Meio ambiente

Decifrando segredos vulcânicos: um novo método inovador para prever erupções

Santiago Ferreira

Os cientistas desenvolveram um método para obter rapidamente informações valiosas sobre o risco de erupção de um vulcão, analisando três parâmetros principais: a altura do vulcão, a espessura da camada rochosa que separa o reservatório do vulcão da superfície e a composição química média do vulcão. magma. Este método abre novas perspectivas para identificar e monitorar vulcões ativos que apresentam maior risco, sem a necessidade de grandes recursos técnicos e financeiros.

Uma equipa da UNIGE identificou três parâmetros facilmente mensuráveis ​​que oferecem informações sobre as características estruturais dos vulcões, marcando o progresso na área da avaliação de riscos e medidas preventivas.

Qual é o risco de um vulcão entrar em erupção? Para avaliar a probabilidade de uma erupção vulcânica, os pesquisadores precisam de informações sobre a arquitetura interna do vulcão. No entanto, a aquisição destes dados essenciais pode ser uma tarefa a longo prazo, envolvendo anos de estudos de campo, análises e monitorização contínua. É por isso que apenas uma fração – aproximadamente 30% – dos vulcões ativos está atualmente bem documentada.

Uma equipe da Universidade de Genebra (UNIGE) desenvolveu um método para obter rapidamente informações valiosas. A sua abordagem centra-se em três variáveis ​​principais: a elevação do vulcão, a profundidade da camada rochosa que separa a câmara magmática da superfície e a composição química média do magma. Publicado na revista Geologiaestas descobertas oferecem novos caminhos para identificar vulcões que representam os riscos mais significativos.

A Terra abriga cerca de 1.500 vulcões ativos, mas só temos dados precisos para 30% deles. Isso se deve à dificuldade de observação do seu “combustível”, o famoso magma, rico em informações. Esta rocha derretida é gerada pela primeira vez a uma profundidade entre 60 km e 150 km no manto terrestre, enquanto os furos humanos mais profundos geralmente atingem apenas uma profundidade de cerca de dez quilómetros (6,2 milhas), impedindo a observação direta. A taxa de produção de magma na crosta profunda da Terra abaixo de um vulcão determina o tamanho e a frequência de futuras erupções.

Monte Liamuiga no estado insular de São Cristóvão e Nevis

Monte Liamuiga, no estado insular de São Cristóvão e Nevis. É um dos principais vulcões estudados por Luca Caricchi e sua equipe. Crédito: Oliver Higgins

Esta falta de dados é um perigo, uma vez que mais de 800 milhões de pessoas vivem perto de vulcões activos. Portanto, em muitas regiões, não existe uma base para avaliar o risco que um determinado vulcão representa e a extensão das medidas de protecção a tomar – o perímetro de evacuação, por exemplo – no caso de uma suspeita de erupção.

Três parâmetros principais

Métodos de análise geoquímica e geofísica são regularmente usados ​​por cientistas para monitorar vulcões, mas pode levar décadas para obter uma compreensão profunda de como funciona um vulcão específico. Graças ao trabalho recente da equipe de Luca Caricchi, professor titular do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências da UNIGE, agora é possível obter informações valiosas com mais rapidez.

Este método utiliza três parâmetros fáceis de medir: a altura do vulcão, a espessura das rochas que separam o “reservatório” do vulcão da superfície e a composição química do magma libertado ao longo da sua história eruptiva. A primeira pode ser determinada por satélite, a segunda por análises geofísicas e/ou químicas de minerais (cristais) nas rochas vulcânicas e a terceira por amostragem direta em campo.

Um instantâneo”

Ao analisar os dados existentes sobre o arco vulcânico das Pequenas Antilhas, um arquipélago de ilhas vulcânicas bem estudado, a equipa da UNIGE destacou uma correlação entre a altura dos vulcões e a taxa a que o magma é produzido. “Os vulcões mais altos produzem, em média, as maiores erupções durante a sua vida. Ou seja, podem eclodir uma quantidade maior de magma em um único evento”, explica Oliver Higgins, ex-aluno de doutorado do grupo de Luca Caricchi e primeiro autor do estudo.

Os cientistas também descobriram que quanto mais fina a crosta terrestre abaixo do vulcão, mais próximo o seu reservatório de magma está da superfície e mais maduro termicamente é o vulcão. “Quando o magma sobe das profundezas, ele tende a esfriar e solidificar, o que interrompe sua ascensão. Mas quando a oferta de magma é grande, o magma mantém a sua temperatura, acumula-se no reservatório que alimentará uma futura erupção e ‘corroe’ a crosta terrestre”, explica Luca Caricchi, o segundo e último autor do estudo.

Identificando os vulcões em maior risco

Por fim, os investigadores observaram que a composição química média do magma que já entrou em erupção é um indicador da sua explosividade. “Altos níveis de sílica, por exemplo, indicam que o vulcão é alimentado por grandes quantidades de magma. Nesse caso, há um risco maior de uma erupção grande e explosiva daquele vulcão”, explica o pesquisador.

Juntos, os três parâmetros identificados pela equipa da UNIGE produzem um “instantâneo” da estrutura interna de um vulcão. Permitem uma avaliação inicial do perigo associado a vulcões pouco estudados, sem a necessidade de grandes recursos técnicos e financeiros. Este método pode ser usado para identificar os vulcões ativos com maior probabilidade de produzir uma erupção em grande escala e que requerem maior vigilância.

Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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