Meio ambiente

A Morte da Floresta Negra: Impactos das Mudanças Climáticas no Crescimento e na Sobrevivência das Árvores

Santiago Ferreira

Um estudo de longo prazo realizado por cientistas florestais da Universidade de Freiburg revelou como as alterações climáticas afetam o crescimento e a sobrevivência das árvores na Floresta Negra, uma região montanhosa no sudoeste da Alemanha.

O estudo, publicado na revista Global Change Biology, utiliza uma série temporal consistente de 68 anos (1953 a 2020) para analisar a mortalidade anual de todas as árvores numa área de quase 250 mil hectares de florestas públicas na Floresta Negra.

Os pesquisadores compararam esses dados com outra série temporal de 140 anos (1881-2020) sobre o balanço hídrico climático, que é a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração potencial.

As alterações climáticas reduzem o equilíbrio hídrico climático e aumentam a mortalidade das árvores

O estudo constatou que os impactos climáticos, como verões quentes e secos, reduzem o crescimento e aumentam a mortalidade das árvores na Floresta Negra porque influenciam negativamente o balanço hídrico climático.

O balanço hídrico climático mostra uma tendência decrescente contínua ao longo dos últimos 140 anos, indicando que a região está a tornar-se mais seca e mais quente.

Isto afecta os processos fisiológicos das árvores, tais como a fotossíntese e a respiração, e torna-as mais vulneráveis ​​a factores de stress bióticos e abióticos, incluindo, entre outros, infestações por insectos ou fungos, deposição atmosférica, geadas ou secas.

O estudo revelou também que a mortalidade das árvores atingiu o pico em 2019, atingindo mais de sete vezes a taxa média de mortalidade no período de 1953 a 2017.

Os pesquisadores atribuíram isso aos verões extremamente secos dos últimos anos, que aumentaram a suscetibilidade das árvores aos ataques dos besouros.

As espécies de árvores mais afetadas foram abetos, faias e abetos, que são dominantes na Floresta Negra.

O estudo estimou que 40% do crescimento anual sustentável desapareceu em 2019, em comparação com um máximo de 12% durante a extinção da floresta no final do século passado.

O crescimento sustentável descreve a soma do crescimento médio anual da madeira que é utilizado como base para o cálculo da colheita anual permitida de madeira sustentável.

As mudanças climáticas alteram a periodicidade dos períodos frio-úmido e quente-seco

Outra descoberta interessante do estudo foi que houve certa regularidade na ocorrência de períodos frio-úmido e quente-seco que se repetiam no passado a cada 14 anos.

No entanto, esta periodicidade foi perturbada pelas alterações climáticas, uma vez que os períodos frios e húmidos estão a tornar-se mais fracos, enquanto os períodos quentes e secos estão a tornar-se mais severos.

Isto significa que as árvores têm menos tempo para recuperar do stress hídrico e estão expostas a ondas de calor mais frequentes e intensas.

Os investigadores concluíram que as alterações climáticas são um dos principais impulsionadores da mortalidade das árvores e da redução do crescimento das árvores na Floresta Negra e que esta tendência deverá continuar no futuro.

Sugeriram que são necessárias estratégias adaptativas de gestão florestal para enfrentar estes desafios e manter as funções ecológicas e económicas das florestas.

Enfatizaram também a importância da monitorização e da investigação a longo prazo para compreender melhor os impactos das alterações climáticas nos ecossistemas florestais.

Estratégias adaptativas de manejo florestal para a Floresta Negra

A gestão florestal adaptativa (AFM) é um conceito que visa preservar e desenvolver a funcionalidade de florestas específicas como um pré-requisito para satisfazer a necessidade futura de serviços ecossistémicos florestais sob condições ambientais e sociais em mudança.

A AFM envolve um ciclo contínuo de planeamento, implementação, monitorização e avaliação, que permite aos gestores florestais aprender com as suas experiências e fazer ajustes nas práticas de gestão conforme necessário6.

Alguns exemplos de estratégias de AFM para aumentar a resiliência das florestas na Floresta Negra são:

  • Aumentar a diversidade de espécies através da promoção de árvores nativas de folhas largas, como carvalho, bordo, freixo ou carpa, que são mais tolerantes à seca e às pragas do que as coníferas.
  • Reduzir a densidade do povoamento através do desbaste ou colheita de árvores para melhorar a disponibilidade de água e reduzir a competição entre as árvores.
  • Implementação de tratamentos silviculturais, como poda ou fertilização, para melhorar o vigor das árvores e a resistência aos fatores de estresse.
  • Estabelecer zonas de protecção ou faixas tampão ao longo de riachos ou zonas húmidas para conservar a humidade do solo e a biodiversidade.
  • Aplicar regimes de colheita adaptativos que considerem a variabilidade climática e factores de risco, como incêndios ou derrubadas pelo vento.

Estas estratégias requerem um planeamento e monitorização cuidadosos, baseados no conhecimento científico e na experiência local.

Também precisam de equilibrar múltiplos objectivos, como a produção de madeira, o sequestro de carbono, a conservação da biodiversidade, a recreação e a protecção contra riscos naturais.

Portanto, a AFM requer a colaboração entre diferentes partes interessadas, tais como proprietários florestais, gestores, investigadores, decisores políticos e sociedade civil.

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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