À medida que as populações de aves continuam a diminuir em todo o mundo, surge uma nova preocupação: o impacto das instalações de energia renovável.
Cientistas da Universidade da Flórida analisaram penas de aves mortas para esclarecer esta questão urgente.
Consequência não intencional
“A mortalidade de aves tornou-se uma consequência não intencional do desenvolvimento de energias renováveis”, disse a professora Hannah Vander Zanden.
“Se quisermos minimizar ou mesmo compensar estas fatalidades, especialmente para as populações vulneráveis, precisamos de identificar a origem geográfica das aves afetadas. Em outras palavras, as aves mortas são locais ou vêm de outras partes da América do Norte?”
Instalações de energia renovável e mortes de aves
As instalações de energia renovável, embora amigas do ambiente, representam um risco significativo para as aves. Turbinas eólicas, painéis solares e usinas de energia solar concentrada têm sido associadas a mortes de pássaros.
Os pássaros frequentemente colidem com turbinas eólicas, confundem painéis solares com corpos d’água ou são chamuscados por usinas de energia solar.
Embora estas mortes sejam menos comuns do que as mortes causadas por gatos domésticos ou colisões em edifícios, a necessidade de resolver esta questão é premente, segundo os investigadores.
Foco da pesquisa
O professor Vander Zanden e sua equipe analisaram dados de isótopos de hidrogênio estáveis das penas de 871 aves individuais de 24 espécies encontradas mortas nas instalações de energia solar e eólica da Califórnia.
Esta análise, baseada nos marcadores naturais das penas ligados à água consumida pelas aves, permitiu aos investigadores traçar a origem geográfica das aves.
“Com esses marcadores, poderíamos determinar se a ave era local ou se estava migrando de algum outro lugar”, explicou Vander Zanden, pesquisador principal do Laboratório de Migração e Ecologia Animal da UF.
Insights críticos
O estudo revelou que as aves mortas nestas instalações provinham de uma vasta área geográfica em todo o continente, estando representadas aves locais e não locais.
Nas instalações solares, a maioria das aves mortas não eram locais, com um pico de fatalidades durante os períodos migratórios em Abril e de Setembro a Outubro.
A percentagem de aves migratórias encontradas em instalações eólicas quase correspondeu à das aves locais, em 51%, observou Vander Zanden.
“Este tipo de dados pode ajudar a informar-nos sobre as melhores estratégias a utilizar para minimizar ou mitigar as fatalidades. Por exemplo, a gestão das instalações poderia trabalhar com conservacionistas para melhorar o habitat local para ajudar a proteger as aves locais ou melhorar outras partes da área de distribuição da espécie onde as aves migratórias se originam.”
Implicações do estudo
O estudo não só destaca os desafios que a energia renovável representa para as populações de aves, mas também sublinha o valor dos dados de isótopos estáveis na compreensão e previsão de tendências futuras nas populações de aves.
Este método não invasivo de estudo de restos de animais fornece informações cruciais para os esforços de conservação.
“Estudar os restos mortais de animais é uma abordagem não invasiva para obter informações que, de outra forma, seriam difíceis de rastrear e aplicar à conservação”, disse o professor Vander Zanden. “É uma ótima maneira de entender os mistérios sobre os animais.”
Mais sobre o declínio das populações de aves
O declínio das populações de aves em todo o mundo é uma questão ambiental cada vez mais urgente. Vários factores contribuem para este declínio, incluindo a perda de habitat, as alterações climáticas, a poluição e as actividades humanas.
Perda de habitat
A causa mais significativa do declínio da população de aves é a perda e fragmentação do habitat. O desenvolvimento urbano, a agricultura, a desflorestação e outras alterações no uso do solo eliminam diretamente os habitats naturais de que as aves necessitam para sobreviver e reproduzir-se.
Das Alterações Climáticas
As mudanças nos padrões climáticos afetam a migração das aves, a reprodução e a disponibilidade de alimentos. As mudanças na temperatura e nos padrões climáticos podem perturbar o delicado equilíbrio dos ecossistemas, dificultando a adaptação rápida das aves.
Poluição
Pesticidas, metais pesados e poluição plástica prejudicam as aves direta e indiretamente. Os pesticidas podem ser tóxicos e as aves muitas vezes ingerem plásticos ou ficam enredadas neles. Além disso, os derrames de petróleo e outros contaminantes afectam gravemente as populações de aves, particularmente em ambientes costeiros e marinhos.
Atividades humanas
Turbinas eólicas, edifícios altos e outras estruturas representam ameaças significativas às aves, principalmente através de colisões. Além disso, os gatos domésticos são conhecidos por serem predadores significativos de aves em muitas regiões.
Doenças
As doenças emergentes podem dizimar rapidamente as populações de aves. Por exemplo, a malária aviária e o vírus do Nilo Ocidental tiveram impactos significativos em algumas espécies de aves.
Espécies invasivas
A introdução de espécies não nativas pode perturbar os ecossistemas locais. Estas espécies invasoras muitas vezes competem com aves nativas por alimento e locais de nidificação ou podem até mesmo atacá-las.
O estudo está publicado na revista Biologia de conservação.
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