa no distrito financeiro de Manhattan, Jorge Nawel chegou ao escritório regional da Comissão de Valores Mobiliários com uma carta. Como chefe da Confederação Mapuche de Neuquén, uma organização indígena na Argentina, ele pedia à comissão que investigasse empresas que praticam fraturamento hidráulico em seu país e estão listadas nas bolsas de valores dos EUA.

A carta, escrita em espanhol, dirigida ao presidente da SEC, Gary Gensler, e revisada pelo Naturlink, fazia referência às operações de fracking em andamento na região norte da Patagônia argentina desde o início da década de 2010. A área, conhecida como Vaca Muerta, tem aproximadamente o tamanho de Maryland e abriga dezenas de comunidades Mapuche.

Nawel – acompanhado por Gonzalo Vergez, advogado da Associação Argentina de Advogados Ambientais, e Sandra Silva, diretora regional para a América Latina e Caribe da organização sem fins lucrativos Thousand Currents – entregou a carta a dois funcionários da SEC na quinta-feira.

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“Queremos deixar vocês com este documento em mãos, para chamar a atenção para o grande impacto que esta tecnologia está tendo”, disse Nawel em espanhol, com interpretação de Silva. “Esperamos que isso possa chegar às mãos dos líderes da comissão.”

A Confederação Mapuche pediu ao regulador de valores mobiliários que investigasse “urgentemente” as “consequências da exploração descontrolada” de hidrocarbonetos e produzisse um relatório publicamente disponível sobre a situação “ambiental, social e cultural” em Vaca Muerta. A carta também insta o regulador a informar os investidores sobre os riscos de investir em empresas que operam de “maneiras ambientalmente inaceitáveis”.

A legislação de valores mobiliários dos EUA centra-se em grande parte na transparência através de regras de divulgação obrigatória que exigem que as empresas forneçam aos investidores informações verdadeiras sobre as suas operações. Nos últimos anos, os defensores têm pressionado os reguladores a adoptarem regras que exijam a divulgação de riscos ambientais e de direitos humanos.

Jorge Nawel, líder da Confederação Mapuche de Neuquén, em frente ao icônico estatuto de touro de Wall Street em 26 de setembro. Crédito: Keerti Gopal/NaturlinkJorge Nawel, líder da Confederação Mapuche de Neuquén, em frente ao icônico estatuto de touro de Wall Street em 26 de setembro. Crédito: Keerti Gopal/Naturlink
Jorge Nawel, líder da Confederação Mapuche de Neuquén, em frente ao icônico estatuto de touro de Wall Street em 26 de setembro. Crédito: Keerti Gopal/Naturlink

A carta da organização Mapuche alega que empresas listadas nos EUA operam em Vaca Muerta com pouca supervisão. As empresas estão a libertar gás metano “sem controlo estatal” e não têm sido transparentes sobre a quantidade de gás que é queimado no campo através de flares, alega a carta. Os vapores, contendo benzeno e outras substâncias tóxicas, podem prejudicar a saúde humana, diz a carta.

O fracking em Vaca Muerta induziu mais de 500 terremotos e grandes volumes de resíduos, representando uma ameaça às pessoas e ao meio ambiente, alega a carta.

“Nossa cultura está ameaçada, nossos territórios invadidos e contaminados, nossa flora e fauna estão envenenadas, nosso ar está afetado por produtos químicos e nosso solo treme ao mesmo tempo que a exploração descontrolada”, diz a carta.

A carta, assinada por Nawel, afirma que metade das empresas petrolíferas que operam em Vaca Muerta são reguladas pela SEC. A carta não menciona empresas individuais.

A SEC não respondeu a um pedido de comentário.

Povos indígenas Mapuche protestam contra a extração de petróleo e gás no local de perfuração de Loma Campagna em Vaca Muerta, Argentina, em 2 de abril de 2023. Crédito: Katie Surma/NaturlinkPovos indígenas Mapuche protestam contra a extração de petróleo e gás no local de perfuração de Loma Campagna em Vaca Muerta, Argentina, em 2 de abril de 2023. Crédito: Katie Surma/Naturlink
Povos indígenas Mapuche protestam contra a extração de petróleo e gás no local de perfuração de Loma Campagna em Vaca Muerta, Argentina, em 2 de abril de 2023. Crédito: Katie Surma/Naturlink

Em Vaca Muerta, os direitos do povo Mapuche são violados, os defensores da terra Mapuche são criminalizados e há um duplo padrão mantido pelas empresas petrolíferas que aderem às melhores práticas ambientais nos seus países de origem, ao mesmo tempo que poluem “impiedosamente” quando operam no estrangeiro, alega a carta.

Nas últimas décadas, o Supremo Tribunal tornou cada vez mais difícil para os cidadãos não americanos apresentarem queixas nos tribunais dos EUA por alegadas violações dos direitos humanos. Em Março, a SEC adoptou regras de divulgação dos riscos das alterações climáticas, mas essas regras estão suspensas enquanto se aguarda uma série de contestações legais apresentadas pelas empresas.

A SEC não possui regras vinculativas para divulgações de riscos sobre direitos humanos. Os Princípios Orientadores não vinculativos das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos recomendam que as empresas emitam voluntariamente relatórios formais divulgando estes riscos e explicando como estão a ser abordados. Mas as empresas raramente o fazem.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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